A Arte Xávega é uma forma de pesca tradicional, que usa o cerco e o arrasto dos peixes com uma rede. Esta rede é lançada em alto mar, entra 2 a 4 km da costa. A rede em si tem duas mangas, o saco onde fica o peixe e dois cabos, que ajudam a prender as mangas. Trata-se de uma das mais antigas tradições de pesca em Portugal.
Um dos cabos fica fixo a um trator, que se encontra na praia, e o outro vai no barco. Após os pescadores darem a volta ao cardume, o barco regressa à costa, colocando-se a manga que estava no barco num segundo trator.
Os dois tratores começam então a puxar a rede lentamente, em direção à costa, recolhendo assim os peixes. Antigamente, este trabalho era feito por juntas de bois ou peça força do homem, sendo que por vezes eram necessárias até 12 juntas de bois para fazer o trabalho, ou então de 40 a 80 pessoas a puxar à rede.
Assim que o peixe chega à costa, é separado consoante o seu tamanho e tipo, sendo colocado em pequenos lotes para depois serem leiloados na lota e vendidos pelas vareiras. Também pode comprar o peixe diretamente aos pescadores.
Não se sabe bem quando se começou a praticar este tipo de pesca, embora se pense que esta se tenha expandido da Andaluzia para o Algarve, e de seguida para toda a costa do litoral português. Há, no entanto, diferenças entre a Arte Xávega do Algarve e do Centro de Portugal.
Por exemplo, os barcos usados no Centro têm a proa mais elevada que a popa, para enfrentar o mar mais agitado. No Algarve, como o mar é mais calmo, os barcos são mais retos, com o arrasto a poder ser feito muitas vezes com o próprio barco.
Deve-se ter em conta que a Arte Xávega não pode ser praticada em qualquer tipo de costa, apenas nas praias de fundo marinho arenoso e que permitam manobras. Assim, esta forma de pesca é mais tradicional entre Espinho e Sesimbra, e no Algarve.
Hoje, a Arte Xávega encontra-se em desuso, pelas dificuldades financeiras e por ser uma profissão de risco que não tem grande adesão por parte dos jovens. Mesmo assim, ainda podemos apreciar esta forma de pesca em locais como Espinho. Torreira, Vagos, Lagos, Vieira de Leiria, Praia de Mira, Fonte da Telha e Sesimbra.
Em alguns locais, começou-se a fazer uma recriação da Arte Xávega, como é o caso da Nazaré, onde esta demonstração ocorre em todos os sábados de maio e junho. Existem ainda municípios a promover a Arte Xávega como Património Imaterial, como é o caso da Fonte da Telha e da Costa da Caparica.
Esta é uma pesca sazonal e que depende imenso das condições do mar, até porque os barcos saídos da praia têm de enfrentar o arrebatamento das ondas para conseguirem levar a missão a bom porto, o que se pode revelar complicado, mesmo no verão.
Este tipo de pesca está igualmente condicionado pelo ecossistema e pelos peixes existentes, sendo essa a razão pela qual a Arte Xávega é feita de março a novembro, altura em que as espécies migradoras como a sardinha passam pela nossa costa.
Os peixes mais comercializados capturados através da Arte Xávega são o carapau, a cavala, a sardinha, o biqueirão e a lula-vulgar, com as ocasionais raias, cação e douradas.
Apesar de a Arte Xávega ser uma pesca legalizada e controlada, existem ainda alguns problemas a ela associados, como a pouca seletividade da pesca. Afinal, quando os pescadores puxam a rede, não sabem o que vão apanhar, o que muitas vezes significa que vão capturar peixes abaixo do tamanho permitido por lei. Este peixe não pode ser comercializado e é muitas vezes devolvido ao mar, apesar de o peixe em si já estar morto.
Apesar de ser uma tradição do nosso país, a Arte Xávega é cada vez mais um vestígio do passado, até porque existe um menor número de embarcações e pescadores a realizarem esta forma de pesca. Portanto, não pode perder a oportunidade de ver como se pratica a Arte Xávega com os seus próprios olhos.