Chamado de “o Magnânimo” ou “o Rei-Sol português”, D. João V ficou também conhecido como “O Freirático”. O primeiro cognome deveu-se à sua generosidade em abrir a mão, gastando fortunas a engrandecer a Coroa e a satisfazer os seus caprichos pessoais. Ainda hoje são célebres os gastos que teve com a construção do Convento de Mafra e do Aqueduto das Águas Livres, bem como os gastos na Guerra da Sucessão de Espanha, na batalha do Cabo Matapan contra os turcos e na obtenção do Patriarcado de Lisboa, em 1716.
O luxo em que vivia e a sua educação deu origem ao cognome “O Rei-Sol português”, sendo que o Rei era um homem culto, letrado, falava diversas línguas e tinha uma boa cultura literária e científica. Mas de onde virá o nome “O Freirático”?
A verdade é que o monarca perdia a cabeça por todas as mulheres, mas tinha uma particular afeição a freiras, sendo que, na altura, a vocação não era a principal razão para as mulheres irem para o convento.
Era de bom tom, na época, fazer visitas sociais a conventos, sendo que esses convívios levavam muitas vezes a relacionamentos amorosos que, desde que se mantivessem discretos, eram aceites. Era frequente um nobre “ter” a sua freira no convento, onde se trocavam presentes (como poemas por doces conventuais, como a marmelada de Odivelas) e onde as celas se tornavam ninhos de amor.
O exagero dessas práticas foi denunciado por moralistas e por libertinos, tornando-se um escândalo na época. Apesar de tudo, isso não impedia D. João V e demais nobres de frequentar conventos como o de Odivelas, onde se encontrava a sua mais célebre amante, a madre Paula. Não se sabe muito bem como se conheceram, mas da relação entre ambos nasceu, a 8 de setembro de 1720, D. José de Bragança, que chegou a ser Inquisidor-mor.
O Rei gastou uma fortuna a transformar uma modesta cela conventual nos aposentos de madre Paula (uma das mais famosas amantes dos Reis portugueses), dignos de uma rainha. Mandou também construir o Palácio Pimenta, onde hoje se encontra instalado o Museu da Cidade de Lisboa, para essa mesma amante. O luxo em que vivia Paula Teresa da Silva, as suas jóias e roupas impressionaram até o viajante suíço César de Saussure, que escreveu sobre o assunto no seu livro acerca da visita que fizera a Portugal, em 1730.
Mas madre Paula não era a sua única perdição, tendo o Rei tido mais filhos ilegítimos e amantes (algumas delas também freiras). São exemplos de filhos ilegítimos:
- D. António, que para uns é filho de uma francesa desconhecida, mas para outros era filho de D. Luísa Inês Antónia Machado Monteiro. D. António veio a formar-se em Teologia e a ser Cavaleiro da Ordem de Cristo.
- D. Gaspar, filho da religiosa D. Madalena Máxima de Miranda, que veio a ser Bispo de Braga.
- D. Maria Rita, filha de D. Luísa Clara de Portugal (“a flor da murta”), que não foi reconhecida e acabou por se tornar freira.
Juntamente com D. José, filho de madre Paula, D. António e D. Gaspar ficaram para a história como os “meninos da Palhavã”, devido ao facto de habitarem no palácio do marquês de Louriçal, na zona da Palhavã, que na altura estava nos arredores de Lisboa e hoje se situa em plena cidade. O edifício abriga hoje a embaixada de Espanha em Lisboa.
A obsessão de D. João V pelo sexo levou-o a usar afrodisíacos de forma descontrolada, apesar das recomendações contrárias dos seus médicos. Este abuso acabou por minar a sua saúde e apressar a sua morte, que ocorreu a 31 de julho de 150, após quase meio século de governo. D. João V encontra-se no Panteão dos Braganças, em São Vicente de Fora, junto da sua esposa.
Já madre Paula sobreviveu 35 anos ao seu amante, tendo sido sempre tratada com respeito e consideração. No século XX, o convento de Odivelas acabou por ser transformado em colégio feminino, para as filhas dos oficiais das Forças Armadas.