Muito antes da uniformização que a Revolução Industrial nos trouxe, cada povo construía as suas casas com os materiais mais abundantes da região onde vivia. Esse fenómeno é particularmente visível em Portugal, com uma grande diversidade paisagística que se refletiu nas nossas casas tradicionais.
A construção destas casas devia obedecer a 3 fatores essenciais: o tamanho da família, os materiais de construção disponíveis e as condições climatéricas. Portanto, no Norte de Portugal, as casas tradicionais são feitas de granito e costumavam ter dois pisos (o primeiro para o gado, o segundo para a família, o que permitia aquecer um pouco mais a casa). No interior centro, a abundância de xisto levava a que fosse este o material usado nas casas, resultando numa grande harmonia com o meio ambiente.
No Algarve e Alentejo, predominam as casas de cal e taipa, adaptadas ao calor intenso da região. Nos Açores, o basalto predomina nas casas, já que é uma rocha abundante na região. E por fim, temos os casos particulares, como os palheiros da Costa Nova (adaptados às necessidades dos pescadores) e as casas de Santana, na Madeira, de telhado forrado a palha.
Esta enorme diversidade de casas típicas num país tão pequeno como o nosso é motivo de orgulho, e devemos preservar estas tradições para manter viva a memória da nossa história e a autenticidade do nosso povo. Assim, deixamos-lhe algumas casas típicas portuguesas:
1. Casa de calcário (Zona Oeste)
Na região saloia, a pedra escura usada em quase todas as outras zonas do país dá lugar a cores claras, como proteção do vento forte e corrosivo e da proximidade do mar. A silhueta típica das casas compõe-se também de um telhado de quatro águas, aduelas de pedra, um alpendre e um quintal murado.
Nesta zona, o vento é o elemento definidor das casas tradicionais, até porque a região é varrida por ventos fortes, como se pode atestar pelos vestígios dos moinhos de vento que aqui existiam.
2. Casa de granito (Norte e Interior Centro)
O Norte do nosso país sempre contou com muito granito, um material excelente para a construção que se quer duradoura. Portanto, até o mais humilde dos lares e celeiros acaba por adquirir uma nobreza austera e muito duradoura.
Tradicionalmente, estas casas tinham dois andares, com os animais a ficarem no primeiro piso, para ajudar a aquecer a casa. Não é por acaso que quase tudo o que nos chegou de tempos imemoriais é granítico, e, portanto, estas casas tradicionais são praticamente indestrutíveis, como o povo que as ergueu.
3. Casa Madeirense (Ilha da Madeira)
A sua forma triangular deriva de, antigamente, se usarem as cavernas como abrigo, bastando uma fachada e uma pequena cobertura de colmo para proteger o abrigo encaixado na rocha. Com o tempo, passou a usar-se apenas esta estrutura, abandonando-se as grutas.
As paredes laterais inclinadas suportam um telhado de colmo de duas águas, que permite a existência de um segundo piso mais estreito. As casas costumam ter também cores vivas, que se destacam da paisagem sempre verdejante.
4. Casa de xisto (Interior Centro e Norte)
Nesta região, o clima agreste e a terra pobre não deram aos habitantes muitas opções de construção, para lá da madeira (para as varandas e sobrados) e o xisto para tudo o resto, de paredes a escadas e até telhados.
As casas eram aquecidas pelos animais e tinham aberturas reduzidas ao mínimo, para aproveitar melhor o calor destes. Apesar de hoje nos parecer uma solução primitiva, estas casas encontram-se perfeitamente enquadradas na paisagem e são uma solução arquitetónica muito inteligente.
5. Casa de terra (Alentejo e Algarve)
Tal como noutras regiões do globo em que chove pouco, também no Alentejo e Algarve as casas tradicionais são feitas de terra, que é amassada e compactada em taipais e que são depois caiadas, para evitar a corrosão e para refletir a intensa radiação solar.
O sistema de proteção do calor completa-se com as paredes muito espessas e as janelas muito pequenas. A isto, junta-se um telhado, por vezes com uma só água, e terraços. O toque final é dado pelos apontamentos de cor, ao gosto do proprietário.
6. Casa de Basalto (Açores)
Os Açores são ricos em basalto, porque é um arquipélago de origem vulcânica. Assim, o basalto foi o principal material de construção da região, por ser duro, impermeável e perfeito para as condições climatéricas que se fazem sentir nestas ilhas.
O toque de cor é dado pelas janelas e portas, que contrastam com a pedra negra da construção e com o verde e azul da paisagem que as rodeiam, enquadrando-se de forma harmoniosa no ambiente natural da região.
7. Casa de madeira (Costa Nova)
No Centro Litoral do nosso país, encontramos estes pitorescos e coloridos palheiros de madeira, que começaram por ser construídos à beira-mar por pescadores, que os usavam para guardar redes e materiais de pesca.
Inicialmente, tinham apenas uma divisão, mas depois começaram a ser construídos como habitação, com várias divisões. Hoje, a maioria dos palheiros da região são em cimento, apesar de manterem as caraterísticas arquitetónicas do passado.