A sudoeste da Europa e com uma faixa litoral voltada para o Atlântico, Portugal voltou-se para o mar e lançou-se para a Expansão Marítima. Há mais de 500 anos que a tecnologia portuguesa aperfeiçoou e consolidou instrumentos como cartas náuticas, roteiros de viagens, bússolas e diversas embarcações.
Uma dessas embarcações eram as caravelas, com dois mastros e velas triangulares, que eram velozes e conseguiam navegar à bolina (ou seja, contra o vento). Eram perfeitas para a exploração oceânica e por isso se tornaram tão populares.
Com a descoberta de novos locais, outros tipos de embarcações foram surgindo, e aperfeiçoaram-se as formas de navegação. Os navegadores portugueses passaram a orientar-se pelos astros, uma vez que não tinham a orientação da linha de costa, e para isso desenvolveram instrumentos como o astrolábio e o quadrante.
Assim, pela primeira vez na história, foi possível determinar a localização exata, com base em rigorosos cálculos matemáticos. Todas as informações de localização e características do mar e da costa eram anotadas e depois passadas a outros marinheiros e cartógrafos, que desenhavam mapas cada vez mais detalhados.
Esta tecnologia mudou o mundo da época, favorecendo a navegação para novos mundos. Assim, a época dos Descobrimentos constituiu a passagem de um mundo a outro, com Portugal a ser pioneiro nessa revolução tecnológica.
Nesta altura, são ultrapassados esquemas de navegação tradicionais e até lendas e mitos são desmentidos, num êxtase de expansão e conhecimento que viria a favorecer o Renascimento.
Homens como Gil Eanes, Bartolomeu Dias, Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral foram assim os ousados protagonistas das grandes descobertas marítimas e do avanço na ciência da navegação, tendo por base a observação direta e a experimentação.
Portugal lidera os avanços tecnológicos, construindo novas embarcações, aperfeiçoando instrumentos e dominando a natureza. Os contributos do nosso país para a botânica, medicina, astronomia, cartografia, matemática, geografia e antropologia são de primordial importância, estando na base de novas descobertas. Foi o impacto de toda esta inovação que transformou Portugal na principal potência marítima e económica do séc. XVI.
Um olhar mais profundo às caravelas
As caravelas eram construídas à beira do tejo, na Ribeira das Naus, junto ao Palácio Real. Aqui trabalhavam mestres de carpinteiros, que não recorriam a planos nem desenhos técnicos. Com a sua experiência, sabiam quais as medidas mais equilibradas e como deviam proceder para que o navio funcionasse na perfeição.
A equipa era também constituída por aprendizes de carpinteiros e calafates que aplicavam o betume entre as tábuas, para garantir a impermeabilidade, por ferreiros e fundidores, que fabricavam as peças e objetos em metal, por veleiros, responsáveis pelas velas, por cordeiros (que fabricavam cabos e cordas) e por tanoeiros, que produziam as pipas para o transporte de água, mantimentos, e da maior parte da carga.
Para o casco das caravelas, usava-se madeira de pinho, carvalho, castanheiro e sobreiro. Para a calafetagem do casco, aplicava-se estopa, breu, resina e alcatrão. Nos mastros, usava-se pinho do norte da Europa, e as velas eram feitas com linho ou lona. Já as cordas eram feitas com esparto ou linho e as peças fundidas podiam usar ferro, aço, chumbo, estanho, cobre ou latão.
As caravelas tinham um casco estreito e fundo, que lhes dava estabilidade, existindo por baixo do convés um espaço para transporte de mantimentos. Existia igualmente, na popa do navio, os aposentos do capitão e do escrivão. Mas a grande novidade introduzida neste navio foram as velas triangulares, que permitiam que as caravelas avançassem mesmo com ventos contrários.
As caravelas não tinham todas o mesmo tamanho. As mais pequenas levavam entre 25 e 30 homens, e as maiores podiam levar mais de 100. A tripulação era formada por marinheiros muito jovens, com os capitães na ordem dos 20 anos de idade. Aos capitães cabia a responsabilidade de organizar a vida a bordo, e tomar decisões sobre a viagem. O escrivão tinha de registar por escrito o rol da carga.
O piloto, por sua vez, orientava o navio, viajando na popa com uma bússola, um astrolábio e um quadrante. Era o piloto que orientava os homens do leme, que manobravam o navio de acordo com as ordens do piloto e do capitão. Em dias de mar revolto, eram necessárias duas pessoas ao leme. Existia igualmente o homem da ampulheta, encarregado de vigiar o relógio de areia para se saberem as horas.
A bordo, os marinheiros deveriam fazer todo o tipo de tarefas, desde içar, manobrar e recolher velas, a esfregar o convés, carregar e descarregar carga e fazer outras fainas a bordo. Nestas viagens poderia haver grumetes, constituídos na sua maioria por rapazes com cerca de 10 anos de idade, que iam a bordo aprender e fazer as rotinas da viagem.