Os descendentes de portugueses e holandeses do Sri Lanka são conhecidos como burghers, sendo que os Burghers Portugueses descendem de cingaleses e de portugueses e são católicos e falantes do indo-português do Ceilão, um crioulo de origem portuguesa. O território que hoje corresponde ao Sri Lanka era já conhecido de gregos e romanos, sendo conhecido como Taprobana. Os portugueses foram os primeiros a visitarem este local, aqui tendo chegado em 1550, sob o comando de D. Lourenço de Almeida.
Os portugueses começaram por ocupar Kotte, mas como o local era inseguro, fundaram a cidade de Colombo em 1517, estendendo o controlo do território das zonas costeiras ao longo do tempo. Foi nesta altura que muitos cingaleses se converteram ao cristianismo ensinado pelos portugueses.
Os holandeses chegaram a estas paragens em 1602, sob o comando de Joris Spilberg, tendo o rei de Kandy pedido auxílio aos holandeses na guerra contra a ocupação portuguesa. Só em 1638 é que os holandeses prestaram esse auxílio, e apenas em 1656 Colombo foi tomada. O território passou para domínio holandês, existindo ainda hoje muitas populações mestiças de origem cingalesa e portuguesa e de origem cingalesa e holandesa.
Estes Burghers são maioritariamente descendentes de pai português e mãe cingalesa, ou de mãe descendente de portugueses com pai cingalês, sendo que as populações mestiças se começaram a formar após a descoberta do caminho marítimo para a Índia, em 1505.
Com o domínio holandês, os descendentes de portugueses fugiram para as montanhas centrais do reino Kandyan, sob domínio cingalês. Com o tempo, os descendentes de portugueses e de holandeses foram casando entre si, o que explica o facto de, apesar de o português ter sido banido sob domínio holandês, este estar tão difundido como língua franca, a ponto de os holandeses o falarem também.
No séc. XVIII a comunidade cresceu, continuando a falar português e holandês. Os descendentes de portugueses continuaram a seguir o cristianismo e a falar um crioulo português, apesar das desvantagens socioeconómicas que isso lhes trazia.
A sua identidade cultural enquanto descendentes de portugueses reforçou-se cada vez mais, criando-se a “União Católica Burgher” em Batticaloa. Mesmo entre as famílias burghers holandesas se continuou a falar o português como língua informal, até ao fim do séc. XIX.
O crioulo português ainda hoje subsiste no Sri Lanka, embora apenas na versão falada, especialmente em Batticaloa e Trincomalee. O povo Kaffir, de origem africana, concentrado principalmente em Puttalam, foi trazido para o Sri Lanka por portugueses, holandeses e ingleses, tendo a população adotado a cultura e religião portuguesas. Atualmente, no entanto, o inglês é a língua mais comum no Sri Lanka, sendo que o cingalês é apenas ensinado como segunda língua nas escolas.
Segundo dados dos Censos de 1981, os Burghers (portugueses e holandeses) representavam 0,3% da população total do Sri Lanka, sendo que muitos burghers emigraram para outros países. A população burgher no mundo deverá rondar os 100.000, estando concentrada sobretudo no Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia.
Existem 100 famílias em Batticaloa e Trincomalee, bem como 80 famílias Kaffir em Puttalam que falam ainda crioulo português, apesar de o último contacto com o nosso país ter sido feito em 1656. Subsistem ainda vários apelidos de origem portuguesa, como Silva, Rodrigo, Abreu, Salgado, Pereira e Fonseca, que fazem hoje parte da cultura do Sri Lanka.
Os Burghers não são o único povo de origem portuguesa espalhado pelo mundo. Na época dos Descobrimentos, Portugal fundou várias colónias em diversos pontos do globo. Muitos portugueses acabaram por lá ficar e constituir família. Outros exemplos de povos descendentes dos portugueses incluem os Lamno, na Indonésia, e os Bayingyi, na Birmânia.
Muitos desses povos mantêm ainda tradições portuguesas, como a música, o crioulo de origem portuguesa e os trajes típicos. A religião cristã é outro denominador comum. Vale a pena referir que, infelizmente, são poucas as iniciativas de estabelecer contactos culturais com estes povos que descendem de portugueses.
Uma pérola da História dos portugueses de outrora,