A língua portuguesa é falada em território espanhol desde a fronteira com a Galiza, até o coração da Estremadura. São vários os concelhos da Raia fronteiriça que, historicamente, têm o português como idioma próprio. Como regra geral, são pequenas aldeias ou concelhos com um forte declínio demográfico, relativamente castelhanizados e secularmente esquecidos. De norte ao sul são:
1. Na Galiza, na franja ocidental das Astúrias e na parte ocidental da bacia do Sil, e na região e arredores de Lubián se considerarmos o galego como uma variante do sistema galego-português.
2. Ermesende (Hermisende, oficialmente em castelhano) na comarca da Seabra (Zamora) e em algumas aldeias que a rodeiam.
3. Rihonor de Castilla, onde existe uma fala mista de transição.
4. Calabor, aldeia do concelho de Pedralba de la Pradería na comarca da Seabra (Zamora).
5. A Fregeneda (La Fregeneda oficialmente em castelhano) povoação perto de São Félix dos Galegos. Na toponímia podem notar-se vestígios galego-portugueses.
6. São Félix dos Galegos (San Felices de los Gallegos em castelhano), localidade que pertenceu a Portugal em vários momentos nos séculos XIII, XIV e XV.
7. Almedilha (La Alamedilla) na província de Salamanca, na Bouça (La Bouza). O último falante de português morreu no início do século XX.
8. Vale de Xálima (onde o português, fortemente dialectalizado é chamado fala de Xálima). O dialecto português é falado nos concelhos de São Martim de Trevelho (San Martín de Trevejo), As Elhas (Eljas) e Valverde do Fresno (Valverde del Fresno), ao noroeste da Estremadura espanhola. A região é conhecida como Os Três Lugares.
9. Ferreira de Alcântara (Herrera de Alcántara), onde o português dialectal ali falado é chamado firrenho. Ainda persite na comarca de Alcántara e na povoação vizinha de Santiago de Alcântara, onde a influência do português faz-se ouvir em muitas expressões.
10. Cedilho (Cedillo), na comarca de Alcântara.
11. Valença de Alcântara, o português é falado em diversas aldeias da região de Valencia de Alcántara; As Casinhas (Las Casiñas), Jola, O Pinho (el Pino), Fontanheira (la Fontañera), São Pedro (San Pedro) e muitas outras…
12. A Codosera (La Codosera), na comarca de Alcântara.
13. Olivença e Talega. O português é falado na sua variante oliventina na cidade e nas suas aldeias: São Francisco (San Francisco), São Rafael (San Rafael), Vila Real de Olivença (Villarreal), São Domingos de Gusmão (Santo Domingo de Guzmán), São Bento da Contenda (San Benito de la Contienda), São Jorge da Lor (San Jorge de Lor).
O português falado na Espanha não é protegido pelo governo espanhol ou pelos governos regionais de Castela e Leão e Estremadura, e não tem o apoio do Governo Português.
O uso do português, muitas vezes apenas sob a forma de dialecto e quase a desaparecer, mas historicamente falado pela sua população, é gradualmente substituído pelo castelhano numa sociedade profundamente diglóssica que foge do conflito da sua identidade, abandonando a sua língua portuguesa.
Mañegu, Valverdeiru e Lagarteiru
A fala da Estremadura ou fala de Xálima (em estremenho: A Fala) é uma variedade linguística do galaico-português usada por cerca de 10 500 pessoas na parte mais ocidental da província de Cáceres, na Espanha, junto à fronteira portuguesa. É utilizada numa área conhecida por vale de Xálima (ou Jálama) ou vale do rio Ellas (o Eljas, na foto), no noroeste da província de Cáceres, na região espanhola da Estremadura. Foi declarada Bem de Interesse Cultural pela administração da Estremadura em 20 de Março de 2001.
É também conhecida por galego da Estremadura e por valego. Tradicionalmente, não existe um nome único que abranja as três variantes que se falam em cada um dos três concelhos do vale. Os nomes populares são:
O Manhego (mañegu, na sua fala), falado em São Martinho de Trebelho.
O Valverdeiro (valverdeiru, na sua fala), falado em Valverde do Fresno.
O Lagarteiro (lagarteiru, na sua fala), falado nas Ellas.
Segundo alguns filólogos, existe uma forte relação entre estas falas e os dialectos portugueses falados no Concelho do Sabugal, em Portugal. No vale, existem cerca de cinco mil falantes destas três variantes. Como consequência da emigração, existem cerca de três mil naturais da região que vivem fora e que mantêm o uso familiar da língua. Regressam no verão, reforçando a utilização do idioma.
A fala é a língua habitual da população, com a excepção dos funcionários do estado, da polícia e de outras pessoas vindas de fora do vale. Não há perda linguística com as gerações mais novas, ainda que Valverde se possa dizer ser o concelho mais castelhanizado. A partir de 1960, o número de castelhanismos na língua falada aumentou progressivamente, devido à escola, ao serviço militar e aos meios de comunicação.
As primeiras referências filológicas conhecidas sobre a fala foram realizadas por Fritz Krüger, em 1925, e por Otto Fink, em 1929, ao estudarem o castelhano dialectal da zona. José Leite de Vasconcelos realizou uma outra investigação entre 1929 e 1933, ainda mostrando fenómenos que nunca voltaram a registar-se nos estudos seguintes, que a aproximava do Português, sendo então a opinião de se tratar de um dialecto do Português unânime.
O primeiro investigador a referir-se a esta fala como de origem galega, comparando-a com os forais de Castelo-Rodrigo (1209) e relacionando-a com a possível chegada de povoadores galegos à zona nos séculos XII e XIII foi Lindley Cintra, em 1959: “O falar fundamentalmente galego, mas com leonesismos, de Castelo Rodrigo e Riba-Coa no séc. XIII, o falar também essencialmente galego da região de Xalma, outra coisa não são, segundo creio, do que falares destes núcleos de repovoadores galegos tão frequentemente recordados pela toponímia”.
Clarinda de Azevedo também se refere a esta repovoação, afirmando a sua relação com um galaico-português arcaico e portanto maior proximidade com o Galego actual. José Luis Martín Galindo crê que as falas são anteriores a uma possível repovoação galega, mas esta tese não conquistou muitos partidários.
Xosé Henrique Costas González nos seus estudos afirma a galeguidade destas falas estabelecendo a sua origem na repovoação por galegos nos séculos XII e XIII e a interferência de leonesismos como consequência dum longo contacto com o leonês.
A existência de palavras galegas na Serra de Gata e no sudoeste de Salamanca poderia indicar que a extensão da fala na Idade Média tivesse sido maior do que na actualidade. Frías Conde também se mostra partidário da galeguidade destas falas. José Enrique Gargallo Gil fala de um galego-português fronteiriço e arcaizante, admitindo uma maior vinculação com o galego de que com o português. Juan Manuel Carrasco González classifica a fala como a terceira variedade do galego-português.
A peculiar língua da aldeia espanhola de La Codosera
Na zona raiana, a vila de La Codosera na Província de Badajoz, a sua fala corresponde à forma Alentejana das povoações próximas de Portugal, com a única diferença de incluir algum castelhanismo. A vitalidade da mesma é absoluta. O Português é ensinado na escola, e é a língua de comunicação preferida e a população tem muito orgulho nas suas ligações a Portugal, sendo este mesmo uma das fortes componentes da identidade da vila, que de resto segue em muito a tipicidade de uma vila alentejana.
Ao contrário do que se possa pensar, La Codosera não fazia parte do território de Olivença. Como explicar então esta forte presença da língua portuguesa e de hábitos culturais portugueses? Em primeiro lugar, durante séculos foi muito frequente a emigração de portugueses para esta pequena aldeia. E, talvez ainda mais importante, é muito frequente o casamento entre portugueses e espanhóis, sendo que nos últimos censos foram registados, apenas em La Codosera, 200 casamentos entre cidadãos dos 2 países.
A emigração a partir de Portugal para La Codosera deu-se especialmente desde a freguesia de Esperança, no concelho de Arronches. Apareceram assim aldeias gémeas como Rabaça/La Rabaza ou Marco/El Marco, que realmente são a mesma aldeia partida apenas em duas pela fronteira. Outras aldeias como Bacoco, La Tojera (Tojeira), La Varse e outras foram também povoadas por portugueses.
La Codosera, no entanto, ficou como uma espécie de aldeia mista, sendo que há uma romaria anual na Igreja de Chandavila, que expressa esse carácter misto da região, onde confraternizam portugueses e espanhóis.
Uma curiosidade a salientar é o facto de os pais terem enviado os seus filhos à escola portuguesa após a Guerra de Espanha de 1936-1939 para não perderem as suas raízes nem a nacionalidade portuguesa. Se bem que a maior parte dos habitantes têm dupla nacionalidade, há quem ainda só possua a nacionalidade portuguesa.