Ao chegarmos à aldeia de Bordeira, no concelho de Aljezur, duas coisas nos saltam à vista. Uma delas é o canteiro cheio de flores, que separa a rua dos pequenos retângulos cultivados. A outra é a igreja, com a sua pequena torre sineira e uma fachada sem a habitual simetria.
Outro grande destaque desta igreja é a brancura da cal, os elementos em cantaria e os trabalhos em argamassa. O templo foi construído no século XV e tem elementos do estilo manuelino, apesar de a maioria do edifício datar do século XVIII.
Um passeio por esta belíssima povoação enche-nos de tranquilidade. Recomendamos que percorra as ruas até ao largo central e que descanse à sombra das árvores ou no café, num ambiente de grande hospitalidade.
A Bordeira é, no entanto, mais conhecida pela praia, que, apesar de ter o seu nome, dista da aldeia cerca de quatro quilómetros em linha reta. A sua proximidade à Costa Vicentina levou a que a economia local deixasse de estar dependente da agricultura e da pecuária e se voltasse mais para o turismo.
A cerca de cinco quilómetros, encontramos a aldeia da Carrapateira, que se encontra em frente à praia “da Bordeira”. Na região, é o mar e o surf quem mais ordena e comanda a vida, embora sem nunca esquecer o passado.
No topo da encosta, encontramos o forte, local de observação do mar e que ajudava a proteger a região de piratas. Já no interior das muralhas, podemos destacar a pequena igreja, com dois pórticos manuelinos, e o seu sino, com a curiosa inscrição WAIMATE (talvez vindo de um navio naufragado).
Mas este não terá sido o único navio a naufragar ali. Em 1555, a nau espanhola La Condesa, vinda de Porto Rico e carregada de prata, terminou a sua viagem naquelas águas. Em 1999, quatro séculos depois, o mergulhador Vítor Cruz detetou 50 canhões de bronze afundados em frente à Carrapateira.
O local foi também investigado já no século XXI, pelo arqueólogo Jean-Yves Blot. No entanto, a força das correntes e a profundidade das águas impedem a retirada do navio. Tudo o que resta deste é, então, uma evocação do episódio, no Museu do Mar e da Terra (e que merece uma visita).
Mas nem só de vestígios marítimos vive este território. Podemos encontrar vestígios do tempo em que a povoação se dedicava ao cuidado da terra, no inverno, e à apanha do marisco, no verão, no sítio arqueológico do povoado sazonal islâmico de pescadores (século XII), perto do portinho do Forno.
O local foi escavado pela arqueóloga Rosa Varela Gomes. Ali perto, podemos encontrar o quase desativado portinho da Zimbreirinha, um abrigo para embarcações que é uma frágil plataforma de madeira construída na arriba.
Na freguesia, subsiste, no entanto, uma atividade marinha: a apanha do percebe. Por vezes, podemos ver estes homens, verdadeiros guerreiros do mar, que descem as falésias presos a cordas, que saltam de rocha e rocha e que afrontam as ondas, naquilo que é uma metáfora perfeita para a própria aldeia da Bordeira: um local entre a terra e o mar.
Não muito longe de Bordeira, é possível visitar outra aldeia típica do Algarve. Falamos de Pedralva, em Vila do Bispo. Esta aldeia, que estava completamente abandonada, foi recuperada e hoje qualquer pessoa pode ficar alojada numa das suas casas tipicamente algarvias. A reconstrução foi feita cuidadosamente e visitá-la é fazer uma autêntica viagem no tempo.
E no final da sua visita à aldeia de Bordeira, não vá embora sem antes comprar uma pequena lembrança ou um produto regional. Além de ajudar o comércio local, irá também contribuir para que os seus habitantes possam continuar a viver aqui e a recebê-lo sempre de braços abertos.