Quem chegou primeiro ao Brasil – Pedro Álvares Cabral ou Duarte Pacheco Pereira? A pergunta pode parecer algo estranha para os amantes de história, mas a verdade é que Pacheco Pereira deixou escritas na obra Esmeraldo de Situ Orbis algumas frases que têm sido tomadas como prova de que foi este o primeiro a chegar ao Brasil, antes da data oficial de 1500. Como o documento apenas foi revelado em 1892, o debate tem estado aceso desde então.
Duarte Pacheco Pereira foi um dos primeiros heróis dos descobrimentos, capitão de guerra na Índia, recebido em Lisboa com um desfile triunfal. Camões chamou-lhe “Aquiles lusitano”, sendo o navegador um hábil marinheiro e guerreiro com fama de colérico e agastado.
Nascido em Santarém, foi cavaleiro da Casa de El-Rei D. João II, tendo já sido notado antes da sua viagem à Índia na expedição de Afonso de Albuquerque, onde comandava a nau Espírito Santo.
Pacheco Pereira era filho de um navegador e neto de um armador, tendo crescido em contacto próximo com o mar e com as arrojadas viagens dos portugueses que desbravaram o oceano, descobrindo novos povos e terras. Assim, o seu espírito parecia cheio de ardor de aventuras e de grandes feitos, tendo-o demonstrado toda a vida, no seu serviço à pátria, com feitos que o tornaram um dos portugueses mais notáveis do seu tempo.
A epopeia de Pacheco Pereira inicia-se em viagens de exploração e reconhecimento ao longo da costa ocidental da África. Em 1494, fez parte da delegação portuguesa na conferência de onde resultou o célebre Tratado de Tordesilhas, considerado o mais importante tratado do séc. XV. Nessa conferência, revela todo o seu saber científico, revelando-se um elemento fundamental na defesa das pretensões portuguesas.
A confiança que D. João II tinha nele prolongou-se pelo reinado de D. Manuel, que o envia em 1498 para além do Mar Oceano em busca de terras ocidentais do Atlântico, onde o navegador encontrou terra firme, com grandes ilhas adjacentes.
Esta expedição teria como objetivo reconhecer as zonas situadas para além da linha definida no Tratado de Tordesilhas. Pensa-se, assim, que Pacheco Pereira terá descoberto o Brasil, algo que a política de então não lhe permitiria revelar, para não provocar confrontos com Espanha.
Em 1500, o descobrimento é tornado oficial por Pedro Álvares Cabral, evitando-se desta forma atritos e reclamações que poderiam ter surgido, se o acontecimento não se tivesse revestido de todos os cuidados e de sigilo sobre as navegações anteriormente realizadas.
O papel de Duarte Pacheco Pereira no Tratado de Tordesilhas
Realizou algumas viagens à costa da Guiné, sob as ordens de D. João II. Depois, a sua competência em matéria de geografia e de cosmografia, assim como a sua experiência de navegador, levaram-no a figurar entre os membros da delegação portuguesa encarregada de estabelecer, com os castelhanos, os termos do Tratado de Tordesilhas, em 1494.
D. Manuel I, em 1498, encarregou-o de uma expedição relacionada com a demarcação da linha estabelecida pelo mesmo tratado, o que terá constituído um passo preparatório do descobrimento do Brasil. Aliás, Pacheco Pereira acompanharia Pedro Álvares Cabral na viagem de 1500.
É autor do Esmeraldo de situ orbis, obra que ficou incompleta e que constitui um roteiro comentado das costas ocidental e oriental da África. Nela, Duarte Pacheco Pereira refere, embora não muito claramente, que o rei D. Manuel o tinha mandado descobrir «uma tão grande terra firme» a ocidente do Oceano Atlântico, facto até hoje desprovido de provas convincentes e que deu origem a várias especulações sobre a sua veracidade.
Depois de várias outras viagens, nomeadamente à Índia, exerceu o cargo de capitão de S. Jorge da Mina entre 1519 e 1522, altura em que regressou a Lisboa.