Caso goste de descobrir sítios únicos e surpreendentes, não pode deixar de conhecer a Capela dos Ossos de Campo Maior, no Alentejo, considerada uma das mais fascinantes e macabras obras de arte funerária cristã no nosso país, e que guarda um segredo que só recentemente foi revelado.
Esta capela encontra-se anexa à Igreja Matriz de Campo Maior, uma bela construção do século XVIII, que contrasta com o interior impressionante da capela, cujas paredes e tetos se encontram totalmente revestidos com ossos humanos, que pertencem a cerca de 800 pessoas.
Este espaço foi construído em 1766 pela Confraria das Almas de Campo Maior, associação religiosa que se dedicava à assistência aos mortos e aos pobres. A capela foi erguida em memória das vítimas da explosão do paiol da pólvora de 1732, catástrofe que devastou quase dois terços da vila e matou mais de 1500 pessoas.
Esta explosão ocorreu no dia 16 de setembro de 1732, quando um raio atingiu o castelo de Campo Maior, onde se encontrava armazenada uma grande quantidade de pólvora. O impacto foi tão forte que foi sentido em diversas localidades vizinhas e até em Espanha. Toda a vila ficou em ruínas, e muitos dos seus habitantes perderam a vida ou ficaram feridos.
A reconstrução da localidade demorou vários anos e implicou uma remodelação do espaço urbano e do espaço funerário. Neste contexto, surgiu a ideia de construir uma Capela dos Ossos em Campo Maior, seguindo o exemplo da Capela dos Ossos de Évora, que tinha sido edificada no século XVI.
Assim, o edifício foi projetado pelo arquiteto António Tomás Pires, e decorado pelo pintor Manuel Antunes. A fachada da capela é simples e discreta, tendo uma porta em arco abatido e uma janela retangular.
Por sua vez, no interior, encontramos uma nave única com uma abóbada de berço e um altar-mor com um retábulo barroco, embora o que mais chame a atenção sejam os milhares de ossos que cobrem as paredes e o teto.
Durante muito tempo, pensou-se que os ossos usados para decorar a capela pertenciam às vítimas da explosão do paiol da pólvora de 1732, sendo que esta lenda foi transmitida oralmente ao longo dos séculos. No entanto, em 2014, uma descoberta surpreendente veio desmentir esta versão.
Nesse ano, a capela foi alvo de um processo de restauro e conservação, o que incluiu um estudo antropológico e arqueológico dos ossos nela presentes. Assim, os especialistas concluíram que estes ossos não tinham sinais de impactos violentos ou traumas causados pela explosão, mostrando sinais de doenças crónicas ou degenerativas típicas do envelhecimento.
Assim sendo, de onde vieram os ossos? A hipótese mais provável diz-nos que os ossos foram retirados do adro da Igreja Matriz, local onde se encontrava o antigo cemitério paroquial. O espaço foi redesenhado após a reconstrução da vila, e muitas das sepulturas acabaram por ser removidas ou deslocadas.
Dessa forma, os ossos exumados foram aproveitados para decorar a capela, seguindo uma prática comum naquela época. Portanto, os ossos não são apenas das vítimas da explosão, mas sim de diversas gerações de campomaiorense que ali viveram entre os séculos XVI e XVIII.
Caso tenha ficado com curiosidade de visitar este local, saiba que a capela se encontra aberta ao público de terça a domingo, das 10h às 13h, e das 14h às 17h, e que a entrada é gratuita.
O local faz parte do roteiro turístico-cultural “Campo Maior – Terra Mãe”, que inclui outros pontos de interesse da localidade, como o castelo medieval, o Museu Municipal e as Festas do Povo. Assim, se procura um destino fascinante a descobrir no Alentejo, não pode perder a oportunidade de visitar Campo Maior e a sua Capela dos Ossos.