Os cromeleques são impressionantes monumentos megalíticos que testemunham a profunda ligação dos povos pré-históricos com a natureza e o cosmos.
Estas estruturas, compostas por pedras erguidas em círculo ou elipse, surgiram no território que hoje conhecemos como Portugal há milhares de anos, sendo algumas das construções mais antigas do país.
Datadas do Neolítico, entre o final do sexto milénio a.C. e o início do terceiro milénio a.C., continuam a intrigar investigadores e visitantes devido à sua possível função e simbologia.
Embora o verdadeiro propósito dos cromeleques permaneça envolto em mistério, várias teorias indicam que serviam para práticas rituais, observação astronómica e como locais de reunião para as comunidades neolíticas.
Os povos que os ergueram tinham uma forte relação com os astros e a natureza, e alguns destes monumentos apresentam gravações enigmáticas que podem representar o sol, a lua ou símbolos de poder e fertilidade.
Em Portugal, estes vestígios da pré-história encontram-se sobretudo no Alentejo, uma região rica em megálitos. O mais conhecido é o Cromeleque dos Almendres, em Évora, considerado o maior da Península Ibérica e um dos mais impressionantes da Europa.
Para além deste, destacam-se o Cromeleque da Portela de Mogos, o Cromeleque do Xerez e o Cromeleque de Vale Maria do Meio, cada um com características únicas que continuam a fascinar arqueólogos e visitantes.
São compostos por menires, pedras monolíticas cravadas no solo em posição vertical. Estas podem ter diferentes formatos e dimensões e podem estar organizadas em alinhamentos ou dispostas de maneira a formar recintos circulares ou elípticos. O número de menires varia, podendo ir desde algumas unidades até centenas de elementos, sendo que alguns destes apresentam gravuras intrigantes.
O termo “cromeleque” tem origem no galês antigo, onde “crom” significa “curvado” e “lech” significa “pedra”. A ligação destes monumentos aos ciclos astronómicos e aos rituais comunitários reforça a hipótese de que eram espaços sagrados utilizados para cerimónias, oferendas aos deuses ou até mesmo para marcar momentos importantes da vida social, como celebrações e decisões coletivas.
Embora os cromeleques possam ser encontrados em vários pontos do mundo, incluindo a Europa Ocidental e o Reino Unido, em Portugal existem cerca de 50 estruturas deste tipo, com maior incidência no Alentejo e no Algarve. Estas regiões destacam-se pela abundância de rochas graníticas e xistosas, materiais essenciais para a construção dos menires.
A sua localização estratégica, muitas vezes em zonas elevadas ou planícies de grande visibilidade, sugere uma intenção deliberada na escolha do local. Alguns destes monumentos alinham-se com o nascer e o pôr do sol nos solstícios ou nos equinócios, enquanto outros parecem estar orientados para a observação de fases lunares ou constelações específicas.
Erguer um cromeleque foi, sem dúvida, um feito notável para os povos neolíticos. Cada menir podia pesar entre duas a dez toneladas, exigindo um esforço colectivo e técnicas rudimentares mas eficazes.
As pedras eram extraídas, transportadas e finamente ajustadas ao solo de forma a garantir a sua estabilidade. Algumas apresentam entalhes ou relevos, possivelmente criados com ferramentas de sílex ou metais primitivos, e há indícios de que certos menires poderiam ter sido pintados com pigmentos naturais.
A interpretação dos cromeleques baseia-se sobretudo na análise arqueológica e na comparação com outras culturas pré-históricas. A função astronómica é uma das hipóteses mais aceites, considerando que estas estruturas parecem ter servido como calendários primitivos, ajudando as comunidades a prever as mudanças sazonais e a organizar as atividades agrícolas.
Além disso, a dimensão espiritual e religiosa é inegável. Eram possivelmente locais de culto onde se realizavam cerimónias ligadas à fertilidade, à morte e à comunicação com os antepassados.
Podem também ter servido como centros comunitários onde as tribos neolíticas se reuniam para tomar decisões, estabelecer alianças ou celebrar momentos importantes.
O Cromeleque dos Almendres, por exemplo, para além da sua possível ligação com o solstício de verão, poderá ter sido um local de grande importância para a organização social da época.
Estes monumentos, que resistiram ao tempo, continuam a alimentar o fascínio pela história antiga e pela relação entre o homem e o cosmos.
A sua preservação e estudo são fundamentais para melhor compreender as sociedades que os construíram e para valorizar o património cultural que Portugal tem para oferecer.