A língua portuguesa, com a sua vasta riqueza etimológica, apresenta-nos inúmeras palavras cujas origens nos levam a viajar por tempos e culturas longínquas. Entre elas, destaca-se “azeite”, uma palavra que nos chega do árabe “az-zait”, que significa “sumo de azeitona”, e cuja trajetória histórica é tão rica quanto os sabores que descreve.
O termo “azeite” foi introduzido na Península Ibérica durante o domínio muçulmano, iniciado no século VIII. Os muçulmanos, ao se estabelecerem na região, trouxeram consigo não só a sua língua mas também um vasto conhecimento agrícola, que incluía técnicas avançadas no cultivo de oliveiras e na extração do óleo das azeitonas.
O nome dado a esse óleo era “az-zait”, utilizado especificamente para designar o produto obtido exclusivamente das azeitonas, diferenciando-o assim de outros óleos de origem vegetal ou animal que eram conhecidos à época.
A palavra “azeite” espelha não apenas uma herança linguística, mas também a importância deste produto na economia e na dieta das regiões mediterrânicas e ibéricas.
O azeite tornou-se um elemento fundamental não apenas na culinária, sendo usado em inúmeros pratos e na conservação de alimentos, mas também possuía uma relevância em práticas religiosas, tratamentos medicinais e cuidados de beleza.
Esta valorização do azeite fez dele um produto central no comércio, tanto interno como nas trocas comerciais que se estendiam para além das fronteiras da Península Ibérica.
Após o declínio do domínio árabe na Península, com a Reconquista efetuada pelos reinos cristãos, a palavra “azeite” foi naturalmente assimilada pelos falantes do português, mantendo-se surpreendentemente fiel à sua forma e significado originais.
Com os Descobrimentos portugueses, o termo e o produto espalharam-se pelos quatro cantos do mundo, adaptando-se e integrando-se nas práticas culinárias e comerciais de novos territórios.
Em Portugal, o azeite é mais do que um mero ingrediente; é um componente vital da identidade gastronómica nacional. Utilizado em praticamente todas as facetas da culinária portuguesa, desde os simples temperos até aos mais complexos guisados, o azeite é celebrado pela sua qualidade e sabor únicos.
A região de Trás-os-Montes, por exemplo, é famosa pela sua produção de azeite, onde as técnicas tradicionais de cultivo e extração têm sido preservadas ao longo de gerações.
Portanto, a palavra “azeite” é muito mais do que a designação de um dos produtos mais emblemáticos da dieta mediterrânica e da economia agrícola. É um legado da interação entre culturas distintas, refletindo não só na língua portuguesa mas também na identidade cultural e gastronómica de Portugal.
Ao empregar esta palavra, invoca-se uma história que destaca a importância das influências mútuas na formação de um património que é, simultaneamente, local e global.
É verdade, mas não deixa de ser estranho, pois os romanos (que aqui estiveram séculos antes e durante séculos) davam muita importância ao azeite e usavam-no para variados fins, até medicinais e higiénicos! Também é estranho o facto de os espanhóis usarem a palavra para designarem qualquer óleo. Em latim, azeite seria “oleum”, derivado da oliva, o fruto da oliveira a que nós passamos a chamar, por influência árabe, azeitona. Do latim apenas mantivemos o nome da árvore. Assim, parece-me que os portugueses acharam por bem separar o sumo da azeitona de outros óleos. E fizeram muito bem, na minha opinião! É que não me apetece nada meter azeite no motor do meu carro :-D