O casamento, para os reis de Portugal, sempre foi um negócio. A grande maioria dos casamentos dos Reis portugueses foi realizado por motivos políticos. Não é de estranhar, portanto, que tenham sido poucos os casos em que existiu amor entre o Rei e a Rainha. Por causa da mentalidade da época, ao Rei era permitido ter inúmeras amantes enquanto que a Rainha tinha que ser fiel e submissa.
Ao longo da História, vários Reis tiveram amantes que se viriam a tornar mais famosas e reconhecidas do que as próprias Rainhas. Exemplo disso é Inês de Castro: todos nós conhecemos a sua história, mas poucos sabemos o nome da esposa oficial do Rei D. Pedro. As relações com algumas das amantes deu origem a futuros Reis. Noutros casos, originou intrigas e massacres.
Regra geral, são histórias que não se ensinam nos livros de história mas que valem a pena ser conhecidas e recordadas, até porque através delas é possível compreender melhor a mentalidade da época. Conheça as histórias de 5 amantes Reais que se tornaram mais célebres do que as próprias rainhas.
1. Inês de Castro
Inês de Castro nasceu em 1320 ou em 1325 na Galiza, sendo filha ilegítima do nobre galego Pedro Fernandes de Castro, e de uma dama portuguesa, Aldonça Suárez Valadares. Era irmã de D. Fernando e de D. Álvaro Pires de Castro. Por parte do pai, era bisneta ilegítima de D. Sancho de Castela, o pai de D. Beatriz, mãe de D. pedro. Assim, Inês e D. pedro eram primos em 3º grau.
Inês viveu parte da sua infância no castelo de Albuquerque, onde foi criada como filha dos donos, Afonso Sanchez, filho ilegítimo de D. Dinis. Veio a ser aia da sua prima D. Constança Manuel, filha de um nobre poderoso, descendente da Casa Real Castelhana, e que foi prometida a D. Pedro, príncipe de Portugal. Assim, Inês de Castro chega a Évora no séquito da futura princesa, D. Constança Manuel, em 1340, sendo que desde cedo apareceram os relatos de um relacionamento de Inês com D. pedro.
D. Constança chegou a pedir que Inês fosse madrinha de um dos seus filhos, como forma de impedir o romance, mas a morte do bebé invalidou os seus planos. O rei, D. Afonso IV, temendo a relação, mandou exilar Inês na fronteira espanhola, em 1344.
Após a morte de D. Constança, regressa a Portugal e vai viver com D. Pedro, de quem tem 4 filhos (embora um tenha falecido em criança). O casal viveu na zona da Lourinhã e em Coimbra, no Paço da Rainha Santa. Inês acabou por ser degolada a 7 de janeiro de 1355, por ordem de D. Afonso IV.
2. Madre Paula
Esta freira foi a mais célebre amante de D. João V. Chamava-se Paula Teresa da Silva e Almeida e nasceu em Lisboa a 30 de janeiro de 1718. Era neta de João Paulo de Bryt, de nacionalidade alemã, que tinha sido soldado da guarda estrangeira de Carlos V e que se tinha fixado em Lisboa como ourives. Paula entrou no Convento de Odivelas aos 17 anos, tendo ali professado após um ano de noviciado.
O rei era frequentador assíduo dos conventos, e do de Odivelas em particular, mantendo por lá várias amantes. Na altura, madre Paula era amante de D. Francisco de Portugal e Castro, conde de Vimioso, mas o rei apaixonou-se por ela, e pediu ao conde que a deixasse, dando-lhe em troca duas freiras à sua escolha, o que ele aceitou. Assim, soror Paula passou a ser amante do rei, trinta anos mais velho que ela, influenciando-o fortemente.
D. João V teve várias amantes, mas apenas Paula o soube dominar até à morte. O rei foi extremamente generoso não só com ela, cobrindo-a de luxos, mas também com o seu pai, que chegou a receber o grau de cavaleiro da Ordem de Cristo e a receber uma tença de doze mil Reis, para além de outros benefícios. O luxo em que Madre Paula vivia foi reproduzido no “Sumário de Várias Histórias” por Ribeiro Guimarães, que descreve a magnificência dos aposentos da madre e da sua irmã, que contavam com nove criadas para as servir.
Dos amores do rei e da madre nasceu um menino de nome José, como o príncipe herdeiro, e que foi o mais jovem “menino de Palhavã”, tendo exercido as funções de Inquisidor Geral. Quanto à mãe, após a morte do rei, que lhe deixou uma mesada principesca, continuou recolhida, embora recebesse os grandes que dela se quisessem aproximar. Assim viveu 27 anos, falecendo com 67 anos e tendo sido sepultada na Casa do Capítulo do Convento de Odivelas.
3. Teresa de Távora
Era mulher e tia do marquês de Távora, Luís Bernardo, e irmã mais nova do marquês de Távora Francisco de Assis, tendo nascido a 9 de agosto de 1723 e casado com o sobrinho a 8 de julho de 1742. Segundo se consta, esta dama foi amante de D. José I, sendo que, na noite de uma tentativa de regicídio, este saía da casa da marquesa, acompanhado pelo criado e confidente Pedro Teixeira.
Como resultado, o seu marido e toda a sua família foram supliciados, dizendo-se que tinham sido responsáveis pela tentativa de regicídio, embora, após a morte de D. José I, a sua filha, D. Maria I, tenha aberto uma investigação que retirou as culpas à família Távora. Quanto a D. Teresa, esta tinha sido encerrada no convento das freiras do Rato, onde passou o resto da vida em profunda miséria.
4. Leonor Teles
Leonor Teles foi uma amante régia que chegou efetivamente a rainha. Nasceu em Trás-os-Montes e era filha de Martim Afonso Teles de Meneses e de D. Aldonça de Vasconcelos. Casou jovem com D. João Lourenço da Cunha, senhor de Pombeiro, com quem teve um filho.
Aquando de uma estadia no Paço, em visita à irmã, conseguiu insinuar-se junto de D. Fernando, com quem acabou por casar, após a dissolução do seu primeiro casamento, com base em questões de parentesco. O rei casou com ela em Leça do Balio entre 15 e 18 de maio de 1372, algo que desagradou ao povo, que se ergueu em tumultos.
Os protestos acabaram em sangue, tendo D. Leonor recebido vastas terras em Portugal. Com medo do prestígio do cunhado, D. João, casado com a sua irmã Maria Teles, promete-lhe a filha D. Beatriz em casamento, ficando assim herdeiro do trono. D. João assassina a sua mulher, mas, percebendo que tinha tudo sido um estratagema, acaba por fugir sem regressar à corte. D. Beatriz acabou por casar com D. João I de Castela.
D. Leonor, ainda em vida do rei, tomou como amante o mais tarde ordenado conde de Ourém, João Fernandes Andeiro. Após a morte de D. Fernando, a 22 de outubro de 1383, D. Leonor tomou a regência do reino. Morto o conde Andeiro pelo Mestre de Avis, a rainha acaba por fugir para Alenquer, sendo depois desterrada para Castela, e tornada prisioneira no Mosteiro de Tordesilhas, onde morre a 27 de abril de 1386.
5. Rosa Damasceno
Esta atriz foi a amante mais conhecida de D. Luís I, célebre por usar o nome de Dr. Tavares quando conhecia alguma das suas amantes, que desconheciam assim que ele era rei. Não foi esse, no entanto, o caso com Rosa Damasceno, que, quando ficou grávida da relação, sabia já que o pai da criança era o rei.
D. Luís teve diversas amantes, tendo ponderado até o divórcio e a abdicação do trono, que tinha conseguido por acaso, aquando da morte do irmão D. Pedro V. Manteve-se, no entanto, como rei, e manteve a relação com a rainha Maria Pia, que, ao que parece, colecionava também amantes.
Quanto a Rosa Damasceno, nasceu a 23 de fevereiro de 1845, em São Pedro da Cova, sendo filha de um militar. Teve uma bem-sucedida carreira como atriz e participou em diversas peças de renome. Do seu romance com D. Luís I, pensa-se que teve um filho. Recebeu também do rei duas propriedades, uma em Lisboa e outra em Gradil. Rosa acabou por casar com o ator Eduardo Brazão em 1893, após a morte de D. Luís. Faleceu em Gradil, no dia 5 de outubro de 1904.