Ao longo da história de Portugal, foram diversos os reis que se destacaram, seja pelos seus feitos, seja pelas suas particularidades, com diversos episódios a estarem ainda muito presentes no nosso imaginário coletivo. Menos presentes, no entanto, estão os destinos dos filhos destes reis (os infantes), a não ser quando eles próprios se tornaram reis.
Diversos foram os infantes e infantas que casaram no estrangeiro, levando o nome de Portugal mais longe e ajudando a forjar ou solidificar diversas alianças diplomáticas que se revelaram úteis nos mais diversos momentos.
Neste artigo, vamos centrar-nos na filha de um infante, que se tornou rainha de Castela. O seu avô foi o rei D. João I e a sua avó, a rainha D. Filipa de Lencastre. Porque o seu pai, o infante D. João, era um nome distante na linha de sucessão ao trono, pouco se sabe da vida de Isabel até ao seu casamento.
No entanto, há uma curiosidade relacionada com a sua família: o seu avô, o rei, estabeleceu para os descendentes do filho D. João a possibilidade de primogenitura feminina. E com a morte do irmão de Isabel, em 1443, ela torna-se uma mulher rica por direito próprio.
Ao mesmo tempo, o rei de Castela procurava forma de pagar uma dívida que tinha à Coroa portuguesa. A solução encontrada foi o casamento com D. Isabel, libertando-se não só dessa dívida, mas também garantindo o apoio do nosso país perante eventuais ataques. E assim se fez. Em maio de 1447, realizou-se a boda, em que D. Isabel se unia ao rei de Castela e partia para este reino.
A adaptação ao início revelou-se algo difícil, com a rainha a ter episódios de ciúmes, especialmente em relação a uma das suas aias, D. Beatriz da Silva, que com ela tinha ido para Castela. Segundo se diz, não só diversos nobres se encantaram com a aia, como o próprio rei lhe dava especiais atenções.
D. Isabel, humilhada, mandou trancar a sua aia dentro de um baú, que se encontrava no sótão. Três dias depois, o tio de Beatriz, D. João de Menezes, pergunta à rainha se viu a sua sobrinha.
É então que esta confessa o que fez. Abriu-se o baú, esperando-se o pior, mas D. Beatriz estava viva, ao contrário do que seria de esperar. Não só a aia não morrera, como não apresentava sequer sinais de fraqueza.
O impacto de toda esta história foi ainda maior quando a aia abriu a boca para revelar a sua parte da história. Segundo ela, a Virgem Maria ter-lhe-ia aparecido enquanto estava no baú, ao que D. Beatriz lhe tinha prometido que fundaria uma ordem religiosa dedicada à Imaculada Conceição se sobrevivesse àquele tormento.
O que é certo é que D. Beatriz se retirou para um mosteiro nesse mesmo ano, tendo por lá ficado 30 anos. Para que a sua beleza não causasse mais ódios, diz-se que viveu toda a vida com a cara coberta por um véu.
D. Beatriz fundou ainda o Mosteiro da Imaculada Conceição e, em 1976, foi canonizada pelo Papa Paulo VI, tendo-se tornado na primeira santa portuguesa. Quanto a D. Isabel, não se pode dizer que teve uma vida fácil. Após a sua viuvez, viu-se isolada em Castela, com os seus filhos em guerra com o herdeiro do trono.
Perdeu também o seu filho, restando-lhe apenas a sua filha, D. Isabel, a futura rainha D. Isabel, a Católica (depois de muitas maquinações por parte desta). D. Isabel acabou por enlouquecer com o passar do tempo, vivendo os seus últimos vinte anos de vida num isolamento quase completo, em Arévalo.
Acabou por falecer a 15 de agosto de 1496, com a provecta idade de setenta e dois anos, número bastante considerável para a época. Foi sepultada inicialmente no mosteiro de São Francisco, em Arévalo, mas a sua filha, a rainha Isabel, a Católica, cumpriu a sua vontade final em 1504, transladando a mãe para a igreja de Miraflores pouco antes de ela própria falecer de um cancro no útero.