Na vila de Miramar, em Gulpilhares, Vila Nova de Gaia, podemos encontrar uma pequena capela, edificada no cimo de uma rocha e virada de costas para o mar. A envolvente da praia e do mar não tira o destaque a esta bela capela, dedicada ao Senhor da Pedra. Local de culto há mais de dois mil anos, a capela foi construída há três séculos, tendo resistido desde então a tempestades e tormentas, apesar da sua aparente fragilidade.
Originalmente, a pedra gigante era local de culto pagão, possivelmente celta. Quando chegou o cristianismo a Portugal, fizeram-se esforços para cristianizar o território. O local onde se encontra hoje a Capela do Senhor da Pedra foi um dos escolhidos para essa reconversão, embora ainda hoje esteja ligado a cerimónias de culto pagão que ocorrem em noites de lua cheia.
No âmbito cristão, celebra-se anualmente a romaria que comemora o Senhor da Pedra. As celebrações têm início do Domingo da Santíssima Trindade e prosseguem até à terça-feira seguinte. As festividades incluem uma procissão, as tradicionais rusgas (danças) e a animação de vários grupos populares.
Antigamente, era tradição os romeiros dirigirem-se à capela de manhã cedo, a pé, juntando-se todos os peregrinos pelo caminho. As mulheres levavam à cabeça a “condessa”, onde ia o farnel, e os homens levavam o vinho à cabeça ou em chifres de boi. Após cumprirem as suas promessas, faziam um piquenique, com direito a danças e cantares.
A importância desta romaria é testemunhada pela existência num raio de quilómetros de cantigas de romaria que lhe são dedicadas. Prova-se assim que vinham peregrinos de longe ao Senhor da Pedra, existindo cantigas que lhe são dedicadas em locais como Cinfães e Paredes.
A Capela do Senhor da Pedra dá também o nome à praia onde está inserida. Trata-se de uma das praias mais concorridas de Vila Nova de Gaia e não é por acaso: as suas infraestruturas são muitas e de qualidade, oferecendo aos banhistas a possibilidade de passar um dia de banhos em excelentes condições. Quando começa o pôr do sol, a praia torna-se mágica, com as luzes próprias desta altura do dia a refletirem-se na Capela do Senhor da Pedra.
De noite, a Capela é iluminada. E diz o povo que aqui são realizados rituais de bruxaria. Não sabemos se é verdade ou mentira, mas o certo é que o ambiente poderá convidar a isso mesmo: uma mistura de beleza natural, beleza sagrada e de misticismo. A Capela do Senhora da Pedra é, sem dúvida, um local muito especial.
É também um dos locais preferidos pelos amantes da fotografia. Voltada de costas para o mar, que por vezes pode estar mais agitado, a Capela do Senhor da Pedra proporciona uma oportunidade única para conseguir fotografias dignas de postais ilustrados. E não é à toa: este é um dos monumentos mais facilmente reconhecíveis e famosos do Norte de Portugal.
Lendas associadas à Capela do Senhor da Pedra
Apesar da sua origem pagã, o povo criou lendas e histórias para explicar a construção da capela e destacar a importância da rocha que a suporta. Para uns, a capela foi construída como pagamento de uma promessa, feita por alguém que sobreviveu a um naufrágio ao ser arrastado por uma onda até à rocha. Para outros, a imagem de Cristo ali foi parar, trazida pelo mar, e que pousou no local onde mais tarde seria construída a capela.
Diz-se ainda que, quando os habitantes de Gulpilhares se preparavam para construir uma ermida ao Senhor da Pedra, no terreiro conhecido como arraial, apareceu uma luz misteriosa sobre os rochedos, junto ao mar. A luz teimava em aparecer todas as noites, o que levou os habitantes a acharem que era um sinal divino. Assim, desistiram da construção da ermida no arraial e construíram a capela no local onde costumava aparecer a luz misteriosa.
Existe uma lenda associada a D. Sebastião, que terá, numa manhã de nevoeiro, cravado as patas do seu cavalo num dos rochedos, tendo o rei voltado para trás sem entrar em praias portuguesas. A lenda foi criada para justificar duas marcas arredondadas e paralelas que por lá supostamente se encontram.
Rica em lendas, a capela do Senhor da Pedra é também digna de visita pelas suas paisagens cinematográficas e pela peculiaridade da construção no topo de uma rocha fustigada pelo mar. Afinal, não é por acaso que esta foi considerada a décima praia mais bonita da Europa pela “European Best Destinations”.
Artigo muito interessante sobre um monumento bonito e intrigante. Fiquei, todavia, desapontada com o facto de que a pessoa que o escreveu parece não saber que quando uma oração começa com “embora”, se deve utilizar o modo conjuntivo e não o indicativo. Assim, os autores escreveram: “embora ainda hoje ESTÁ ligado a cerimónias de culto pagão que ocorrem em noites de lua cheia”, quando deviam ter escrito “embora ainda hoje ESTEJA ligado a cerimónias de culto pagão que ocorrem em noites de lua cheia.” Refiro isto apenas porque tenho vindo a notar cada vez mais esta tendência na linguagem escrita de pessoas que deviam saber estas coisas.
Muito obrigado pelo seu reparo, Glória! Já corrigimos o artigo!