Se pensa que a vida de um Rei é rodeada de luxos e ostentação, com toda a gente a ceder aos seus caprichos, regras e vontades, pode estar a cometer um erro. A verdade é que isso nem sempre acontece, e D. Sancho II é um rei que o comprova na perfeição. Este rei português nasceu em Coimbra, no dia 8 de setembro de 1202, e era filho de D. Afonso II.
Teve um reinado relativamente longo, de mais de 2 décadas, entre 1223 e 1248, sendo que subiu ao trono com apenas 14 anos. Uniu-se a D. Mécia Lopes de Haro, e acabou por falecer em Toledo, a 4 de janeiro de 1248. Aquele que foi o quarto rei da história de Portugal foi sucedido pelo seu irmão, D. Afonso III.
D. Sancho II passou grande parte do seu tempo em guerra contra os muçulmanos, acabando por desprezar as tarefas do governo e do cuidado do reino. Provou a sua valentia no campo de batalha, e a prova está na expansão que fez ao território nacional, tendo conquistado um número significativo de castelos aos mouros.
Mas apesar das suas vitórias, ganhou a fama de ser mau rei, por se ter revelado um governante incapaz. Não ajudava o facto de ser tido como um marido impotente e de se saber que era enganado pela sua mulher. Assim, o reino acabou por cair na desordem, sendo alvo de diversos bandos de salteadores.
Nobres e bispos acusavam o rei de “não fazer justiça nenhuma”, e na sua frustração pela injustiça reinante, chegaram a queixar-se ao Papa da incompetência do rei e da incapacidade deste para exercer a autoridade. A isto se juntou o casamento do rei com D. Mécia Lopes de Haro, uma nobre espanhola de quem ele ainda era primo.
Dona Mécia não era vista como sendo uma opção boa para o reino, pois além de ser espanhola, já tinha sido casada. Povo, clero e nobreza passaram rapidamente a odiar a rainha, sendo que estes últimos acabaram por escrever ao Papa. Assim, em fevereiro de 1245, o Papa Inocêncio IV declarou nulo o casamento realizado entre D. Sancho II e D. Mécia.
O rei não se vergou à vontade dos outros e recusou a separação. Entre os seus inimigos, contava-se o seu irmão, D. Afonso, que intensificou intrigas junto do Papa. Então, Sancho II acabou por ser deposto através da bula “grandi non immerito”, que colocou D. Afonso no trono. Sancho II resistiu, seguindo-se a guerra civil.
No entanto, em 1246, o rei sofre um golpe fatal. Um dos principais apoiantes de D. Afonso, Raimundo Portocarrero, entrou no Paço chefiando um pequeno grupo de cavaleiros, dos quais se destaca Martim Gil de Soverosa, homem de confiança de D. Sancho II, que traiu o rei. Assim, Portocarrero raptou a rainha quando D. Sancho II se encontrava em Coimbra.
Quando soube do sucedido, o rei reuniu um pequeno exército para cercar Ourém, localidade para onde tinha sido levada a rainha. Com a vila já cercada e com o rei a preparar-se para recuperar a mulher, a própria D. Mécia Lopes de Haro recusou-se a voltar para ele, assumindo a adesão ao partido de D. Afonso. Um desgosto do qual o Rei D. Sancho II nunca mais iria recuperar.
No escândalo que se seguiu, D. Mécia foi acusada de ter anuído ao rapto, e ganharam ainda mais voz os rumores de que D. Sancho II era impotente, uma vez que o casal não tinha filhos. Um conjunto de rumores bem ao sabor da época, em que era normal este tipo de conclusões (e outras ainda mais descabidas).
D. Sancho II acabou por partir para o exílio, ficando em terras de D. Fernando III de Castela, seu primo. Faleceu em Toledo, passando D. Afonso a ser rei, com o nome de D. Afonso III. Quanto a D. Mécia, esta acabou por sair de Ourém, tendo ido primeiro para a Galiza e mais tarde para Castela, onde acabou por falecer.
Daí se conclui que de Espanha nem bom vento nem bom casamento.