Encontra-se às portas do Parque Nacional da Peneda-Gerês e é um local que nos mostra que a resiliência humana não tem limites. A Branda da Aveleira foi usada durante séculos como residência temporária, mas este pequeno aglomerado de casas esteve quase a desaparecer no século passado. No entanto, a localidade não só resistiu, como renasceu das cinzas e espera agora pela sua visita.
Para melhor compreendermos a história da Branda da Aveleira, em Melgaço, precisamos primeiro de perceber o que é uma branda. As brandas eram sítios localizados em altitudes elevadas, que se encontravam espalhados um pouco por todo o Parque Nacional, e era para aqui que os pastores traziam o gado nos meses mais quentes da primavera e verão.
Para trás, ficavam as inverneiras, que estavam a altitudes mais baixas, onde a população vivia nos meses mais frios. O motivo desta mudança constante é fácil de explicar: consoante a época do ano, vivia-se num local que dava melhores condições.
Portanto, durante o frio do inverno, a população encontrava-se abrigada a baixas altitudes, onde o clima era menos extremo e onde se podia cultivar alguns legumes. Por sua vez, no verão, os pastores levavam o gado para as zonas mais altas, onde havia bons pastos, e assim podiam libertar os campos das inverneiras para as plantações agrícolas.
Este fenómeno chama-se transumância e foi praticado durante séculos pela população do Parque Nacional, com as duras condições da região a ditarem essas mudanças aos seus habitantes que, munidos de sabedoria popular, se adaptavam e sobreviviam como podiam.
A transumância é hoje em dia algo de raro, embora algumas aldeias do Parque Nacional da Peneda-Gerês ainda mantenham viva esta tradição, como é o caso de Fafião, onde, a cada ano, ainda se transporta o gado para o alto da montanha.
No caso da Branda da Aveleira, sabemos que esta existe pelo menos desde o século XII, e que se manteve ativa até às décadas de 60 e 70 do século passado, altura em que a forte imigração deixou a aldeia quase abandonada. No entanto, os habitantes não se esqueceram dela e voltaram mais tarde, para recuperar grande parte das suas casas.
A Branda da Aveleira possui hoje um conjunto de casas destinadas ao turismo rural, que foram cuidadosamente recuperadas e mantiveram a traça original, com tudo a ser reconstruído de modo a manter viva a essência do local, mas adaptando-a aos confortos que se exigem nos dias de hoje.
Assim, as antigas casas dos pastores, chamadas de “cardenhas”, transformaram-se em habitações onde qualquer um pode pernoitar. Em tempos, as casas albergavam o gado no rés-do-chão e os aposentos dos pastores no primeiro andar; hoje, são a opção perfeita para quem procura passar uns dias em comunhão com a natureza.
Como se localiza a mais de 1100 metros de altitude, a aldeia é um local rico em ar puro e com vistas desafogadas. É normal que existe alguma neve no inverno, podendo-se, no mínimo, contemplar os cumes das montanhas pintados de branco. Já no verão, são os campos verdejantes que chamam a atenção.
A aldeia tem o seu próprio restaurante, que serve de apoio ao turismo rural ou a quem visita o local de passagem. E, depois de uma excelente refeição, pode sempre queimar alguma energia seguindo por um dos trilhos que passa pela aldeia, como o Trilho da Branda da Aveleira, com 8 km de extensão.
Logo ao lado da Branda da Aveleira, encontra-se a aldeia de Vale de Poldros, que é conhecida por ter apenas um habitante e um restaurante, e que era também uma branda, tendo muitas características idênticas à Branda da Aveleira.
Caso prefira descobrir os arredores de carro, encontra a curta distância as bonitas aldeias de Rouças e de Gavieira, o Miradouro do Tibo e o Santuário da Nossa Senhora da Peneda.
Por sua vez, Sistelo e os seus socalcos encontram-se igualmente perto. Para lá chegar, o caminho mais curto é a pé, mas o mais fácil é de carro, embora tenha de contar com pelo menos 40 minutos para seguir pelas estradas serpenteantes da montanha.
Portanto, quer que seja apenas de passagem ou para ficar uns dias, a Branda da Aveleira, mesmo às portas do Gerês, é o local perfeito para recuar no tempo e descobrir outro lado de Portugal, rico em tradições e com gente genuína e acolhedora, orgulhosa da sua identidade.