A língua portuguesa, tal como a conhecemos hoje, resulta da influência de várias culturas e povos que passaram pela Península Ibérica ao longo da história. Entre essas influências, uma das mais marcantes foi a dos árabes, que dominaram grande parte da região durante quase 800 anos, entre os séculos VIII e XV.
Este longo período deixou uma herança profunda na língua, sobretudo no vocabulário, mas também em outras áreas da cultura portuguesa.
Os mouros, como eram chamados os muçulmanos do norte de África que invadiram a Península Ibérica em 711, trouxeram a sua língua, o árabe, que rapidamente se misturou com o latim vulgar falado pelas populações locais.
Durante o período de dominação muçulmana, o árabe tornou-se a língua principal da administração, do comércio, da ciência e da cultura.
Mesmo após a Reconquista Cristã, que culminou com a expulsão dos mouros de Portugal em 1249, muitas palavras de origem árabe permaneceram na língua portuguesa.
Como a maioria dessas palavras foi absorvida durante a Idade Média, estão principalmente relacionadas com a agricultura, o comércio, a arquitetura e a vida quotidiana.
Estima-se que mais de 1000 palavras do português tenham origem árabe. Muitas delas começam com “al-“, um prefixo que significa “o” em árabe e que foi incorporado em diversos termos portugueses. Exemplos bem conhecidos incluem:
- Almofada (de “al-mikhaddah”)
- Aldeia (de “al-daya”)
- Alface (de “al-khass”)
- Almendra (de “al-maḍmunah”, referindo-se à amêndoa)
- Azeite (de “az-zayt”, que significa óleo)
Além desses exemplos, palavras relacionadas com a ciência e a matemática, como algarismo (de “al-khwarizmi”, nome de um matemático persa), também vieram do árabe.
O mesmo acontece com muitos termos ligados à navegação, que foi uma área de grande desenvolvimento na cultura árabe e que teve impacto direto na Era dos Descobrimentos portugueses.
Outra marca importante da presença árabe em Portugal encontra-se na toponímia, ou seja, nos nomes de locais. Muitas cidades e vilas mantêm nomes de origem árabe, como Albufeira, Almada, Alcácer do Sal e Algarve (que vem de “al-Gharb”, significando “o oeste”).
A influência árabe está também presente na arquitetura portuguesa, principalmente nos azulejos decorativos, que são uma tradição herdada da cultura islâmica. Os pátios internos, os arcos em ferradura e os elementos geométricos típicos da arte árabe são visíveis em muitos edifícios históricos de Portugal.
Para além do vocabulário, o contacto entre o árabe e o português influenciou expressões e formas de falar. Algumas interjeições e modos de expressão têm origem árabe, embora muitas vezes não nos apercebamos disso no dia a dia.
Embora o árabe tenha deixado de ser falado em Portugal há muitos séculos, a sua influência continua presente na língua portuguesa. O legado árabe é um testemunho da riqueza cultural da Península Ibérica e da fusão de diferentes civilizações ao longo da história.
Cada vez que usamos palavras como “almofada” ou “azeite”, estamos, sem saber, a recordar um período importante da nossa história coletiva.