Em Portugal é possível encontrar inúmeras lendas e histórias transmitidas de boca em boca ao longo de gerações, e que ainda hoje nos deliciam. Algumas são mais conhecidas em todo o território, outras apenas em determinadas regiões, mas todas elas são bastante apelativas. Muitas destas lendas reportam acontecimentos verídicos, mesmo que com alguns toques de imaginação à mistura.
As lendas são uma ótima forma de transmitir valores morais aos mais pequenos e as crianças adoram sempre uma boa história, especialmente quando existe alguma fantasia à mistura. Por isso, estas lendas pequenas e curtas são ideais para contar aos seus filhos ou aos seus alunos na escola.
Assim, enquanto desfrutam de um momento lúdico, estarão também a aprender um pouco mais sobre a História de Portugal. Descubra algumas das mais interessantes lendas de Portugal (pequenas, para ser mais fácil de contar às crianças).
1. Lenda do Galo de Barcelos
Há muitos anos, uma família de peregrinos, ao passar por Barcelos, decidiu hospedar-se numa estalagem para descansar. Levavam consigo um saco com comida, para matar a fome da viagem. Mas o estalajadeiro, ganancioso, chamou a polícia e disse que os peregrinos o tinham roubado.
A família foi, assim, condenada à morte. Mas o chefe de família não se ficou, e, apontando para o galo morto que levavam consigo, disse: “É tão certo eu estar inocente como este galo cantar!” E o galo cantou, livrando-os da morte.
2. Lenda da Serra da Estrela
Existiu em tempos um pastor, que todas as noites se encontrava com uma estrela no alto da serra. Esta estrela era a sua companhia, e ele prezava-a muito. Certo dia, o Rei ouviu dizer que o pastor falava com uma estrela, e mandou-o chamar, propondo-lhe que trocasse a sua amiga por riquezas.
Mas o pastor preferia continuar pobre a perder a sua única amizade, e foi isso mesmo que disse ao Rei. Portanto, voltou para junto da sua estrela, e nesse dia profetizou que, a partir dali, seria dado o nome de Serra da Estrela ao local onde se encontravam. Dizem que, ainda hoje, existe uma estrela que brilha mais que as outras, no alto da serra, à procura do seu amigo pastor.
3. Lenda do Cativo de Belmonte
Manuel, nascido em Belmonte, era um soldado valente, combatendo os muçulmanos com ardor. Mas um dia, foi capturado por estes e levado para Argel, onde ficou como escravo durante anos. Mas ele não se deixou desanimar, e combatia as saudades de casa e da sua terra com trabalho.
Muitos anos passaram, até que um mouro lhe perguntou o que significava a palavra que Manuel repetia constantemente: esperança. Manuel explicou-lhe que significava o desejo de voltar a ver a sua terra e a sua fé na Virgem da Esperança. Mas a resposta apenas fez com que o mouro lhe desse trabalhos mais pesados.
No entanto, a Virgem teve piedade de Manuel e, perante os olhares de espanto dos mouros, a arca onde ele costumava dormir levantou-se no ar e despareceu em direção ao mar.
4. Lenda de Pedro Sem
Pedro Sem era um mercador rico da cidade do Porto. Apesar da riqueza, ele não tinha um título nobiliárquico, algo que muito o entristecia. Vivia rodeado de todos os luxos graças à desgraça alheia, já que emprestava dinheiro com juros elevados. E foi assim que realizou a sua ambição de pertencer à nobreza: casou-se com uma jovem nobre em troca do perdão das dívidas do seu pai.
A festa de casamento durava já 15 dias, quando as suas naus, vindas da Índia, se aproximaram da barra do Douro. Arrogante, o mercador subiu à torre do seu palácio e desafiou Deus, dizendo que nem mesmo o Criador o podia tornar pobre.
Mas nesse momento, o céu azul cobriu-se de tempestade. As naus naufragaram, e a torre foi atingida por um raio, que fez deflagrar um incêndio que destruiu todos os seus bens.
Quanto a Pedro Sem, não teve outro remédio senão passar a pedir esmola nas ruas, lamentando-se: “dê uma esmolinha a Pedro Sem, que teve tudo e agora nada tem”.
5. Lenda da Senhora da Lapa
Diz a lenda que a imagem de Nossa Senhora da Lapa apareceu num penedo de difícil acesos, na Beira Alta. Os devotos construíram-lhe templo num sítio mais acessível, mas a imagem da Senhora voltava sempre para o antigo penedo quando a colocavam na nova capela. Isto tantas vezes aconteceu que acabaram por fazer a vontade à Virgem e construíram a sua apela naquele mesmo penedo.
Mas esta não é a única lenda associada ao local. Diz-se que um peregrino, cansado, adormeceu junto à capela. Uma cobra que por ali passava entrou-lhe na boca, fazendo-o acordar assustado. Então, o peregrino pensou na Senhora da Lapa, e a cobra virou-se imediatamente e saiu, sendo depois apanhada e morta.
6. Lenda da Inês Negra
A Inês Negra era uma mulher do povo, fiel à independência do nosso país, por alturas do início do reinado de D. João I. Como algumas terras portuguesas eram a favor de Castela, ela abandonou Melgaço. Mais tarde, quando D. João I se propôs reconquistar essa terra, Inês Negra juntou-se ao seu exército.
Mas o combate entre os soldados nunca chegou a acontecer: a inimiga de longa data de Inês, a “Arrenegada”, desafiou-a do alto das muralhas, propondo que a contenda fosse resolvida entre as duas. Os dois exércitos aceitaram a proposta.
A meio da luta, tudo parecia estar perdido para Inês: a inimiga tirou-lhe a espada das mãos. Mas esta, rápida de pensamento, tirou uma forquilha das mãos de um camponês e continuou o combate.
No final, as duas resolveram lutar sem arma, e Inês conseguiu ferir a “Arrenegada” de tal forma que esta fugiu para o castelo. Cumprindo o acordo, os castelhanos deixaram Melgaço no dia a seguir. D. João I quis recompensar a heroína, mas esta disse-lhe que já era recompensa suficiente ter derrotado a inimiga.
7. Lenda do Castelo de Faria
D. Fernando I, rei de Portugal, quebrou uma promessa de casamento com a filha do rei de Castela quando se apaixonou e casou com D. Leonor Teles. Assim, o rei castelhano desencadeou guerra contra o nosso país, invadindo o Minho a partir da Galiza.
Houve uma grande contenda nos arredores de Barcelos, em que os portugueses forma derrotados e muitos foram feitos prisioneiros, incluindo D. Nuno Gonçalves, o alcaide-mor do castelo.
D. Nuno tinha receio que o filho, D. Gonçalo, entregasse o castelo em troca da sua vida. Pensou num estratagema, e pediu que o levassem aos muros do castelo, dizendo que iria pedir ao filho para entregar o castelo aos castelhanos.
Mas, lá chegados, pediu ao filho que defendesse o castelo até ao fim, mesmo que a custo da sua vida. Vendo-se traídos, os castelhanos mataram logo D. Nuno e atacaram o castelo.
Mas D. Gonçalo resistiu heroicamente e levou os castelhanos a desistirem da luta. D. Gonçalo foi mais tarde premiado pelo rei português, graças à sua coragem, mas acabou por pedir a D. Fernando para abandonar o cargo de alcaide e tornar-se sacerdote.
8. Lenda de Deu-la-Deu Martins
Em tempos de guerra entre D. Fernando I e D. Henrique de Castela, viveu em Monção Deu-la-Deu Martins, esposa do capitão-mor da região. Um dia, o exército galego decidiu cercar Monção, aproveitando a ausência do capitão-mor, A vila lá foi aguentando o cerco, sob o comando de Deu-la-Deu, mas os mantimentos estavam já a tornar-se escassos…
Foi então que Deu-la-Deu teve uma ideia. Mandou fazer alguns pães com a pouca farinha que restava, pegou neles, subiu à muralha e atirou-os aos sitiantes, dizendo-lhes que as provisões eram abundantes na cidade e que, como o cerco durava já há muito, os galegos podiam precisar daqueles pães. Então o inimigo, cheio de fome e a pensar que o cerco poderia demorar ainda muito tempo, decidiu retirar para Espanha.
9. Lenda da Bezerra de Monsanto
Diz-se que, há muitos anos atrás, as tropas romanas cercaram Monsanto durante sete longos anos. Os habitantes, apesar do sofrimento, nunca se renderam. Ao velho chefe da aldeia, restava apenas uma filha; os restantes tinham sido mortos pelo inimigo. Por isso, o chefe queria que a filha fugisse e se pusesse a salvo, algo que ela recusava.
Perante a coragem da filha, o velho decidiu sacrificar o seu último rebanho e reparti-lo com os habitantes, já que os alimentos escasseavam. Ao aperceberem-se da trágica situação dos sitiados, os romanos apertaram ainda mais o cerco. Mas a filha do velho chefe teve então uma ideia. Agarrou na última bezerra que lhes restava e, cheia de coragem, subiu ao cimo das muralhas.
Gritou então aos romanos que não se iriam render, porque tinham muita comida, e, como prova, atirou-lhes a bezerra. O cônsul romano, cansado de tantos anos de cerco e perante a perspetiva de este durar ainda mais, decidiu retirar as suas tropas e regressar a Roma.
10. Lenda da Mula da Rainha Santa
D. Mafalda era a filha preferida de D. Sancho I e uma jovem e bela princesa. Foi escolhida para esposa de D. Henrique, herdeiro do trono de Castela, que tinha 12 anos quando se tornou rei.
Mas a mãe de D. Henrique, contrariada com aquele casamento, intercedeu junto do Papa e foi proferido o divórcio, regressando D. Mafalda a Portugal e retirando-se para o Mosteiro de Arouca, onde recebeu o hábito de monja.
Quis o destino que D. Mafalda morresse em Rio Tinto, aos 90 anos, durante uma cobrança de foros e rendas. Os habitantes de Rio Tinto quiseram então que ela fosse lá sepultada, mas os de Arouca discordavam, já que D. Mafalda lá tinha vivido muitos anos.
Então, alguém se lembrou que D. Mafalda costumava viajar de mula, e sugeriu pôr o caixão em cima desta. O sítio para onde fosse a mula seria o local de sepultura de D. Mafalda.
Assim se fez. A mula dirigiu-se então ao Mosteiro de Arouca e morreu. O sepulcro de D. Mafalda foi ali construído, tendo este sido aberto duas vezes no séc. XVII, encontrando-se o corpo e as vestes incorruptos. Em 1793, o Papa Pio VI confirmou o culto de D. Mafalda, dando-lhe o título de Beata.