Lisboa é a capital de Portugal há mais de 700 anos, mas sabia que isso não foi sempre assim? E que a escolha de Lisboa como capital não foi uma decisão planeada, mas sim o resultado de uma série de acontecimentos históricos? Neste artigo, vamos contar-lhe como e porquê Lisboa se tornou a sede do poder político, económico e cultural do país.
Portugal é um dos países mais antigos da Europa, com as suas fronteiras definidas desde o século XIII. No entanto, ao longo da sua história, teve várias cidades como capital, tais como Guimarães, Coimbra, Angra do Heroísmo e Rio de Janeiro. A primeira capital oficial foi Coimbra, onde se instalou o primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques, em 1139. Coimbra manteve-se como capital até 1255, quando o rei D. Afonso III transferiu a corte para Lisboa.
Mas por que razão o rei decidiu mudar a capital para Lisboa? E que vantagens trouxe essa mudança para o desenvolvimento de Portugal? Para responder a estas perguntas, temos de recuar no tempo e conhecer um pouco da história de Lisboa antes e depois de se tornar capital.
Lisboa: uma cidade com história
Lisboa é uma das cidades mais antigas do mundo, com mais de 3000 anos de existência. A sua origem é incerta, mas acredita-se que tenha sido fundada pelos fenícios, um povo navegante que estabeleceu vários portos comerciais no Mediterrâneo. Os fenícios chamaram à cidade Alis Ubbo, que significa “porto seguro”.
Ao longo dos séculos, a cidade foi ocupada por diferentes povos e culturas, como os cartagineses, os romanos, os visigodos, os muçulmanos e os cristãos. Cada um destes povos deixou a sua marca na arquitetura, na arte, na língua e nos costumes da cidade.
Lisboa sempre foi uma cidade importante do ponto de vista estratégico, pois situa-se na foz do rio Tejo, o maior rio da Península Ibérica. O Tejo permite a ligação entre o interior e o litoral, bem como entre o Atlântico e o Mediterrâneo. Por isso, Lisboa sempre foi um centro de comércio, de comunicação e de defesa.
Lisboa: a conquista cristã
Lisboa era uma cidade muçulmana desde o século VIII, quando os árabes invadiram a Península Ibérica. Os muçulmanos chamavam à cidade Lixbuna e fizeram dela uma das mais prósperas e cosmopolitas da região. Tinha uma população diversa, composta por árabes, berberes, judeus e cristãos moçárabes (cristãos que viviam sob o domínio muçulmano).
No entanto, a partir do século XI, os reis cristãos do norte da Península Ibérica iniciaram um processo de reconquista dos territórios ocupados pelos muçulmanos. Esse processo durou vários séculos e envolveu várias batalhas e negociações.
Uma das batalhas mais importantes foi a de Lisboa, que ocorreu em 1147. Nessa batalha, o rei D. Afonso Henriques contou com a ajuda de um contingente de cruzados europeus que vinham a caminho da Terra Santa. Os cruzados eram guerreiros cristãos que participavam em expedições militares para libertar Jerusalém do domínio muçulmano.
Os cruzados aceitaram ajudar D. Afonso Henriques em troca de parte do saque da cidade e da promessa de poderem usar o porto da cidade para continuar a sua viagem. Assim, depois de um cerco de quatro meses, os cristãos conseguiram tomar Lisboa aos muçulmanos.
A conquista da cidade foi um marco na formação de Portugal como nação independente. Lisboa passou a ser a maior e mais rica cidade do reino, superando Coimbra em população e em recursos. Além disso, tinha uma posição privilegiada para a expansão marítima, que viria a ser uma das principais características da história de Portugal.
Lisboa: a capital do império
Lisboa tornou-se a cidade mais importante de Portugal em 1255, quando o rei D. Afonso III transferiu as cortes para a localidade. A partir de então, Lisboa passou a ser o palco dos principais acontecimentos da história de Portugal.
Foi aqui que se realizaram as cortes (assembleias) que definiram as leis e os direitos do reino. Foi também em Lisboa que se instalaram as ordens religiosas e militares, como os templários, os hospitalários e os franciscanos, que tiveram um papel importante na defesa e na evangelização do território.
Mas foi sobretudo a partir do século XV que Lisboa se afirmou como a capital do império português. Nessa época, Portugal iniciou a exploração da costa africana, da Índia, do Brasil e de outras regiões do mundo. Lisboa tornou-se o principal centro de comércio e de navegação da Europa, recebendo mercadorias e pessoas de vários continentes.
Lisboa era uma cidade vibrante, rica e multicultural, onde conviviam portugueses, africanos, indianos, chineses, japoneses, judeus e outros povos. A cidade era também um polo de cultura e de ciência, onde se destacaram figuras como o poeta Luís de Camões, o cronista Fernão Lopes, o matemático Pedro Nunes e o navegador Vasco da Gama.
Lisboa: a cidade que resistiu aos desastres
Lisboa teve também momentos dramáticos na sua história, que puseram à prova a sua capacidade de resistir e de se reinventar. Um desses momentos foi o terramoto de 1755, que destruiu grande parte da cidade e causou milhares de mortos.
O terramoto ocorreu no dia 1 de novembro de 1755, um dia santo em que muitas pessoas estavam nas igrejas. O sismo foi seguido de um maremoto (tsunami) e de vários incêndios que consumiram os edifícios que tinham resistido ao abalo.
O terramoto foi um dos maiores desastres naturais da história da humanidade e teve um grande impacto na sociedade portuguesa e europeia. Muitas pessoas questionaram a bondade de Deus e a razão de tanto sofrimento. O terramoto inspirou também obras literárias como o poema “O Ano Santo” de Voltaire ou o romance “Cândido” do mesmo autor.
Mas o terramoto também foi uma oportunidade para reconstruir Lisboa com um novo plano urbanístico e arquitetónico. O responsável por essa obra foi o Marquês de Pombal, o primeiro-ministro do rei D. José I. O Marquês de Pombal ordenou a demolição dos edifícios danificados e a construção de novos quarteirões com ruas largas e retas, edifícios uniformes e praças monumentais.
O Marquês de Pombal aproveitou também para implementar uma série de reformas políticas, económicas e sociais que modernizaram Portugal. Entre essas reformas destacam-se a expulsão dos jesuítas, a criação da Real Academia das Ciências, a abolição da escravatura no continente e a fundação da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro.
Outro momento difícil para Lisboa foi a invasão francesa em 1807, durante as Guerras Napoleónicas. O imperador francês Napoleão Bonaparte queria dominar toda a Europa e obrigou Portugal a fechar os seus portos ao comércio com a Inglaterra, sua aliada histórica.
Como Portugal recusou obedecer, Napoleão enviou um exército para invadir Portugal e obrigar o rei D. João VI a aceitar as suas ordens. O rei, perante a ameaça francesa, decidiu fugir para o Brasil, a maior colónia portuguesa, levando consigo a família real, a corte e parte da administração do reino.
Lisboa ficou assim sem o seu soberano e à mercê dos invasores franceses, que saquearam e pilharam a cidade. Os portugueses, com o apoio dos ingleses, resistiram bravamente aos franceses e conseguiram expulsá-los do país após três invasões sucessivas.
A fuga do rei para o Brasil teve consequências profundas para a história de Portugal e de Lisboa. O Brasil deixou de ser uma colónia e passou a ser a sede do império português. Lisboa perdeu o seu estatuto de capital mundial e entrou num período de decadência e isolamento.
Lisboa: a cidade que se renovou
A cidade só recuperou o seu dinamismo e o seu esplendor no século XX, depois de vários acontecimentos que marcaram a sua história. Um desses acontecimentos foi a implantação da República em 1910, que pôs fim à monarquia e inaugurou um novo regime político em Portugal.
A República trouxe mudanças significativas para Lisboa, como a construção de novos edifícios públicos, a criação de novos espaços verdes, a eletrificação da cidade, a expansão dos transportes públicos e a melhoria das condições sanitárias e sociais.
Outro acontecimento importante foi a Revolução dos Cravos em 1974, que derrubou a ditadura do Estado Novo e restaurou a democracia em Portugal. A Revolução dos Cravos foi um movimento pacífico liderado por militares que contou com o apoio popular. O símbolo da revolução foi o cravo vermelho, uma flor que os manifestantes ofereceram aos soldados como sinal de fraternidade.
A Revolução dos Cravos abriu as portas à liberdade de expressão, à participação cívica, à descolonização das antigas províncias ultramarinas e à integração na União Europeia. Lisboa beneficiou destas transformações e tornou-se uma cidade mais aberta, mais diversa e mais moderna.
Lisboa: a capital da cultura
Lisboa é hoje uma das cidades mais visitadas da Europa, atraindo milhões de turistas todos os anos. Lisboa é uma cidade que encanta pela sua beleza, pela sua história, pela sua cultura e pela sua gastronomia.
Trata-se de uma cidade que preserva o seu património histórico e artístico, mas que também se renova constantemente com novas tendências e manifestações culturais. Aqui existem uma enorme variedade de museus, monumentos, igrejas, palácios, jardins, miradouros, praças e ruas para descobrir e admirar.
É também uma cidade que celebra a sua identidade e a sua diversidade, expressando-se através da música, da literatura, do cinema, do teatro, da dança, da pintura, da escultura e de outras formas de arte.
Conclusão
Lisboa é a capital de Portugal há mais de 700 anos, mas não foi sempre assim. Lisboa tornou-se capital por acaso, depois da conquista cristã em 1147. A cidade aproveitou a sua localização estratégica na foz do Tejo para se tornar num centro de comércio e de navegação, dando origem ao império português.
Lisboa resistiu a vários desastres, como o terramoto de 1755 e a invasão francesa de 1807, e soube reconstruir-se e renovar-se. A capital acompanhou as mudanças políticas e sociais do país, como a implantação da República em 1910 e a Revolução dos Cravos em 1974, e tornou-se numa cidade mais democrática e mais desenvolvida.
Lisboa é hoje uma cidade que se destaca pela sua cultura, pela sua diversidade e pela sua beleza e que tem muito para oferecer aos seus habitantes e aos seus visitantes.
Lisboa não foi a capital de Portugal por mais de 700 anos, o Rio de Janeiro já foi a capital com a fuga da família real para o Brasil.