A invenção da escrita remonta a cerca de 3200 a.C., altura da qual são datados os primeiros escritos relacionados com a agricultura, encontrados na Baixa Mesopotâmia. Ou, pelo menos, assim o dizem as teorias oficiais – mas a verdade é que artefactos arqueológicos, encontrados em Trás-os-Montes em finais do século XIX, podem sugerir algo de diferente.
No Museu de Numismática de Vila Real, encontram-se expostas pedras com misteriosas gravações. Datam de 1884 e foram encontrados em jazigos megalíticos da serra do Alvão, tendo sido encontradas por dois homens: o professor José Isidro Brenha e o pároco José Raphael Rodrigues.
Nas pedras, podemos distinguir figuras de animais, pequenas covinhas e alguns caracteres misteriosos. Aliás, trata-se de uma perfeita inscrição, composta por 18 caracteres dispostos em cinco linhas horizontais.
A descoberta foi inicialmente desprezada, já que não era fácil tirar conclusões acerca delas, e as poucas que se tiravam eram demasiado complexas para se compreenderem plenamente. A descoberta até chegou a ser considerada uma fraude. Mas cada vez mais cientistas ganharam interesse nas Pedras do Alvão.
Os achados arqueológicos foram estudados e datados, concluindo-se que a inscrição tinha sido feita com instrumentos de metal, ou seja, pertenceria à Idade dos Metais. O problema era que se encontrava no interior de um túmulo intacto da Idade da Pedra.
Assim, levanta-se a questão: como é que artefactos datados da Idade dos Metais (cerca de 6000 a.C) poderiam estar dentro de um túmulo intacto da Idade da Pedra (anterior à Idade dos Metais)?
Outros estudos tentaram aprofundar a questão, nomeadamente a datação pelo método de carbono 14, e tudo indica que os achados com este alfabeto têm cerca de 6000 anos, embora alguns especialistas falem em cerca de 17000 anos. Mas esta não foi a única descoberta a pôr em causa a teoria aceite acerca da invenção da escrita.
Em 1924, numa vila chamada Glozel, nos arredores de Vichy, um rapaz de 16 anos e o seu avô entraram numa câmara funerária e encontraram ossos humanos, fragmentos de cerâmica e umas misteriosas pedras.
Veio-se a descobrir que estas pedras tinham também um alfabeto desconhecido, e essas inscrições geraram imensa comoção na comunidade académica, dando lugar a violentas discussões, investigações policiais e processos em tribunal.
Depois de muita comoção, ficou relativamente estabelecido que estas inscrições são uma evidência de um alfabeto antigo, embora não se saiba se mais ou menos antigo que o Fenício.
Para alguns investigadores, existem semelhanças entre o alfabeto de Glozel e o do Alvão, embora outros discordem completamente e não vejam nenhuma associação entre ambos.
O que é certo é que o “nosso” alfabeto não levou a que os ânimos aquecessem tanto, apesar de existir quem se aventura a invocar a contrafação e os extraterrestres como responsáveis pelo achado, enquanto outros admitem que o achado seja uma falsificação.
Mesmo acreditando na autenticidade das descobertas do Alvão, é perigoso assumir que se trata do primeiro alfabeto do mundo, até pela falta de consenso dos especialistas quanto a estas pedras.
Mas, se a idade atribuída a estes artefactos for correta, ficam no ar muitas questões por responder, até porque indicaria a presença de uma civilização muito avançada numa época em que se considerava impossível. E quereria isto dizer que a civilização surgiu na Península Ibérica, ou que existiu uma civilização anterior a esta, da qual não temos conhecimento?
As perguntas são muitas, mas as respostas ainda são poucas. A juntar a isto, e passados cem anos da descoberta deste misterioso alfabeto, junta-se outro problema: afinal, qual é o paradeiro destas inscrições e gravuras?
A informação transmitida pela arqueóloga Mila Simões de Abreu, em janeiro de 2013, é dececionante: algumas pedras estão no Museu da Numismática de Vila Real, outras no Museu de Arqueologia, outras estarão algures no Museu de Antropologia do Porto, e o resto encontra-se a coleções privadas, espalhadas algures pela Europa.
Infelizmente, a maioria deste espólio pode estar perdido para sempre, o que dificulta muito a autenticação da descoberta e o seu estudo. Mas, pelo menos, pode sempre ver algumas destas pedras se visitar o Museu da Arqueologia e Numismática de Vila Real, pelo que se recomenda a visita se estiver por estes lados.
Uma autêntica vergonha, o modo como se tratam, no nosso país, achados de vital importância. Há muito (mais de 30 anos) que tenho conhecimento da escrita de Alvão e das sua características misteriosas e tão peculiares; no entanto, nunca ouvi falar de ninguém que se tenha dedicado, seriamente, a este assunto de vital importância para a nossa história e, consequentemente, para a nossa arqueologia.