O rei de que aqui lhe vamos falar era D. António, Prior do Crato, que para muitos historiadores chegou a ser de facto rei, apesar de não constar da cronologia oficial dos nossos reis. Nascido em Lisboa, em 1531, era filho natural do Infante D. Luís e neto de D. Manuel I, tendo sido um dos candidatos ao trono de Portugal durante a crise sucessória de 1580, após a morte de D. Sebastião.
Ficou conhecido pelo cognome de Prior do Crato, sendo também chamado de o Determinado, o Lutador ou o Independentista, pela ênfase que pôs no recobro da independência portuguesa.
Segundo alguns historiadores, D. António foi aclamado rei do nosso país e reinou efetivamente, em 1580, embora por um curto espaço de tempo, ficando depois a sua autoridade confinada a algumas ilhas dos Açores até 1583. No entanto, não consta da lista dos Reis de Portugal, e em geral é considerado apenas um candidato ao trono.
A verdade é que, a 24 de julho de 1580, em preparação para a esperada invasão espanhola, D. António foi aclamado rei de Portugal pelo povo no castelo de Santarém. Diz-se que D. António apenas pediu para ser declarado regente e defensor do reino, mas que o entusiasmo do povo o entronou. Acabou por ser aclamado em Lisboa, Setúbal e outros locais. No entanto, a 25 de agosto do mesmo ano, as suas forças são derrotadas na batalha de Alcântara, pelo duque de Alba.
D. António sobreviveu ao combate e fugiu para Norte, com as tropas de Sancho de Ávila a persegui-lo até Viana do Castelo. De novembro de 1580 até maio do ano seguinte, D: António irá viver escondido, abrigando-se em mosteiros e em casas de partidários devotos. Sabe-se que de junho a setembro de 1581 esteve em Inglaterra, procurando o auxílio militar de D. Isabel I (que não lho concede) e que parte de seguida para França, onde encontra ajuda.
Volta assim, em 1582, a Portugal, mais concretamente à ilha Terceira, nos Açores, que estava do seu lado, local onde continuou a governar, embora apenas localmente, já que em Portugal continental e na Madeira o poder era exercido por Filipe II de Espanha, reconhecido pelas Cortes de Tomar de 1581 como Filipe I de Portugal.
D. António, desembarcado na vila de São Sebastião, marchou por terra até aos portões de São Bento, nesta cidade, onde era esperado por Ciprião Figueiredo, pelo conde de Torres Vedras, por Manuel Silva e por outras personalidades locais. Prova de que a ilha lhe era leal foi o facto de as fortificações de Angra terem salvado à chegada de D. António.
Este ficou hospedado no Convento de São Francisco, e mais tarde, no palácio do marquês de Castelo Rodrigo. Sabe-se que visitou a baía da Salga e a baía da Praia (a atual Praia da Vitória), e que frequentou o Convento da Esperança, sendo apoiado por estas religiosas.
D. António concentrou-se em reforçar as defesas de Angra, com um ataque espanhol iminente e para se defender da ação de corsários, contando para tal com a ajuda financeira de Dona Violante do Canto.
No que toca a Finanças, mandou cunhar moeda, ato de soberania e realeza, sendo essa a razão pela qual é considerado por muitos como um rei de facto e o derradeiro príncipe da Casa de Avis, ao invés do Cardeal D. Henrique.
Em julho de 1583, D: António tinha já escrito à rainha de França, Catarina de Médici, a pedir auxílio, que nunca chegou. Em 1581, regista-se a primeira tentativa de desembarque de tropas espanholas, na batalha da Salga, onde a Espanha foi derrotada. Como curiosidade, neste combate participaram os escritores Cervantes e Lope de Veja.
Apesar da vitória, as forças de D. António foram finalmente derrotadas, e D. António instalou-se na França, inimigo tradicional dos Habsburgos de Espanha.
Em 1583, já D. António tinha partido para o exílio, forças espanholas sob o comando de D. Álvaro de Bazán dominaram finalmente a ilha Terceira, após violentos combates.