Dois séculos depois do fim da dinastia filipina, em Portugal, um rei nacional teve a oportunidade de usar a coroa espanhola, mas decidiu recusá-la. Conhecido como “o popular”, pelas decisões bem acolhidas pelo povo, D. Luís I tomou a decisão de se manter em Portugal e não aceitar a coroa espanhola que lhe era oferecida.
Nascido a 31 de outubro de 1838, em Lisboa, era filho de D. Maria II e de D. Fernando II, tendo reinado entre 1861 e 1889. Faleceu em Lisboa a 19 de outubro de 1889, altura em que foi sucedido por D. Carlos I.
Após um período de grande instabilidade política, procurava-se uma solução para o trono espanhol, sendo D. Luís um candidato forte ao posto. No entanto, este recusou ser rei de Espanha, preferindo, segundo o próprio, manter-se leal ao povo português. Em Conselho de Ministros, presidido pelo duque de Loulé, o monarca esclareceu a questão, dirigindo-se ao governo e ao povo português.
No Diário do Governo, publicou uma longa carta patriótica, defendendo a sua vontade de não ser rei espanhol. Dois dias mais tarde, o rei usou também o Diário de Notícias para desmentir os boatos que corriam acerca da sua abdicação do trono português.
Assim, a 28 de setembro de 1869, o destaque na primeira página deste jornal foi para D. Luís I, tendo este declarado, num momento histórico, que “o meu posto de honra é ao lado da nação. Hei de cumprir os deveres que o amor das instituições e a lealdade à pátria me impõem. Nasci português, português quero morrer.
Apesar de invocar patriotismo, não se sabe se o rei agiu por esta decisão, ou por temer o clima de instabilidade que se vivia na Espanha, desde a Gloriosa Revolução de 1868.
Em Espanha, os confrontos entre liberais e conservadores demoraram mais a pacificar que em Portugal, pelo que estes se prolongaram pela segunda metade do séc. XIX. Na Revolução Gloriosa, D. Isabel II foi afastada do trono pelos liberais, já que a rainha era muito questionada moralmente, traindo sucessivamente o marido.
D. Luís I era rei de Portugal devido à morte do irmão mais velho, D. Pedro V. Se aceitasse a coroa espanhola, D. Luís teria de abdicar do reino de Portugal em favor do filho D. Carlos I, na altura apenas com 6 anos, ficando como regente D. Fernando II.
Abria-se assim a perspetiva de uma União Ibérica, na figura de D. Carlos, que teria Portugal e herdaria Espanha do pai. No entanto, este desejo de uma união entre os dois países sempre foi fraco em Portugal, pelo que a oportunidade foi recusada.
Mas havia que encontrar alguém que assumisse o trono de Espanha. Assim, a coroa foi parar às mãos do irmão da nossa D. Maria Pia, Amadeu de Sabóia, com apenas 3 anos, e que era cunhado do rei português.
Devido ao facto de o monarca ser uma criança, a regência ficou nas mãos da sua mãe, Maria Cristina. Mas depois de seis anos de grande instabilidade, com uma regência, um rei estrangeiro eleito pelo parlamento e até uma república, o trono acabou nas mãos de Afonso XII, filho da malfadada Isabel II, que iniciou assim a restauração Bourbon.
Curiosamente, D. Luís I não foi o único da Corte portuguesa a recusar um reino estrangeiro. O seu pai, D. Fernando II, rejeitou também o trono espanhol, preferindo a sua vida pacata em Sintra e Lisboa, sendo que já antes tinha rejeitado também o trono da Grécia.