Se é fã de história ou de arquitetura religiosa, a igreja mais antiga de Lisboa é uma paragem obrigatória. Falamos da Sé Catedral de Lisboa (a Santa Maria Maior de Lisboa), sede do Patriarcado da cidade e da Paróquia da Sé. A sua construção iniciou-se na segunda metade do século XII, em 1147, após a cidade ser tomada aos mouros por D. Afonso Henriques. Foi classificada como monumento nacional em 1910.
Lisboa foi sede de um bispado desde pelo menos o séc. IV, sabendo-se que existiram vários bispos na cidade durante o período visigótico, entre os séculos V e VII. No início do séc. VIII, Lisboa foi tomada pelos mouros, mas continuaram a existir cristãos na cidade e seus arredores. Quando D. Afonso Henriques tomou a cidade, Lisboa tinha um bispo moçárabe (nome dado aos cristãos que viviam sob domínio muçulmano).
Após a reconquista, foi nomeado bispo da cidade um cruzado inglês, Gilberto de Hastings, tendo de seguida começado as obras de construção da catedral, aparentemente no local da antiga Mesquita. Foi nessa época que D. Afonso Henriques trouxe as relíquias de S. Vicente de Saragoça do Algarve e as depositou na Sé, que ficou terminada nas primeiras décadas do séc. XIII.
O projeto de construção é muito semelhante ao da Sé de Coimbra, seguindo modelos normandos, incorporando três naves com trifório, transepto saliente e cabeceira com três capelas. O seu primeiro arquiteto foi Mestre Roberto, que trabalhou igualmente na construção da Sé de Coimbra e no Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra.
Apesar da proibição medieval de enterrar laicos na capela-mor, abriu-se uma exceção para D. Afonso IV, pela sua heroica prestação na Batalha do Salado, em 1340. Assim, a nova cabeceira começou a ser construída na primeira metade do séc. XIV, mas as obras apenas terminaram no início do séc. XV, já durante o reinado de D. João I, altura em que os túmulos de D. Afonso IV e da sua esposa, D. Beatriz, foram transladados para a capela-mor.
A Sé foi sendo alvo de obras ao longo dos anos. A criação de um deambulatório com uma série de capelas na cabeceira foi uma obra que ajudou a modernizar o espaço, tornando-o mais apto a receber os peregrinos que vinham ver as relíquias de S. Vicente. Já no séc. XIV, Lisboa e a Sé foram afetadas por vários terramotos, sendo que um deles, no início do séc. XV, causou modificações nas obras. Terá sido nessa época que se fecharam os arcos que ligavam o deambulatório à capela-mor.
A meio do séc. XVII construiu-se uma sacristia em estilo maneirista, junto à fachada sul. No séc. XVIII; a capela-mor de estilo gótico foi alterada para o estilo barroco. Com o terramoto de 1755, a Capela do Santíssimo foi destruída, bem como a torre sul, o claustro e a decoração da capela-mor (incluindo os túmulos reais). A torre-lanterna também ruiu parcialmente, destruindo parte da abóbada de pedra da nave, que foi reconstruída em madeira. Ao longo da década seguinte, a Sé passou por muitas reformas e redecorações. Entre 1761 e 1785, reconstruiu-se a Capela do Santíssimo.
Estas adições barrocas foram retiradas graças a uma grande campanha de restauro ocorrida na primeira metade do séc. XX, que pretendia devolver à Sé a sua aparência medieval. Assim, em 1902, encarregou-se Augusto Fuschini da obra, tendo este planeado um edifício revivalista ao estilo neogótico. Para isso, Fuschini demoliu algumas construções que flanqueavam a igreja, reconstruiu abóbadas, restaurou e abriu janelas e coroou de ameias o edifício. Após a sua morte, em 1911, o projeto passou para as mãos de António do Couto Abreu, que privilegiou as estruturas medievais ainda existentes.
Dicas para apreciar a Sé de Lisboa
Se vai fazer uma visita à Sé de Lisboa, não deixe de admirar a sua fachada, semelhante a uma fortaleza, e que foi construída no séc. XII. A aparência ameaçadora da fachada garantia que a catedral pudesse ser usada para proteger os guardas durante um cerco. Vários dos detalhes originais da fachada ainda saltam à vista, como os motivos romanescos no tipo das colunas esculpidas do portal.
Já lá dentro, observe com atenção a dramática cúpula gótica e a sacristia de estilo barroco, construída no séc. XVII. O túmulo de D. Afonso IV, situado na capela principal neoclássica, merece certamente uma visita demorada. Procure pela fonte onde se diz que Santo António de Lisboa foi batizado em 1195. Por último, não se esqueça de visitar as ruínas do claustro de estilo gótico na ala leste da catedral, mandado construir por D. Dinis no final do séc. XIII, e que foi muito danificado pelo terramoto de 1755.
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