Já ouviu falar da mítica cidade de Dipo, no Alentejo? Durante séculos, desde que Camões escreveu os Lusíadas, os Lusitanos foram celebrados como os únicos e verdadeiros antepassados dos portugueses. Pode, de fato, ter sido os mais importantes ou os mais notáveis. Mas a verdade é que não foram os únicos nem sequer os primeiros.
Antes dos Lusitanos, passaram pelo território que hoje corresponde a Portugal várias outras tribos. Uma dessas tribos eram os Sefes. Era também conhecidos por Ofis, que significa “povo das Serpentes”. Aliás, o povo grego chamava Ofiússa ao território oeste da Península ìbérica. E ainda antes deles estiveram por cá os Estrímnios, que seriam mais tarde conquistados pelos próprios Sefes.
Para além dos Sefes, também estiveram, mais a sul, os Cónios, enquanto que a zona norte foi povoada por diversos povos, como por exemplo os Tamaganos e os Brácaros. Todos estes povos, Estrímnios, Brácaros, Tamaganos, Sefes e Lusitanos, eram tribos celtas. Migraram para a Península Ibérica juntamente com outros povos e em diferentes épocas, muito antes de os romanos chegarem e imporem a sua língua e cultura.
Os Sefes teriam sido um dos povos mais evoluídos culturalmente entre as tribos celtas que passaram pela Ibéria. A sua capital seria a cidade de Dipo, e supõe-se que ela estaria localizada onde hoje se encontra Évora Monte, no Alentejo.
Os romanos teriam tentado conquistar Dipo por várias vezes, encontrando uma forte resistência entre os Sefes. Várias fontes referem que esta cidade seria uma das principais de todo o Alentejo, o que explica a teimosia dos romanos na sua conquista definitiva.
Segundo os cronistas da época, a localização de Dipo estaria algures entre as cidades romanas de Évora e Mérida. Tendo em conta aquilo que se sabe sobre os hábitos e cultura dos Sefes e de todos os povos celtas, a atual Évora Monte seria a localização ideal para a cidade, dado que se tratava de um local mais elevado, fácil de defender, e de onde se poderia avistar uma grande parte do território.
Os romanos acabariam por conquistar Dipo e a sua memória perdeu-se nos tempos, especialmente depois destes terem apostado fortemente na dinamização da vizinha cidade de Évora, que se tornou a mais importante cidade do Alentejo.
Nos últimos anos têm sido feitas várias escavações em Évora Monte e os achados arqueológicos têm sido animadores. A existência de edificações que remontam ao século III antes de Cristo parecem mesmo confirmar que era aqui que se encontrava Dipo, a capital dos Sefes. Foram também encontrados um amplo conjunto de cerâmicas e de raríssimos artefatos de bronze.
A presença dos Sefes nas planícies do Alentejo e na vizinha Espanha está amplamente documentada e provada, faltando unicamente encontrar a sua capital, Dipo. Teriam sido eles que causaram o desaparecimento súbito de várias povoações da Serra de Huelva e das margens do Guadiana, cujos habitantes teriam fugido com medo dos invasores.
Assim que chegaram os Sefes, os povos que viviam despreocupadamente nas planícies alentejanas, sem quaisquer preocupações defensivas, teriam procurado refúgio nas montanhas, mais recônditas e fáceis de defender. Prova disso são os povoados fortificados encontrados na Serra d’Ossa, construídos como refúgio contra os Sefes.
Os mesmos Sefes fundaram, além de Dipo, as cidades de Beuipo (Alcácer do Sal), Olisipo (Lisboa) e Colipo (Leiria). O seu domínio estendeu-se até às margens do Mondego, o que atesta o poderio militar deste povo, que acabou por se tornar um dos mais poderosos na região sul da Península Ibérica.
Os Sefes teriam entrado na Europa no ano 900 antes de Cristo, embora alguns autores mencionem que a sua chegada poderia ter ocorrido 500 anos antes. Espalharam-se por várias regiões da Ibéria e fundaram várias cidades. E por cá continuaram até que chegaram os romanos.
Quando os romanos conquistaram a Península Ibérica, os Sefes já não estariam na apogeu do seu poderio militar e cultural. Embora tivessem sido dominantes durante vários séculos, na época das invasões romanas foram os Lusitanos, outra tribo celta que vivia mais a norte, que ofereceu mais luta contra os invasores.
Muito interessante.
Muito obrigado pela descrição e informação.
J. Carlos
Bom dia.
Sabedoria não surge por acaso. Interessante, e até necessário para dar mais crédito ao artigo, seria inserir as fontes que o originaram.
Mesmo assim é uma boa abordagem sobre os antigos ocupantes destas terras…
Curiosidades de uma romanização que.marcou indelevelmente a Península Ibérica!