A Aldeia da Cuada foi fundada no século XVII, na freguesia da Fajã Grande, situada na ponta oriental da ilha das Flores, nos Açores. Durante séculos, apresentou a marca da pobreza e humildade, caraterística das populações mais orientais do nosso território. É um autêntico caso de resistência, de uma população que sobreviveu à pobreza e ao tempo, mantendo-se fiel às suas tradições.
Durante o século XIX, aqui viviam pouco mais de uma centena de habitantes, em casas sem conforto algum e por vezes desprovidas até de telhado. As ruelas eram (e ainda são) irregulares, e quem por elas passava devia prestar atenção a onde punha os pés, até porque ter sapatos era um privilégio raro nesta localidade, onde se vivia da agricultura e da tecelagem.
Quando se chegou a meados do século XX, a aldeia estava já moribunda. A maioria da população tinha já partido, à procura de melhores condições de vida e de novas oportunidades, muitos em terras americanas.
A Aldeia da Cuada parecia assim destinada ao abandono, tal como acontece a tantos outros locais pelo um pouco por todo o país. Mas tudo mudou quando dois empreendedores meteram mãos à obra e, com carinho, reconstruíram as casas, respeitando a traça antiga e os materiais locais.
Mantiveram-se os pequenos jardins anexos a cada habitação, que forma em tempos hortas de subsistência e hoje são pequenos paraísos floridos. Tudo isto aconteceu graças ao esforço de Teotónia e Carlos Silva, que procuraram manter o equilíbrio entre a tradição e a modernidade.
Quem vem aqui à procura de novas tecnologias do século XXI não o encontra, até porque a rede de comunicações é rudimentar, e os acessos à estrada e ao restaurante local fazem-se pelas mesmas ruelas estreitas, que homens e animais percorreram ao longo dos últimos quatro séculos. No entanto, as casas são confortáveis e muito acolhedoras, com elementos que ajudam a preservar a história desta aldeia.
Além disso, os visitantes têm algo ainda mais especial que tecnologia à sua espera: não há outro local onde possa rodar 360 graus e deparar-se com mar e com as planícies balizadas por pequenos muretes em pedra, que se estendem até à Ribeira Grande, e que terminam com uma imponente barreira vertical, onde a água se precipita de cascatas.
Quem visita a aldeia da Cuada, provavelmente quererá apenas refugiar-se da confusão e do stress das grandes cidades. Mas se não quiser ficar parado em casa, existem vários locais nos arredores dignos de uma visita. A grande maioria deles são monumentos naturais, como lagoas e cascatas.
A pouco menos de dez quilómetros da Aldeia da Cuada, seguindo pelas estradas serpenteantes da ilha das Flores, encontramos duas atrações imperdíveis: a cascata da Ribeira do Ferreiro (também chamada Poço das Alagoinhas) e as lagoas Negra e Comprida.
Mesmo ao lado, pode encontrar a cascata da Ribeira Grande, uma das mais deslumbrantes cascatas dos Açores. Um pouco mais a norte, aconselha-se uma visita à cascata do Poço do Bacalhau. E se quiser ter uma vista panorâmica de toda esta região, nada como subir aos miradouros que a circundam: miradouro Craveiro Lopes e miradouro do Portal.
Uma outra forma de passar os seus dias enquanto aqui está, é realizar qualquer um dos vários trilhos e percursos pedestres da ilha das Flores. No total, são 5 trilhos oficiais que passam por diversas partes da ilha, sendo que um deles é considerado “Grande Rota”.
Estes são autênticos monumentos naturais, expoente máximo da beleza açoriana, feita de solo fértil, água e vegetação. Recomenda-se a visita, não só a estes sítios como a toda a ilha, cheia de encantos que lhe ficarão na memória por muito tempo.
E se de repente sentir que estar isolado numa ilha não é para si, basta dar um pulo até à outra ilha vizinha. É fácil ir até à ilha do Corvo, cujo maior atrativo é subir até ao seu caldeirão e apreciar a deslumbrante paisagem que ali se encontra.