A cultura é tudo aquilo que define o carácter e a personalidade de um povo. A cultura portuguesa é rica e variada. Chega a ser impressionante como, num país tão pequeno, existe uma tão grande variedade manifestações culturais.
A cultura portuguesa engloba várias vertentes e pode ir desde uma vertente mais popular (que inclui música, gastronomia, vinho, romarias, etc…) a uma parte mais erudita (onde se inclui o teatro, o cinema, a arte, a literatura…). Este artigo foca-se sobretudo na cultura popular portuguesa, ou seja, nas manifestações mais antigas e espontâneas do povo português.
Desde o Vira do Minho aos azulejos da Estação de São Bento, desde os Pauliteiros de Miranda ao Cante Alentejano, desde o Bailinho da Madeira ao Corridinho Algarvio… estas são algumas das características da cultura portuguesa (e da cultura dos portugueses) que tornam o nosso país único, especial e diferente de todos os outros.
1. Festas e Romarias
No nosso país, não faltam as festas e romarias, com cada terra a ter a sua. A maioria encontra-se ligada à religião cristã, como a Festa de Nossa Senhora dos Remédios (Lamego), a Festa do Senhor Santo Cristo dos Milagres (Açores), ou inclusive os santos populares.
Mas há também festas que se distanciaram da religião e adquiriram objetivos mais variados, como a Festa da Flor (Madeira), as Festas do Barrete Verde (Alcochete), a Feira de São Mateus (Viseu) ou até a Romaria da Nossa Senhora da Agonia (Viana do Castelo).
2. Danças tradicionais
Dançar é uma forma de nos exprimirmos, e o que não faltam são danças tradicionais no nosso país. A maioria das nossas danças possui o acordeão como instrumento em comum (com os Pauliteiros de Miranda a serem uma exceção), o que não é de estranhar, já que era o instrumento mais popular do país em finais do século XIX.
Outro elemento em comum é o uso de trajes típicos, que mudam consoante a região. Como exemplos de danças, podemos mencionar o Vira do Minho, o Bailinho da Madeira, a Chula do Douro, a Moda das Saias, o Bailarico Saloio, a Farrapeira e a Tirana.
3. Vinho
Produzimos vinho há mais de 2 mil anos, desde que os romanos chegaram ao nosso território e trouxeram diferentes técnicas e ensinamentos. Somos também um país com uma enorme variedade de castas de uva, e em nenhum outro local da Europa se encontram tantas castas que dão origem a grandes vinhos.
Temos também a Região Demarcada mais antiga do mundo, no Douro, que assegura a qualidade do Vinho do Porto (produzido nos socalcos do Douro, na zona de Peso da Régua).
4. Gastronomia
A nossa gastronomia é rica em variada, existindo diversos pratos típicos em cada região do país, nos quais se incorporam os ingredientes típicos de cada zona. Em termos gastronómicos, estamos divididos entre a zona do Mediterrâneo e a zona do Atlântico, e a nossa cozinha tem influências não só mediterrâneas como orientais (devido às especiarias trazidas na época dos descobrimentos) e marítimas (pela nossa larga costa).
Curiosamente, um dos produtos gastronómicos portugueses mais famoso é o bacalhau, peixe que nem se encontra nas nossas costas e que é capturado a mais de 4 mil quilómetros do nosso país. Resumindo, a nossa gastronomia é rica em peixe (especialmente no litoral), mas também em carnes de grande qualidade, legumes e grãos de vários tipos.
5. Doçaria Conventual
Não há dúvida que um dos doces típicos portugueses mais famoso é o pastel de Belém (ou o pastel de nata, sua imitação). Mas somos um país com uma grande variedade de doces, podendo-se dizer que praticamente qualquer vila ou cidade tem o seu próprio doce típico. Basta pensar em coisas como o pastel de Tentúgal, o pastel de Vouzela, as queijadas e travesseiros de Sintra, as clarinhas de Esposende, no pão de ló de Ovar ou nos ovos moles de Aveiro.
Uma grande parte desta variedade de doces deve-se aos antigos conventos de freiras, que tinham os ingredientes, tempo e criatividade para criar diferentes receitas. Tinham também uma grande quantidade de gemas de ovo (as claras eram usadas para tratar da roupa), e por isso precisavam de dar um uso a esse ingrediente, o que levou à criação de vários doces diferentes.
6. Azulejos
O desenvolvimento do azulejo foi estimulado em finais do séc. XV, inícios do séc. XVI, quando a arte portuguesa se viu influenciada pela decoração ornamental muçulmana. Encomendava-se então azulejos às cerâmicas mouriscas de Sevilha, que eram usados nas mais diversas superfícies.
Na segunda metade do século XVI, chegaram ao nosso país azulejos vindos também de oficinas flamengas, para além das oficinas espanholas, e por influência destes centros, aprendemos o método de fabrico e pintura de faianças.
Do Oriente, foi chegando o sentido de brilho, a exuberância e os motivos ornamentais, e da China veio o azul da porcelana, que veio tirar aos azulejos o seu caráter repetitivo e os encheu de dinamismo e movimento. Com o tempo, fomos refinando esta arte, que é hoje um dos nossos símbolos nacionais.
7. Literatura
Somos conhecidos como um país de poetas, cuja tradição teve início ao mesmo tempo que a nação, graças à poesia trovadoresca. Subimos um patamar cimeiro da epopeia com os Lusíadas, de Luís de Camões, que narra os feitos dos portugueses a propósito dos descobrimentos.
E, já no séc. XX, adquiriu contornos mais universalistas, com a obra do mais traduzido poeta português, Fernando Pessoa. É claro que o nosso trabalho em termos de prosa também não é de desprezar, como o pode provar aliás o facto de ter sido a prosa de José Saramago a conquistar um Prémio Nobel em 1998.
8. Fado
Não se sabe qual é a origem geográfica e temporal do fado, mas pensa-se que o fado de Lisboa terá nascido a partir dos cânticos muçulmanos. Outras teorias apontam a sua origem no lundum, música dos escravos brasileiros que terá chegado até nós através dos marinheiros, por volta de 1820. Há também a hipótese de o fado remeter para os trovadores medievais, cujas canções têm caraterísticas que o fado conserva (por exemplo, os temas, como o amor e a crítica social).
Nos centros urbanos de Lisboa e Porto, encontra o fenómeno do fado nas zonas mais antigas da cidade, sendo este cantado em casas típicos, onde estão bem presentes a guitarra portuguesa e o xaile negro. Fado deriva do latim fatum, que significa destino, o que é um nome bastante adequado para este estilo musical.
9. Estilo Manuelino
Com os descobrimentos, adquirimos muita riqueza e conhecimento, com diversos artistas estrangeiros a virem trabalhar para o nosso país. Foi desse encontro de culturas que nasceu o estilo manuelino, uma interpretação bastante específica do gótico, em termos de estrutura arquitetónica e decoração.
Este estilo, nascido no reinado de D. Manuel I, tem vários elementos caraterísticos e únicos, como a esfera armilar e a cruz de Cristo, símbolos pessoais do rei e reflexo do poder a que ambicionava. Outros símbolos comuns, patentes em obras como a Torre de Belém e o Mosteiro dos Jerónimos, são os ramos, folhagens, cordas torcidas e estranhas formas marinhas. No entanto, este estilo apenas ganhou o seu nome no séc. XIX.
10. Barroco Joanino
Esta designação diz respeito às diversas correntes artísticas que coexistiram durante o reinado de D. João V, com arquitetos notáveis como Nicolau Nasoni, André Soares e Francisco Ludovice. Nasoni, em particular, combinou o modelo espanhol e italiano para criar o chamado “Barroco do Norte”, como está patente na Torre dos Clérigos. Ludovice, por sua vez, transpôs o barroco alemão para o nosso país, criando dessa forma o “Barroco do Sul”, patente no Convento de Mafra.
Mas outros monumentos da época que merecem destaque são a Basílica da Estrela, o Aqueduto das Águas Livres, a Igreja da Misericórdia no Porto, o Palácio de São João Novo e o Paço Episcopal do Porto, o Solar de Mateus em Vila Real e a Casa do Raio, em Braga.
11. Artesanato
O nosso artesanato tem uma forte conexão à cultura popular e é caraterístico de zonas rurais, onde as tradições permanecem mais vivas. Cada região tem o seu artesanato particular, de acordo com os modos de vida de cada sítio, com destaque para artes como a joalharia, as rendas, a tapeçaria, os bordados, a tecelagem, a cestaria e a cerâmica pintada.
Nos últimos anos, o nosso artesanato urbano foi adquirindo um visual mais moderno e atual, sem, no entanto, perder o toque tradicional, evoluindo assim com a própria sociedade, sendo um motivo de reinventar constante.
12. Caretos
Têm chocalhos à cintura, vara na mão, e correm, saltam, dançam, intimidam visitantes e perseguem raparigas solteiras. Esta é uma tradição da zona de Trás-os-Montes, que ainda pode ser observada em diversos locais, com o Carnaval mais famoso a ser o de Podence. Esta celebração vem do tempo dos romanos, embora exista quem diga que remonta ao Neolítico.
O que é certo é que o ritual está ligado à fecundidade e à primavera. A emigração foi tratando de dizimar a tradição de muitos locais, nos quais se incluem Podence, mas, neste caso em específico, os caretos foram recuperados e são hoje atração turística.
13. Religião
Somos um país fortemente católico, embora nos últimos anos tenha crescido o número de não crentes. Mesmo assim, a religião ainda faz parte do dia-a-dia de muitas pessoas, de forma mais ou menos intensa. Por exemplo, muitos assistem à missa aos domingos, ou fazem peregrinações como forma de cumprir promessas.
Temos também muitos locais de culto, com o mais conhecido a ser o Santuário de Fátima, mas existem outros locais de destaque, como o Santuário do Bom Jesus do Monte, em Braga, o Santuário de Santa Luzia, em Viana do Castelo, ou o Santuário de São Caetano, em Chaves.
14. Símbolos Nacionais
A grande maioria dos nossos símbolos é fruto da história, da arte e de algumas lendas. Por exemplo, um dos símbolos mais conhecidos é o galo de Barcelos, associado a uma lenda com o mesmo nome. A guitarra portuguesa é igualmente um símbolo muito conhecido, assim como a calçada à portuguesa, que, graças à expansão marítima, se espalhou para outros locais do mundo, como o Rio de Janeiro ou Macau.
Outro grande símbolo é o azulejo, arte exterior, mas que ganhou raízes no nosso país. Mas podemos falar igualmente da Cruz de Cristo (que tem raízes nos templários e foi símbolo das nossas caravelas e monumentos no estrangeiro), do cravo vermelho, dos espigueiros do Soajo, dos vasos de manjerico dos santos populares, ou até do Zé Povinho (personagem criada por Bordalo Pinheiro).
15. Estereótipos
Existem poucas diferenças entre um estereótipo e o preconceito, e a verdade é que muitos estrangeiros têm uma ideia errada de como somos, ideias baseadas em filmes, livros ou séries que foram transmitindo uma imagem errada de Portugal. Por exemplo, é comum ver as mulheres portuguesas retratadas a usar véu e roupas pretas, e os homens a serem retratados com bigode e a beber vinho.
Também ainda se pensa nos portugueses como sendo um povo trabalhador, mas com poucas habilitações literárias, embora exista hoje uma elevada percentagem de portugueses com educação superior e que falam vários idiomas. O nosso povo tem também uma grande facilidade em integrar-se noutras culturas e em acolher outros povos, com ou sem estereótipos.