Numa história com quase novecentos anos, muitos foram os reis que se destacaram, tendo realizado projetos megalómanos, aumentado o território nacional, vencido batalhas e assinado tratados de relevo. No entanto, existem também episódios mais curiosos que envolvem estas mesmas personagens. Hoje, iremos centrar-nos na figura do rei D. Luís I.
Nascido em 1838, era o segundo filho da rainha D. Maria II e de D. Fernando II. O seu irmão mais velho, D. Pedro V, assumiu a coroa após a morte da mãe, mas apenas reinou por 5 anos.
Após a sua morte imprevista, o trono caiu nas mãos de D. Luís, que era então comandante da corveta Bartolomeu Dias. Reinou entre 1861 e 1889, tendo ficado conhecido com o cognome de “o Popular”.
Apesar de nada fazer prever que viria a reinar, D. Luís teve uma educação bastante rigorosa, sendo uma pessoa com elevada sensibilidade e culta. Tinha um especial gosto pelas Letras e dominava várias línguas, tendo traduzido diferentes obras, como Hamlet, o Mercador de Veneza, Ricardo III e Otelo, de William Shakespeare.
O rei tinha também uma veia artística, com o desenho e a pintura a ocuparem muito do seu tempo, assim como a música, especialmente o piano e o violoncelo. Casou em 1862 com D. Maria Pia de Saboia, filha de Vítor Emanuel II, rei da Itália. Tiveram dois filhos, D. Carlos e D. Afonso, sendo que o primeiro se tornou rei.
D. Maria Pia era uma esposa fiel e uma mãe sensível, mas tinha também uma personalidade bastante forte. Não apreciava as escapadelas do marido e nem sempre soube manter a sua elegância, protagonizando algumas cenas de ciúmes devido a isso.
É que D. Luís I apreciava muito a vida noturna e gostava de visitar clubes e gozar a vida, o que envolvia tabaco, boa comida e muitas mulheres. Apesar da sua postura sóbria enquanto rei, tinha uma forma mais libidinosa de encarar a sua vida privada, pela qual sempre ficou conhecido.
Como ele devia ser um homem de família sério durante o dia, para poder continuar a sair à noite em paz fingia ser um Dr. Tavares. O Dr. Magalhães Coutinho acompanhava-o nestas saídas, dando ainda mais credibilidade ao seu disfarce.
Entre os diversos casos amorosos em que D. Luís I esteve envolvido, o mais famoso terá sido o que teve com a atriz Rosa Damasceno, que era então esposa de um conhecido oficial do exército.
Consta-se, aliás, que o único filho que Rosa Damasceno teve seria, na realidade, de D. Luís I. A criança foi registada como tendo “pai incógnito” mas, ao longo dos tempos, recebeu uma renda mensal do rei, assim como várias ofertas de quintas e terrenos.
D. Maria Pia sabia das traições do marido, mas na hora da morte deste, manteve-se firme e fiel, acompanhando-o ao longo da doença e fazendo de tudo para o confortar, falando-lhe docemente em italiano e ajudando a aliviar um pouco as dores que o marido sentia. D. Luís I faleceu a 19 de outubro de 1889, sendo sucedido pelo seu filho, D. Carlos I.
Quanto a D. Maria Pia, o seu destino não foi meigo, uma vez que assistiu ao assassínio do filho D. Carlos e do neto e herdeiro D. Luís Filipe. Dois anos mais tarde, instaurava-se a República e ela, o seu neto D. Manuel II e a sua nora D. Amélia de Orleães partiram para o exílio, em 1910.
D. Maria Pia faleceu em Piemonte, Itália, a 5 de julho de 1911. Apesar das suas origens estrangeiras e de quase não saber falar português (tal como a grande maioria das rainhas da época), foi acarinhada pelo povo graças às suas obras de cariz social e ao seu apoio aos mais desfavorecidos.