Dizer que alguém tem sangue azul significa dizer que essa pessoa pertence à realeza. A expressão usa-se noutros idiomas para além do português e, durante anos, a ideia de que os nobres tinham sangue azul estava tão enraizada que se chegava a considerar que tal coisa era verdade e que eles, efetivamente, tinham o sangue de cor azul.
Existem duas explicações para a criação desta expressão, tanto internacionalmente como na Língua Portuguesa. A mais aceite por especialistas diz-nos que ela tem origem na Espanha do século VI, fazendo referência à cor clara de pele, sob a qual se destacavam veias e artérias azuis, algo quase invisível na pele de mouros e judeus, que estavam constantemente expostos ao sol durante o trabalho.
A expressão acabou por se popularizar na Europa renascentista, onde o padrão estético de beleza era uma pele muito clara que evidenciava as veias dos membros superiores, de cor azul devido ao sangue venoso (ou seja, pobre em oxigénio, que circula pelas veias sistémicas e pulmão).
As famílias importantes do continente europeu usavam, então, o termo “sangue azul” para mostrar superioridade perante pobres e escravos, ou até mesmo perante outros grupos raciais.
Mas existem outras supostas origens do uso da expressão. Para alguns, por exemplo, tudo começou no Antigo Egito, altura em que os faraós terão dito que tinham sangue azul como o Nilo e o céu, mostrando a sua origem divina e contrapondo-a aos comuns mortais, que tinham sangue vermelho.
No entanto, outra hipótese prende-se com os reis de França, que usaram a cor azul para estabelecer a sua ligação à religião cristã. Por exemplo, em Portugal a nossa bandeira tinha a cor azul, porque D. Henrique, filho de D. Afonso Henriques, era descendente de reis da França.
“Ter sangue azul” podia ser, então, uma expressão simbólica, porque os cavaleiros teriam de servir a religião cristã e a monarquia. No fundo, seria um forma de legitimar o poder dos nobres perante o povo, fazendo-os acreditar que eram diferentes e superiores.
Apesar de tudo, a explicação mais aceite é mesmo a de que a expressão se relaciona com a cor aparente do sangue sob a pele, com as veias a apresentar um tom azulado nas pessoas com pele mais clara, o que era o caso da nobreza, menos exposta ao sol inclemente e com menos miscigenação no seu sangue, ao contrário do que acontecia entre as classes populares.
Seja qual for a explicação que aceitemos, todas elas denotam o prestígio da cor azul, usado há séculos pela realeza como forma de se distinguir dos demais. E, para terminarmos em grande, porquê esta importância do azul?
Para além de ser esta a cor aparente do sangue, o azul era também uma cor difícil de se obter naturalmente, e, portanto, tecidos nessa cor estavam apenas acessíveis a algumas pessoas mais ricas – neste caso, os nobres.
Com o passar do tempo, a expressão “ter sangue azul” acabou por se espalhar a vários idiomas do continente europeu, incluindo a Língua Portuguesa. E, com base na fraca educação da grande maioria do povo que vivia naqueles tempos, a expressão foi mesmo levada à letra, isto é, acreditava-se que a realeza realmente possuía sangue dessa cor.
A realeza, obviamente interessada em justificar o seu poder e impor respeito perante o povo e os mais pobres, pouco ou nada fez para desfazer um mito que, em parte, os beneficiava.
Hoje em dia, nas escolas portuguesas, é prática comum desmistificarem-se estas e outras expressões do nosso idioma. Nas aulas de biologia, por exemplo, esta crença antiga é desmentida com recurso a dados científicos, históricos e do senso comum.