Conhecidos também como canastros ou caniceiros, em função dos materiais usados na sua construção, os espigueiros são celeiros onde os lavradores guardam as espigas de milho. Podendo ser particulares ou comunitários, a dimensão de um espigueiro reflete a grandeza da produção e colheita efetuada. A sua ornamentação depende já da fantasia do construtor e dos recursos do proprietário.
Normalmente, podemos encontrar os espigueiros em zonas de terreno mais elevado, de forma a permitir a secagem do milho. Por perto, existirá uma eira, num solo mais plano e lajeado, onde se malha o centeio, desfolha o milho e se dá lugar às alegres descamisadas, onde muitos namoricos se arranjavam.
Este género de construção está muito relacionado com a introdução do milho na Península Ibérica, de onde irradiou para outros pontos do mundo. Chamado de “trigo índio”, o milho ter-se-á originado no México há cerca de quinhentos anos, tendo sido trazido para a Europa pelas naus de Cristóvão Colombo. O milho foi, desde tempos imemoriais, a base da alimentação de maias, incas e aztecas, que o incluíam nos seus ritos e o celebravam nas suas manifestações artísticas.
Na Península Ibérica, a implantação do milho deu-se sobretudo na região do Minho e na Galiza, sendo que nestes locais a cultura do milho encontrou condições propícias ao seu desenvolvimento. Com o decorrer do tempo, o cultivo do milho acabou por se estender também para o centro do país, onde predomina a cultura de sequeiro.
Voltando aos espigueiros, estes têm diversas formas e dimensões consoante a quantidade de grão a armazenar, a região onde se encontra e até consoante os materiais disponíveis para a construção. Por exemplo, em locais onde a pedra escasseia, construíam-se espigueiros em madeira. No entanto, a grande maioria combinava pedra e madeira na sua construção, encontrando-se exemplares do género em formatos retangulares, quadrados e até redondos.
Originalmente, no entanto, a sua construção seria mais rudimentar, usando-se caniços com cobertura de colmo, tal como se fazia nas habitações mais humildes. Com o tempo, foram-se aprimorando as técnicas de construção, de forma a manter os cereais secos e protegidos dos elementos e de insetos e roedores. A ventilação e arejamento do espigueiro é também fundamental.
Tomando como referência os modelos existentes no Minho, podemos dizer que os espigueiros são geralmente feitos em madeira ou pedra, esta última quase sempre granito da região. O espigueiro encontra-se assente em pilares, que o elevam do solo. Por baixo dos pilares, podemos encontrar os denteles, os esteios que suportam toda a estrutura e local onde se encaixam as aduelas. Estas são intervaladas para permitir o arejamento do interior, através das fissuras propositadamente deixadas abertas.
Para prevenir o acesso de formigas, as sapatas onde assentam os pilares são rodeadas por uma pequena fossa de água. Já os “torna-ratos” protegem o grão dos roedores. Regra geral, são cobertos de telha, mas há alguns com cobertura em colmo ou pedra (neste caso, lousa e piçarra). O espigueiro é também caracterizado pelo elemento de adorno que costuma ter no seu topo, normalmente uma cruz, abençoando-se assim o milho e garantindo-lhe proteção divina ao longo do ano seguinte.
Em diversas localidades, persiste ainda ao uso comunitário dos espigueiros, como é o caso de Lindoso, em Ponte da Barca, e no Soajo, em Arcos de Valdevez, local onde o seu usos e estende também às práticas iniciáticas que contemplam o alojamento dos noivos, que aí vão dormir juntos antes da celebração do casamento.
Mais do que celeiros, os espigueiros são verdadeiras obras de arte popular, com elevada carga simbólica e histórica. Como tal, devem ser preservados e celebrados como um elemento fundamental do nosso rico património etnográfico.
Conjuntos de espigueiros para visitar em Portugal
1. Espigueiros do Soajo
São um total de 24 espigueiros que constituem a chamada Eira Comunitária do Soajo. Foram sendo construídos ao longo de vários anos e o mais antigo data de 1782. Desde 1983 que os espigueiros do Soajo estão classificados como Imóvel de Interesse Público. Todos eles ostentam cruzes com o objetivo de invocar a proteção divina para os cereais armazenados no seu interior.
2. Espigueiros do Lindoso
Localizados mesmo ao lado do castelo, este conjuntos de 60 espigueiros datam dos séculos XVIII e XIX. Os afloramentos de granito onde se situam servem de alicerces e proporcionam segurança e estabilidade ao conjunto. Os espigueiros do Lindoso são o maior conjuntos de construções deste tipo em toda a Península Ibérica. Além da sua quantidade, destaque ainda para a qualidade da construção dos mesmos, que permitiu que chegassem aos 200 anos de vida em perfeitas condições.