Se é um apreciador de arte, história e azulejos, não pode deixar de conhecer o Convento dos Cardaes, um dos raros edifícios lisboetas que sobreviveu ao terramoto de 1755, e que guarda no seu interior um acervo significativo de artes decorativas e sacra. Este pequeno segredo da nossa capital tem muito a conhecer e a descobrir, e merece uma visita demorada e atenta, para que se possam apreciar todos os seus detalhes.
O Convento foi fundado em 1681 por D. Luísa de Távora, nobre portuguesa que queria criar um espaço para as religiosas da Ordem das Carmelitas Descalças e para ela própria, tendo vivido e falecido no local.
O edifício obedece à arquitetura do século XVII, estando adaptado às regras estritas das Carmelitas, que limitam o contacto com o exterior. Mas, por dentro da fachada austera e robusta, esconde-se um interior ricamente decorado.
Um dos destaques deste convento é a sua igreja, obra-prima do barroco português que foi construída entre 1681 e 1703, seguindo um projeto do arquiteto João Antunes. O interior da igreja encontra-se forrado por silhar de azulejos da fase final do estilo joanino, datados de cerca de 1740.
Estes azulejos têm origem portuguesa e representam cenas da vida da Virgem Maria e de Cristo. No plano superior do templo, encontramos algumas pinturas que retratam episódios do Antigo Testamento e da história das Carmelitas, atribuídas a António Pereira Ravasco e a André Gonçalves.
O altar-mor da igreja é um dos mais belos exemplares de talha dourada do século XVIII na nossa capital. Trata-se de uma talha de estilo nacional, mas com influências do barroco francês e italiano.
No retábulo, encontra-se uma imagem de Nossa Senhora da Conceição dos Cardaes, ladeada por S. José e S. Joaquim. Nas paredes laterais do templo, encontramos dois altares dedicados a Santa Teresa de Ávila e a São João da Cruz, fundadores da Ordem das Carmelitas Descalças.
Este convento é conhecido por possuir uma das maiores coleções mundiais de azulejos holandeses do século XVII (fora da Holanda) que representam cenas da vida de Maria e que são atribuídos a Jan van Oort, um dos maiores ceramistas do seu tempo.
O espaço conta também com um rico acervo de pinturas, paramentos, mobiliário e objetos litúrgicos dos séculos XVII ao XIX, que nos ajudam a compreender melhor a espiritualidade e história das Carmelitas Descalças.
O convento conseguiu conservar o seu património por ter sido um dos poucos a sobreviver ao terramoto de 1755, e por ter sido um dos únicos conventos do nosso país que se manteve ativo para a mesma finalidade desde que foi criado.
Para além de ser um espaço de grande beleza arquitetónica e de contar com azulejos deslumbrantes, o Convento de Cardaes é também um espaço cultural muito ativo, que abriga exposições e eventos ao longo do ano. Assim, entre exposições de arte contemporânea e concertos e palestras, existe sempre muito para ver e fazer neste local.
O convento é também um espaço de solidariedade e inclusão social: desde o século XIX que o convento acolhe pessoas com necessidades especiais, que aqui têm a sua casa, família e uma comunidade que as apoia e integra. Esta vertente é gerida pela Associação Nossa Senhora Consoladora dos Aflitos, com o auxílio e cuidados de Irmãs Dominicanas.
Assim, o Convento dos Cardaes acaba por ser um espaço não só de história e cultura, mas também de paz e tranquilidade, um local onde pode refletir enquanto ouve a oração das irmãs que aqui vivem. Portanto, não deixe de visitar este espaço com tempo, para que possa admirar devidamente todas as suas vertentes.