Apesar de algo macabras, as capelas de ossos e ossários são bastante comuns na Europa, existindo há centenas de anos (as mais antigas remontam ao séc. VI a.C.). Como antigamente os cemitérios eram mais pequenos que os de hoje, era prática comum fazer-se a exumação de corpos, alguns anos depois do enterro, para que o espaço pudesse ser usado por outra pessoa. E também existem algumas capelas dos ossos em Portugal.
Os ossos eram colocados em áreas próximas do cemitério ou da igreja, mas, ao longo do tempo, foi-se criando a prática de colocar ossos e crânios em exposição. A ideia era transmitir que a vida não termina na Terra, mas que continua no paraíso prometido na Bíblia. O resultado é algo macabro mas não há dúvidas que convida à contemplação e à meditação. Se cria a ideia nas pessoas que a vida não acaba na Terra, isso já é outro assunto.
Em Portugal, a capela de ossos mais conhecida está em Évora. mas existem mais exemplares do tipo, que agora lhe damos a conhecer. Não são tão famosas como a de Évora (aliás, grande parte dos portugueses nem sequer sabe da sua existência) mas merecem uma visita. Se tiver coragem, claro… Descubra algumas das mais interessantes capelas dos ossos em Portugal.
1. Capela dos Ossos de Évora
Na cidade de Évora, na Igreja de São Francisco, pode encontrar aquela que é a mais conhecida capela do género em Portugal. Foi construída no séc. XVII por iniciativa de 3 monges franciscanos, que queriam provocar reflexão sobre a transitoriedade da vida. No total, existem aqui mais de cinco mil ossos e crânios, ao longo do teto, colunas, paredes e até no exterior, todos provenientes dos cemitérios da cidade. Pode também encontrar dois esqueletos inteiros pendurados, sendo um deles o de uma criança.
A capela tem igualmente muitos exemplares de arte barroca, como os frescos no teto abobadado, datados de 1810, com cenas bíblicas e símbolos cristãos. Na entrada, existe também um painel de azulejos, com autoria de Siza Vieira, que aborda o milagre da vida, em contraposição com o tema da morte.
2. Capela dos Ossos de Alcantarilha
Em Alcantarilha, Silves, encontra esta capela única, anexada ao lado sul da Igreja Paroquial de Nossa Senhora da Conceição, construída no séc. XVI. O interior da capela está praticamente todo revestido com mais de 1500 ossadas humanas, com destaque para os crânios à volta do centro do altar, com a imagem de Jesus crucificado a contrastar com a envolvente.
Segundo um mito, as ossadas da capela seriam de frades Jesuítas que por aqui existiram, mas não há provas concretas da veracidade do mito.
3. Capela dos Ossos de Faro
Junto ao exterior da Igreja de Nossa Senhora do Carmo de Faro, encontra-se esta capela, que atrai as atenções. O solo do espaço está repleto de sepulturas, já que o local foi em tempos cemitério, e ao entrar na capela, deparamo-nos com mais de mil ossadas humanas, com destaque para crânios e tíbias, cuja disposição culmina no altar. Diz-se que estas ossadas pertenciam aos antigos monges carmelitas, que assim pretendiam relembrar o povo da efemeridade da vida.
Quanto à Igreja em si, recomendamos igualmente a visita, já que esta é uma majestosa construção barroca, com decoração interior a ouro vindo do Brasil. A construção, ordenada pela Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo, terminou em 1719, no reinado de D. João V.
4. Capela dos Ossos de Lagos
Esta capela está anexada à Igreja de São Sebastião, perfeito exemplar do estilo barroco que foi construído no séc. XV, e que se divide em três naves separadas por arcos de volta perfeita. Numa das laterais, pode encontrar a capela dos ossos, que é pequena, mas muito interessante de uma perspetiva arquitetónica.
As ossadas preenchem o teto curvo e de dupla arcada, que assenta sobre colunas retangulares. Podem-se encontrar mais ossadas nas paredes à volta dos pilares, especialmente crânios. O altar chama a atenção pelo retábulo em barroco joanino, com uma tela pintada ao centro que representa motivos religiosos.
5. Capela dos Ossos de Campo Maior
Esta é a segunda maior capela de ossos do país, suplantada apenas pela de Évora. Encontra-se anexada à Igreja Matriz de Campo Maior, e está diretamente relacionada com uma tragédia.
A capela foi construída em 1766, após a cidadela ter sido destruída, por causa de uma explosão num paiol de pólvora, que matou mais de dois terços da população, em 1732. O interior está revestido com as ossadas das vítimas dessa tragédia, embora o pavimento seja já do séc. XX. Nas laterais, estão expostos dois esqueletos completos. A arquitetura do local é tipicamente barroca.
6. Capela dos Ossos de Monforte
Esta é a mais pequena capela de ossos portuguesa, estando anexada à Igreja Matriz de Monforte (construída no séc. XVIII). O local tem apenas quatro metros quadrados, mas está repleto de crânios, intercalados por ossadas.
Ao centro, existe um altar convencional, decorado com imagens católicas. Acima da porta de acesso ao espaço, encontra-se um crânio humano, sobreposto a dois ossos.
Todas no Alentejo e no Algarve. Poderia ser o mote para um estudo de História da cultura e das mentalidades.