A aldeia de xisto de Janeiro de Cima localiza-se nas margens do Zêzere, no concelho do Fundão. Trata-se de um recanto esquecido e quase perdido no tempo onde dá gosto passear. As suas casas de xisto são peculiares: aproveitam também os seixos rolados do rio para conferir mais estrutura às suas paredes.
O seu nome é curioso, mas nada tem a ver com os meses do ano. Dizem os populares que terá tido origem em “Januário”, mas isso não é verdade porque a aldeia existe desde o século XV, pelo menos, e o primeiro registo de uma criança com o nome Januário só acontece no século XVIII. A hipótese mais plausível é que será uma derivação de algum termo latino, embora ninguém saiba qual.
Tal como muitas outras aldeias espalhadas por esse país fora, Janeiro de Cima cresceu à volta da sua igreja, construída antes do século XV. Um emaranhado de ruas estreitas e sinuosas conduz até ao largo onde este monumento religioso se encontra. E nessas ruas está o xisto, sempre presente.
Mas nem sempre foi assim. Ou melhor, esteve quase a deixar de o ser. As casas mais antigas da aldeia eram todas construídas em xisto e seixos retirados do rio Zêzere. Nos anos 80, os habitantes começaram a construir casas em cimento, procurando mais conforto. Mas nos últimos anos voltou-se a apostar no xisto como material de construção.
A aldeia ganha assim, de novo, a sua personalidade. E os seus habitantes mostram muito orgulho nisso já que são eles próprios que fazem questão de embelezar as suas casas e de mantê-las o mais típicas e tradicionais possível. O resultado está à vista: tem aumentado constantemente o número de turistas, especialmente aos fins de semana.
Se outrora a população vivia da agricultura, da pastorícia ou da tecelagem, hoje começam a surgir os primeiros alojamentos de turismo rural, dispostos a acolher quem visita a aldeia de forma tradicional e respeitando os hábitos e costumes de antigamente, mas com todo o conforto que se exige nos dias de hoje.
Das atividades do passado, restam alguns campos agrícolas usados para a agricultura familiar e resta ainda o museu da tecelagem, construído em honra a esta arte que foi tão forte na aldeia. Nos campos que a rodeiam crescia linho e as mulheres da aldeia dedicavam-se a produzir tecidos que depois vendiam.
Algumas outras memórias ainda persistem nos dias de hoje. É ainda possível, por exemplo, atravessar o rio de barco, tal como antigamente se fazia para quebrar o isolamento da aldeia. Outrora por necessidade, hoje é por diversão que as pessoas se metem numa das barcas típicas e atravessam ou sobem o rio num passeio.
Ao longo do rio é possível chegar até Janeiro de Baixo, a irmã gémea e inseparável desta aldeia. Também ela faz parte da rede de aldeias de xisto e visitá-la é fazer uma autêntica viagem no tempo. E se estiver por aqui no Verão, para além do passeio na barca tradicional, também pode dar um mergulho na praia fluvial de Janeiro de Cima.
Uma das melhores formas de conhecer a aldeia e os seus arredores é realizando algum dos vários trilhos ou percursos pedestres da região. O mais indicado é o “PR2 FND Caminho do Xisto de Janeiro de Cima – Ó da Barca!”. São 10 quilómetros de percurso circular, de dificuldade fácil e que se fazem em aproximadamente 3 horas.
Se quiser explorar as restantes aldeias de xisto que existem nos arredores, pode começar precisamente pela já mencionada Janeiro de Baixo, mesmo do outro lado do rio. De seguida, pode optar por visitar Barroca, também no Fundão, ou Álvaro, no concelho de Oleiros.
Em qualquer uma destas aldeias de xisto vale a pena experimentar a gastronomia de elevada qualidade que é típica desta região. Os pratos de carne, como o cordeiro ou o cabrito, são o grande destaque, mas os maranhos ou a chanfana também merecem uma oportunidade.
E no final da sua visita a Janeiro de Cima, não vá embora sem antes comprar uma pequena lembrança ou um produto regional. Além de ajudar o comércio local, irá também contribuir para que os seus habitantes possam continuar a viver aqui e a recebê-lo sempre de braços abertos.