Conhecido como El Rey de los Papeles, tal era a sua obsessão pela organização escrita, D. Filipe II de Espanha (e I de Portugal) nasceu em Valladolid, a 21 de maio de 1527, e faleceu em São Lourenço do Escorial, a 13 de setembro de 1598, vítima de uma fatalidade peculiar. Mas já lá vamos.
Filho de D. Carlos V e de D. Isabel de Portugal, era neto de D. Manuel I, e assim, legítimo candidato à sucessão do trono português, na sequência do desastre de Alcácer Quibir, onde o rei D. Sebastião pereceu.
Foi aclamado rei de Portugal nas cortes de Tomar, tendo-se tornado o décimo oitavo rei português, na condição de que respeitasse os foros e isenções de Portugal e que apenas nomeasse como governadores portugueses ou membros da família real.
Era um homem culto, instruído e muito inteligente. Colecionava arte e tinha um particular interesse pela arquitetura. Elegeu a religião como o pilar da sua governação, tendo a pretensão de assumir o controlo do modo como a Igreja funcionava nos seus territórios, o que não foi do agrado dos papas Pio V e Paulo IV.
Em Portugal, a intervenção feita no Convento de cristo, a suas ordens, trouxe-nos uma obra incrível da engenharia hidráulica: o Aqueduto do Convento. A vida monástica tornou.se assim mais autónoma no que ao abastecimento de água potável dizia respeito.
D. Filipe I era conhecido por ser um burocrata que passava horas no seu gabinete, a escrever tudo, desde detalhes de negócios do reino a outros assuntos de governação, acumulando resmas de papel. Apenas não tomava mais apontamentos graças à gota, que lhe causava tantas dores que chegava a ficar com as mãos imobilizadas.
Sofria também das chamadas febres terçãs (ou seja, picos de febre a cada três dias, sinal típico da malária), e um edema prendia-o à cama durante dias a fio. Diz-se que foi até preciso abrir um buraco no colchão para que os seus fluidos corporais saíssem.
Apesar de não ter uma saúde forte, não foi nenhuma doença grave que matou o rei- na madrugada de 13 de setembro de 1598, um dos reis mais poderosos do mundo acabou por falecer de um ataque de pitiríase, causado por uma invasão de piolhos.
Filipe I: um Rei espanhol que amava Portugal
A dinastia filipina não é das mais apreciadas em Portugal. Ninguém guarda boas recordações do tempo em que o país perdeu a sua independência para Espanha. Foram 3 os reis espanhóis que governaram Portugal durante esse período e Filipe I foi o primeiro deles.
Mas, na realidade, Filipe I tinha um amor imenso por Portugal. E vale a pena conhecer a sua história e perceber a razão desse amor e respeito. Filipe I era filho de mãe portuguesa: Isabel de Portugal, casada com o então rei de Espanha, Carlos V. Foi a sua mãe que lhe incutiu o amor pelo seu país natal.
Durante toda a sua infância, embora tenha sido criado em Madrid, Filipe I tinha a companhia de vários portugueses, aprendeu a falar português e comia comida portuguesa. Tudo por influência da sua mãe. Esta educação esmerada iria refletir-se alguns anos mais tarde forma como ele se relacionava com Portugal e com os portugueses.
Imediatamente após ser coroado Rei de Portugal, Filipe I decidiu passar 3 anos em Lisboa para aprender os costumes locais e compreender a cultura do país. Fez questão de preservar a autonomia portuguesa com um grau bastante elevado, muito superior ao das outras regiões espanholas. Incentivou a preservação e divulgação da língua portuguesa, exigindo mesmo que todos os documentos oficiais continuassem a ser escritos em português, mesmo aqueles que deveriam ser enviados para Madrid.
E não apenas isso: mandou recuperar monumentos e encetou um ambicioso porgrama de obras públicas em Portugal. As suas decisões contribuiram largamente para o desenvolvimeto do país naquela época. Foi a falta de sensibilidade e o centralismo exagerado dos seus sucessores que ditaram fim da União Ibérica.
E como curiosidade final: Filipe I tinha um amor tão grande por Portugal que mandou fazer um crucifixo e o seu próprio caixão utilizando a madeira da nau portuguesa Cinco Chagas. O nacionalismo português dos séculos seguintes tratou de diabolizar a dinastia filipina e todos os seus governantes, mas Filipe I merece, sem dúvida, que os portugueses conheçam a sua história e o seu amor por Portugal.
Interessante.