O Algarve é muito conhecido pelas suas praias, clima e gastronomia, sendo um destino muito procurado no verão. Mas a verdade é que há muito mais para ver nesta região do nosso país, rica em tesouros históricos e culturais que passam despercebidos aos olhos dos muitos visitantes que aqui acorrem.
Um desses tesouros é a Capela dos Ossos de Alcantarilha, pequena construção anexada à Igreja Paroquial de Nossa Senhora da Conceição, na freguesia de Alcantarilha, concelho de Silves.
Esta é uma das seis capelas do género existentes no nosso país, todas elas a sul do Tejo, sendo que as mais famosas são as de Évora e Faro. Cada uma destas capelas tem as suas particularidades e história, embora todas pretendam transmitir uma mensagem sobre a transitoriedade da vida e a esperança na ressurreição.
A Capela dos Ossos de Alcantarilha remonta ao século XVI, tendo a sua construção sido relacionada com a necessidade de dar um destino aos ossos humanos dos cemitérios da região, que eram perturbados ou realojados de forma frequente, pelos mais diversos motivos.
Assim, os responsáveis da igreja, em vez de enterrarem novamente os ossos, decidiram criar uma câmara, anexa ao templo principal, onde os ossos foram colocados em exposição. A ideia era criar um espaço de meditação sobre a mortalidade e a vida eterna, seguindo o exemplo dos monges franciscanos, que iniciaram esta prática em Évora.
Não se sabe bem a origem das ossadas que revestem a capela, embora haja quem diga que são de frades jesuítas que pereceram na região. Outra hipótese é que serão de habitantes locais, que faleceram durante as epidemias e guerras que assolaram o Algarve nos séculos XVI e XVII. A única certeza é de que aqui se encontram mais de 1500 ossos e crânios humanos.
Esta capela é algo difícil de encontrar, estando escondida nas traseiras da igreja, sendo uma câmara escura com uma entrada tão pequena que passa despercebida. É precisamente o seu tamanho pequeno que torna esta capela tão única, criando-se uma experiência mais íntima (e mais macabra).
No centro do altar, destaca-se a imagem de Jesus crucificado, rodeado por crânios dispostos frontalmente. Nas laterais da capela, estão dois esqueletos completos, pendurados nas paredes. Um deles tem um chapéu na cabeça e outro um rosário na mão, e não se sabe quem estas pessoas são e porque foram escolhidas para ficar neste lugar.
Esta capela tem também alguns elementos decorativos típicos do barroco português, como o retábulo dourado presente no altar-mor e os azulejos azuis e brancos das paredes laterais, que contrastam com o tom escuro das ossadas e criam um efeito visual interessante.
Se ficou com curiosidade de visitar este local tão peculiar, saiba que a Capela dos Ossos de Alcantarilha se encontra aberta ao público todos os dias da semana, das 9h às 17h.
A entrada no espaço é gratuita, mas pede-se uma contribuição voluntária, de modo a ajudar na manutenção desta capela. Como não existem guias ou folhetos informativos disponíveis no local, recomendamos-lhe que faça alguma pesquisa prévia sobre a sua história e significado, para melhor poder apreciar a sua visita.
Para chegar a Alcantarilha, poderá usar o carro ou ir de autocarro. Caso opte pelo primeiro, pode estacionar nas proximidades da igreja, ou num parque de estacionamento gratuito, junto à rotunda da entrada da freguesia.
E, já que aqui está, não deixe de conhecer também a igreja onde está anexada a capela, templo do século XVI com três naves e um interior ricamente decorado, com altares dourados do século XVIII e imagens dos séculos XVI e XVII.