O Alentejo esconde entre as suas paisagens ondulantes um dos mais fascinantes testemunhos da pré-história portuguesa: o Cromeleque do Xerez. Trata-se de um enigmático conjunto megalítico, cuja origem remonta ao período Neolítico, entre 4000 a.C. e 3000 a.C.
Embora a sua função exata permaneça envolta em mistério, acredita-se que tenha servido como local de culto, observatório astronómico ou ponto de encontro tribal.
O que torna este cromeleque singular é a sua forma quadrangular, contrastando com a configuração circular mais comum em monumentos semelhantes espalhados pela Europa.
Originalmente descoberto em 1969 na Herdade do Xerez, perto de Monsaraz, o cromeleque foi sujeito a uma drástica alteração em 2004. Devido à construção da Barragem do Alqueva, que inundou várias zonas arqueológicas da região, este monumento teve de ser deslocado para um novo local, junto ao Convento da Orada, na aldeia de Telheiro.
Este foi um processo complexo que exigiu um planeamento meticuloso para garantir que cada menir fosse transferido e reinstalado respeitando a sua posição original.
O Cromeleque do Xerez é composto por 50 menires de granito, dispostos num padrão quadrangular. Os blocos variam entre 1,20 e 1,50 metros de altura, com exceção do menir central, que se destaca pela sua imponência de quase 4 metros.
Este menir central, de forma fálica, encontra-se coberto por pequenas depressões esculpidas na pedra, conhecidas por “covinhas”. A sua função continua a ser debatida entre os especialistas, podendo estar relacionada com cultos solares, lunares ou rituais de fertilidade.
A orientação do cromeleque é aproximadamente norte-sul, e a sua localização no topo de uma pequena elevação oferece uma vista privilegiada da paisagem envolvente.
Esta escolha pode não ter sido aleatória, havendo indícios de que o alinhamento dos menires poderia ter sido pensado para marcar eventos astronómicos importantes, como os solstícios ou equinócios.
A região do Alentejo é particularmente rica em monumentos megalíticos, muitos dos quais estão associados às primeiras comunidades agrícolas da Península Ibérica.
Estes povos, que viveram entre 5.000 e 6.000 anos atrás, dependiam dos ciclos naturais para a sua sobrevivência e desenvolviam cultos relacionados com os astros e os antepassados.
Ao longo dos anos, os arqueólogos têm realizado várias investigações no local, tendo sido encontrados vestígios cerâmicos e líticos que ajudam a contextualizar a sua utilização. No entanto, muito está ainda por descobrir, fazendo deste monumento uma peça essencial no puzzle da pré-história alentejana.
O Cromeleque do Xerez é um verdadeiro tesouro do património arqueológico português, testemunhando a presença de civilizações antigas no Alentejo.
Apesar de ter sido deslocado, continua a ser um ponto de interesse fundamental para quem deseja conhecer mais sobre os primeiros habitantes da região e a sua relação com o mundo natural e espiritual.
Para quem visita o Alentejo, este é um local que merece ser descoberto e apreciado, proporcionando uma autêntica viagem ao passado.