Portugal é um país onde o Natal vai muito para além das luzes, das árvores enfeitadas e do presépio. Espalhadas de Norte a Sul, e até pelas ilhas, existem tradições natalícias únicas, muitas vezes recheadas de simbolismo ou… um toque de irreverência.
Venha descobrir algumas destas curiosidades que tornam o Natal português tão especial!
1. Os caretos de Varge
Em Varge, uma pequena aldeia transmontana, o Natal ganha um sabor único com a Festa dos Rapazes. Entre 24 e 26 de dezembro, os jovens da terra regressam para vestir os trajes de caretos e espalhar o “caos organizado”.
No dia 25, depois da missa de Natal, lá estão eles: mascarados, chocalhando e gritando, provocam animais, lançam feno e, claro, “chocalham” as raparigas da aldeia.
Tudo culmina no “Cantar das Loas”, onde os habitantes são, digamos, “delicadamente” ridicularizados pelos seus feitos (ou deslizes) ao longo do ano. É um Natal, literalmente, com muita festa e um pouco de confusão controlada.
2. Bananeiro, em Braga
Se há tradição natalícia que mostra o espírito de convívio à portuguesa, é o Bananeiro, em Braga. Tudo começou há cerca de 40 anos, quando os comerciantes da Rua do Souto decidiram reunir-se no dia 24 de Dezembro para brindar com um cálice de vinho moscatel e… uma banana.
Hoje, este encontro é um evento de proporções épicas, com milhares de pessoas a “comer uma banana e beber um banano” na véspera de Natal. É um ritual tão popular que até parece que o Pai Natal devia trazer bananas no saco, em vez de brinquedos.
3. “O menino mija”, nos Açores
Nos Açores, as festividades incluem uma tradição com um nome que não passa despercebido: “O Menino Mija”. Durante os dias entre o Natal e os Reis, grupos de amigos e familiares percorrem casas, provando os doces e licores caseiros da época.
Antes de entrar, há sempre a pergunta ritual: “O menino urina?”. Este hábito é tão popular que até inspirou um licor com o mesmo nome, que, não sendo propriamente “abençoado”, é vendido como se fosse o néctar dos deuses – ou pelo menos, dos açorianos.
4. Os caretos de Ousilhão
Na aldeia de Ousilhão, em Vinhais, celebra-se também a Festa dos Rapazes, mas aqui o destaque vai para as rondas dos caretos em busca de ofertas de enchidos. No papel de “figuras diabólicas”, os caretos tornam-se o símbolo de renovação e libertação das energias acumuladas.
Para os receber, os habitantes enchem mesas com petiscos e aguardam as traquinices, sabendo que o caos faz parte do espetáculo natalício. Afinal, que é o Natal sem um pouco de desordem controlada?
5. O Magusto da Velha, em Aldeia Viçosa
Em Aldeia Viçosa, celebra-se a 26 de dezembro o Magusto da Velha, uma tradição peculiar que mistura religião, castanhas e… um “dilúvio”. A história remonta a uma idosa rica que deixou um rendimento perpétuo para distribuir castanhas e vinho pelos pobres, com a condição de rezarem um Pai-Nosso pela sua alma.
Hoje, a tradição mantém-se, com 150 kg de castanhas a “choverem” da torre da igreja, enquanto os sinos tocam sem parar. Depois, é assar as castanhas no Madeiro de Natal e brindar com vinho tinto à memória da generosa (e previdente) velhinha.
6. O madeiro de Natal
No interior do país, de Trás-os-Montes ao Alto Alentejo, a noite de 24 de Dezembro é iluminada pelas enormes fogueiras do Madeiro de Natal. Estas são acesas no adro das igrejas, onde a população se reúne para aquecer o corpo e o espírito, enquanto partilha histórias e petiscos.
Cada aldeia tem o seu ritual de preparação da madeira, mas Penamacor ganha o prémio pela maior fogueira, numa celebração que mistura tradição com uma boa dose de espetáculo.
7. A Consoada
Por fim, o Natal português não seria o mesmo sem a Consoada, onde o bacalhau cozido reina em grande parte das mesas. Mas há surpresas! No Algarve, o galo de cabidela marca presença.
Em Trás-os-Montes, o polvo e a pescada frita roubam o protagonismo ao bacalhau, enquanto nos Açores e na Madeira há pratos que fazem qualquer um reconsiderar os seus hábitos natalícios: torresmos com inhame, espetadas e até morcela com batata-doce.
Estas tradições, entre o humor, a história e o folclore, são uma amostra do Natal como só os portugueses sabem viver: com um pé no passado e outro na alegria partilhada. Afinal, o que é o Natal senão isso mesmo? Um brinde às tradições, sejam elas com bananas, caretos ou bacalhau!