Porto de Mós é uma vila do distrito de Leiria, que alberga uma das mais belas e originais obras da arquitetura medieval portuguesa: o seu castelo, que combina elementos militares, góticos e renascentistas. Este monumento foi cenário de importantes acontecimentos históricos e reflete a evolução da arte e da cultura em Portugal.
A origem do castelo de Porto de Mós remonta à época romana, quando existia um posto de vigia no local. Mais tarde, foi ocupado pelos muçulmanos, que construíram uma atalaia (torre de observação) para defender a região.
Com a Reconquista cristã, passou para as mãos de D. Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal, que o doou a D. Fuas Roupinho, um lendário cavaleiro e alcaide (governador) da vila.
Ao longo dos séculos, o edifício foi sofrendo várias alterações e ampliações, que lhe conferiram uma planta pentagonal com cinco torres nos ângulos. Uma das torres foi construída por D. Dinis, que ofereceu o castelo à sua esposa, a rainha Santa Isabel. Outra torre foi demolida no século XIX, após o terramoto de 1755.
Esta fortificação teve um papel importante na defesa do território português, especialmente na Batalha de Aljubarrota, em 1385, quando o exército português, liderado por D. Nuno Álvares Pereira, se aquartelou no castelo antes de enfrentar os invasores castelhanos. Como recompensa pela vitória, D. João I doou o castelo ao Condestável, que o legou ao seu neto, D. Afonso, IV Conde de Ourém.
Foi este conde que transformou a fortaleza num dos mais extraordinários palácios do final da Idade Média, inspirando-se na arquitetura italiana.
Acrescentou colunas clássicas, uma varanda com arcos contracurvados e coruchéus (remates pontiagudos) com cerâmica verde nas torres. O conde quis assim homenagear a sua família e criar um espaço de luxo e poder.
O castelo de Porto de Mós é um exemplo único da arquitetura civil do final da Idade Média portuguesa, que combina elementos militares, góticos e renascentistas.
Vejamos algumas das suas principais características:
- A planta é pentagonal, com quatro torres nos ângulos e uma quinta torre no lado norte, que servia de entrada principal. As torres são cilíndricas e têm cerca de 20 metros de altura.
- A fachada principal é formada por duas torres encimadas por coruchéus com cerâmica verde, que contrastam com o branco das paredes. Entre as torres há uma varanda com arcos contracurvados e janelas ogivais (em forma de ponta), que dão acesso às salas nobres do palácio.
- O interior é organizado em torno de um pátio porticado (com arcadas), onde se destaca uma cisterna octogonal (reservatório de água), que tem uma inscrição latina alusiva ao conde de Ourém. O pátio tem colunas clássicas com capitéis (parte superior) decorados com folhagem.
- A fortificação conserva alguns vestígios da sua função militar, como as ameias (aberturas na parte superior das muralhas), os mâchicoulis (aberturas no chão das ameias para lançar pedras ou líquidos sobre os inimigos) e as seteiras (fendas nas paredes para disparar flechas).
- Tem também elementos decorativos que revelam o gosto artístico do conde de Ourém, como os brasões (símbolos heráldicos) da sua família, as gárgulas (figuras esculpidas que servem para escoar a água da chuva) e os azulejos (peças de cerâmica pintadas) que revestem algumas salas.
Curiosidades sobre o castelo de Porto de Mós
O castelo de Porto de Mós é um monumento cheio de histórias e lendas, que despertam a curiosidade de quem o visita. Aqui ficam algumas curiosidades sobre esta fortaleza:
- Está ligada à lenda de D. Fuas Roupinho, que teria sido salvo por um milagre da Virgem Maria quando perseguia um veado na Serra dos Candeeiros. O veado saltou para o abismo e D. Fuas, ao ver que ia cair, invocou a Virgem, que fez parar o seu cavalo à beira do precipício. Este episódio ficou imortalizado na Ermida da Memória, junto ao Cabo Carvoeiro.
- Foi palco de um episódio romântico entre D. Pedro I e Inês de Castro, os famosos amantes da história portuguesa. Segundo a tradição, foi aqui que eles se encontraram pela primeira vez, quando Inês era dama de companhia da esposa de D. Pedro, D. Constança. O rei D. Afonso IV, pai de D. Pedro, não aprovava esta relação e mandou matar Inês em 1355.
- Foi visitado por vários reis e personalidades ilustres, como D. Manuel I, que concedeu o título de “Notável” à vila de Porto de Mós em 1512, D. João III, que se hospedou na fortaleza em 1520, e o escritor Luís de Camões, que teria passado pela fortaleza em 1552, quando regressava da Índia.
- Foi danificado pelo terramoto de 1755, que provocou o desmoronamento de uma das torres e de parte das muralhas. A fortificação ficou abandonada até ao século XIX, quando foi restaurada pelo arquiteto Ernesto Korrodi, que lhe devolveu o seu esplendor original.
- É atualmente um museu, que alberga uma exposição permanente sobre a história e a cultura da região. A fortificação pode ser visitada todos os dias, mediante o pagamento de um bilhete simbólico. A fortificação oferece também uma vista panorâmica sobre a vila e o Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros.