Por vezes basta uma opinião, um comentário ou uma ligeira imprecisão para se criar um mito que se pode perpetuar e ser assumido por muitos como verdade absoluta. E podemos dizer que, em Lisboa, isso pode acontecer com bastante frequência, tal é a quantidade mitos e lendas urbanas associadas à capital portuguesa.
É o que se passa com a lenda que diz que a estátua que se encontra na Praça do Rossio não é de Dom Pedro IV, mas sim do Imperador Maximiliano do México. Explicamos-lhe neste artigo como nasceu esta versão da história e porque é que ela não tem qualquer fundamento.
D. Pedro IV, filho de D. João, VI e de D. Carlota Joaquina, nasceu a 12 de outubro de 1798, em Queluz. Iniciou o seu reinado em 1826 e ficou para a história com o nome de “o Rei soldado”, pela sua participação na independência do Brasil e na causa pela monarquia constitucional em Portugal.
Foi rei em Portugal e Imperador no Brasil, com o nome de Dom Pedro I. Casou com D. Maria Leopoldina de Habsburgo e, mais tarde, com D. Amélia de Beauharnais. Abdicou do trono de Portugal a favor da sua filha, a futura Rainha D. Maria II, e do trono do Brasil a favor do seu filho, o imperador Dom Pedro II. Morreu no dia 24 de setembro de 1834, no Palácio Nacional de Queluz.
Deve-se a D. Pedro IV o célebre grito do Ipiranga, para além da vitória das forças da monarquia constitucional contra as forças do seu irmão absolutista, D. Miguel. Como em Lisboa o palco da Revolução Liberal foi a Praça do Rossio, achou-se por bem erguer-se ali uma estátua em homenagem a este grande lutador.
No entanto, o processo foi tudo menos pacífico ou fácil, uma vez que foram feitos 3 concursos públicos e 2 demolições. O terceiro concurso Internacional ocorreu em 1864, havendo 87 projetos candidatos. Venceu o projeto do escultor Louis Valentin Elias Robert e do arquiteto Gabriel Davioud.
O projeto vencedor consistia numa coluna colossal, cuja base ostentava princípios como a moderação, prudência, justiça e fortaleza. Incluía também as armas das 16 cidades do Reino e no topo, uma coroa de louros, o manto real e a Grã-cruz da Torre e Espada. D. Pedro segurava na mão a Carta Constitucional e fitava o bisavô absolutista, Dom José I, montado a cavalo e representado no Terreiro do Paço.
No entanto, durante muito tempo, alimentou -se a versão de que a estátua equestre de D. Pedro no Rossio era, na sua génese, uma representação de Maximiliano do México, personagem histórica que acabou fuzilada.
Segundo a lenda, tinha sido feito um reaproveitamento de uma estátua de Maximiliano, que, entretanto, já não fazia sentido ser erguida. Outras versões dizem que houve uma troca de estátuas e que, por essa ordem de ideias, a estátua de D. Pedro estava no México, e a de Maximiliano no Rossio.
Não há, no entanto, fundamento para estas histórias, uma vez que todos os projetos e insígnias da obra confirmam que a estatua pretende ser uma representação fiel de D. Pedro.
Para além da estátua no Rossio, D. Pedro também tem estátuas um pouco por todo o Brasil, e na cidade do Porto, que sempre teve uma ligação muito forte a D. Pedro e à sua filha, a Rainha D. Maria II. Aliás, é no Porto que repousa o coração do monarca, na igreja de Nossa Senhora da Lapa, por pedido expresso por D. Pedro IV no seu testamento.
Ninguém sabe muito bem como nasce uma lenda urbana ou um mito, mas o certo é que eles acabam por ganhar alguma força e tornam-se parte da cultura popular de cada localidade. Lisboa tem muitas destas histórias curiosas, algumas mais peculiares do que outros e até com algum fundo de verdade.
Mas neste caso, quando visitar o Rossio e olhar para a imponente estátua que está no centro da praça, pode ter mesmo a certeza de que se trata realmente de D. Pedro IV, um rei crucial na história de Portugal e do Brasil.