A primeira rainha de Portugal foi Mafalda de Saboia, filha de Amadeu III, conde de Saboia, Maurienne e Piemonte, e da condessa Mafalda de Albon. Embora a data exata do seu nascimento seja desconhecida, calcula-se que tenha nascido entre 1126 e 1130, considerando que foi mãe pela primeira vez em maio de 1147 e que casou em 1146, com cerca de 16 a 20 anos.
O casamento de Mafalda com D. Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal, ocorreu provavelmente em 1146. A partir de julho desse ano, o nome da soberana aparece nos documentos públicos como Mahada, uma tradução de Mahaut, o nome original da princesa de Saboia.
Há uma discussão sobre por que D. Afonso Henriques escolheu uma noiva de um reino tão distante. Alguns acreditam que foi uma estratégia para garantir a independência política de Portugal e afastar-se de Afonso VII de Espanha.
Na época, muitos pensaram que D. Afonso Henriques casou com alguém de condição inferior por Mafalda ser filha de condes. No entanto, ela era também sobrinha do Rei Luís VI de França, um dos mais poderosos reis da Europa.
O contrato de casamento foi assinado quando Mafalda tinha 12 anos e Afonso Henriques 30. O casamento só se concretizou nove anos depois, quando ela tinha 21 e ele 36.
O nome de Mafalda é objeto de debate; alguns sugerem que ela se chamava Mahaut (Matilde) como a mãe e que mudou para Mafalda ao chegar a Portugal. Nos documentos públicos, o seu nome aparece como Mahada.
Mafalda encontrou um homem 18 anos mais velho, com dois filhos de outra mulher, Châmoa Gomes, uma freira viúva. D. Afonso Henriques precisava casar-se com uma mulher de boa reputação para assegurar a legitimidade do reino aos olhos da Igreja.
Durante 12 anos de casamento, Mafalda deu à luz pelo menos sete filhos: Henrique (1147), Urraca (1148), Teresa (1151), Mafalda (1153), Martinho (1157), depois chamado Sancho após a morte do irmão mais velho, João (1156) e Sancha (1157). Mafalda também cuidou dos filhos ilegítimos do rei. Morreu dez dias após o nascimento da última filha. Apenas três dos seus filhos atingiram a idade adulta: Sancho, Teresa e Urraca.
Pouco se sabe sobre a personalidade de Mafalda. Há relatos de que, durante um parto complicado, chamou o padre Teotónio, prior do mosteiro de Santa Cruz, acreditando que a sua bênção ajudaria.
Após se recuperar, tentou visitar o mosteiro para agradecer, mas foi impedida pelo prior, que não permitia a entrada de mulheres. Este episódio levou alguns a pensar que ela tinha um mau temperamento, talvez agravado pela infelicidade no casamento e pela morte do seu primeiro filho.
Outros acreditam que estas críticas são reflexo das atitudes da época, que muitas vezes retratavam mulheres que desafiavam a autoridade de maneira negativa. No século XII, os casamentos eram alianças políticas e militares, e o amor era uma questão secundária. As esposas geralmente aceitavam a existência de amantes dos maridos e criavam os filhos ilegítimos, uma prática comum na época.
Mafalda, educada sob a influência da Ordem de Cister, fundou várias instituições de caridade, como o Mosteiro da Costa, em Guimarães, e o hospital/albergaria de Marco de Canaveses.
Diz-se que o nome “Marco de Canaveses” surgiu quando a rainha, ao pedir água aos pedreiros, foi oferecida uma cana para beber diretamente do rio Tâmega. Impressionada, terá dito: “Guardai-a porque a cana às vezes é boa”.
Mafalda faleceu a 3 de dezembro de 1157 ou 1158, com apenas 32 ou 33 anos, em Coimbra, sendo sepultada na igreja do mosteiro de Santa Cruz junto ao marido, que viveu mais 27 anos.
Apenas no século XVII uma nova união entre as casas de Portugal e de Saboia aconteceria, com o casamento de Maria Francisca Isabel e Afonso VI.