Consegue imaginar uma capela onde as paredes, pilares e teto estão cobertos de ossos e crânios humanos? Pois esse lugar existe, e tem ainda mais pormenores, como dois esqueletos inteiros pendurados por correntes, frescos com cenas da paixão de Cristo e um painel de azulejos que contrapõe a morte à vida. Falamos da Capela dos Ossos, em Évora, um dos monumentos mais conhecidos do nosso país, que atrai milhares de visitantes todos os anos.
Esta capela foi construída no século XVII, no local do antigo dormitório do convento franciscano que se encontrava anexo à Igreja de São Francisco.
A ideia da construção partiu de três monges franciscanos, que decidiram seguir um modelo que se encontrava em voga na Europa e criar um lugar que levasse a uma reflexão sobre a transitoriedade da vida humana e o compromisso de uma permanente vivência cristã.
É claro que, para além da questão espiritual, existia também uma questão prática. Afinal, na região de Évora existiam cerca de 40 cemitérios monásticos, que ocupavam demasiado espaço em locais estratégicos. Portanto, retiraram os esqueletos da terra e usaram-nos para decorar a capela.
Estima-se que se usaram cerca de cinco mil ossos, por entre crânios, fémures, vértebras e outros, vindos dos cemitérios situados em igrejas e conventos da cidade. Estes ossos foram ligados com cimento pardo e dispostos ao longo das paredes, teto, colunas, e até mesmo no exterior da capela. Existem ainda dois esqueletos inteiros, pendurados por correntes numa das paredes, sendo que um deles é o de uma criança.
O local era dedicado ao Senhor dos Passos, imagem conhecida na cidade como Senhor Jesus da Casa dos Ossos, figura que impressiona pela expressividade com que é representado o sofrimento de Jesus Cristo na sua caminhada com a cruz até ao calvário.
Os frescos que se encontram no teto abobada, datados de 1810, têm uma variedade de símbolos ilustrados por passagens bíblicas, assim como com os instrumentos da paixão de Cristo. Já à saída da capela, poderá ver um painel de azulejos, da autoria de Siza Vieira, que contrapõe a alusão da morte ao milagre da vida.
Entre julho de 2014 e outubro de 2015, esta capela passou por uma extensa reforma, avaliada em 3,5 milhões de euros, que serviram para o restauro dos danos ocorridos com o tempo e para a construção de um museu de arte sacra e outro para exposições temporárias. Hoje, a capela é visitada por milhares de visitantes, que procuram o espaço pelo seu ambiente algo macabro e que nos convida a refletir sobre a vida.
A Capela dos Ossos encontra-se no sul do centro histórico da cidade de Évora, junto da Igreja de São Francisco. A entrada neste espaço tem um custo de 5 euros por pessoa, o que inclui também o acesso ao museu de arte sacra e ao museu de exposições temporárias. O espaço funciona todos os dias da semana, entre as 9h e as 18h30.
Como este é um dos pontos turísticos mais procurados na região, convém que chegue cedo ao local, para evitar filas ou aglomerações. Terá também a oportunidade de combinar a visita à capela com a descoberta de outros locais de interesse da cidade, como o Templo Romano, o Palácio dos Duques de Cadaval, a Sé Catedral e o Aqueduto da Água de Prata.
Para visitar a Capela dos Ossos, deverá respeitar algumas regras. Assim, não pode tirar fotografias ou filmar no interior do espaço, não pode tocar nos ossos e nas paredes, não pode fazer barulho ou comentários desrespeitosos, e não pode levar animais ou objetos cortantes para o interior.
A visita à capela faz-se de forma livre ou guiada, sendo que existem guias em português, inglês, francês e espanhol. Uma visita guiada tem uma duração de 30 minutos, e vai-lhe permitir conhecer melhor a história e significado deste monumento único.