É inevitável que todos os países tenham “mentiras” na sua história oficial, até porque a história é escrita pelos vencedores. O mesmo aconteceu no nosso país, existindo especulações e, em alguns casos, provas concretas da verdade histórica. Algumas destas mentiras da história de Portugal são apenas pormenores curiosos, sem importância. Outras, no entanto, geram grandes debates entre académicos e historiadores.
Não existe mal nenhum no pormenor de acreditarmos nestas mentiras. Afinal de contas, foi isso que nos foi ensinado na escola. O problema é que, muitas vezes, o programa escolar era condicionado pelo poder político da época, promovendo por isso uma visão distorcida de alguns eventos. Esses ensinamentos e essa visão destorcida acabou por perdurar até aos dias de hoje.
A verdade é que vários historiadores e autores de livros (escolares ou académicos), começaram nos últimos tempos a dar mais destaque a estes detalhes e a tentar repor alguma verdade em certos mitos nos quais todos acreditamos. Descubra algumas das mais curiosas mentiras da história de Portugal.
1. A capital oficial de Portugal é Lisboa
Pode parecer estranho, mas a verdade é que, ao contrário da maioria das capitais mundiais, não existe um único documento oficial a atestar que Lisboa é a capital de Portugal. Em 1255, o rei D. Afonso III decide mudar-se da antiga capital, Coimbra, para Lisboa, que se tinha tornado na maior e mais importante cidade do país, graças ao seu porto. Assim, Lisboa foi crescendo e atraindo população, ganhando um estatuto que suplantou qualquer outra povoação nacional.
Assim, Lisboa apenas se tornou capital por se ter tornado residência oficial da família real e da corte, não existindo nenhum documento que o ateste. mas isso não inviabiliza a posição desta magnífica cidade e o lugar que ocupa na nossa história.
2. Os nossos antepassados são os Lusitanos
Este povo faz parte do nosso passado coletivo, mas é redutor associá-lo diretamente às nossas características atuais. Somos uma mistura de vários povos, sendo que um deles é o Lusitano. Antes deles, vieram os Estrímnios, com território da Galiza ao Algarve, que foram mais tarde derrotados pelos Sefes. Chegaram depois ao território que hoje corresponde a Portugal os Galaicos e os Lusitanos, que conquistaram o território. Além destes povos, a presença de romanos, muçulmanos, judeus e escravos influiu grandemente no que somos hoje.
3. Os castelos que hoje vemos são os originais
É natural que, com o tempo, os castelos se fossem degradando, especialmente se o seu uso já não fosse corrente. E é precisamente isso que aconteceu com muitos castelos por esse país fora. Antes da década de 40 do século XX, quem percorresse o nosso país não encontraria castelos belíssimos e em excelentes condições como hoje encontra. Estes estavam reduzidos a pedra, com uma ou outra muralha, escadaria ou torre arruinada ainda percetíveis.
Durante o Estado Novo, procedeu-se à restauração de muitos castelos do nosso país. E se é verdade que tudo indica que se tentou seguir aquilo que seria a traça original, também é verdade que a falta de documentos levou a que, em muitos casos, o resultado fosse bastante diferente do original.
4. D. Afonso Henriques era filho do conde D. Henrique
A verdade histórica aceite é que, de facto, D. Afonso Henriques era filho de D. Teresa (ou Tareja) e do conde D. Henrique. No entanto, há quem sustente que o verdadeiro D. Afonso Henriques terá morrido jovem, tendo substituído por outra criança. Para uns, essa criança seria um filho de Egas Moniz; para outros, seria o filho de um pastor transmontano, que Egas Moniz comprou e criou.
O que se sabe de facto é que D. Afonso Henriques nasceu fraco e debilitado, e que essas enfermidades não estavam presentes no D. Afonso Henriques adulto. Sabe-se também que D. Afonso Henriques teria à volta de 2 metros, quando os seus pais rondariam os 1,60m. Mesmo assim, nada que permita confirmar a veracidade desta teoria, pelo que se assume assim, na história oficial, a versão de que D. Afonso Henriques era descendente do conde D. Henrique.
5. D. Sancho I nasceu com este nome
Não, não nasceu, mas este facto não costuma ser referido na história que nos é ensinada por não ter especial relevância no contexto da vida e reinado deste monarca, sendo apenas uma curiosidade. Por altura do seu nascimento, D. Sancho I não estava destinado a ser rei; esse papel cabia ao seu irmão mais velho, o infante D. Henrique.
Assim, Sancho foi batizado com o nome de Martinho, por ter nascido no dia de S. Martinho (11 de novembro). Com a morte do irmão mais velho, pouco tempo depois, decidiram mudar o nome do agora herdeiro para Sancho, nome com maior tradição real.
6. As nossas fronteiras foram sempre as mesmas
Apesar de termos das fronteiras mais antigas e estáveis (pelo menos, das conhecidas), a verdade é que estas nem sempre foram assim. No geral, o grosso das fronteiras atuais corresponde realmente às fronteiras antigas, mas existiram diferenças ao longo do tempo, com terras a serem integradas por Espanha e mais tarde pelo nosso país, ou vice-versa.
Da mesma forma, existiu em tempos um microestado independente entre Espanha e Portugal, terra que não pertencia a nenhum dos reinos, e que em 1868 foi dissolvido, cimentando as fronteiras atuais naquela zona.
Embora fosse um território pequeno (cerca de 27km2), não se pode negar que alterava a fronteira atual. Como curiosidade, este microestado, chamado Couto Misto, tinha isenção de impostos, liberdade de cultivos, e os seus habitantes podiam escolher a sua nacionalidade: espanhola ou portuguesa.
7. A nossa presença em África foi sempre significativa
Era comum ouvir-se, antes do 25 de Abril, que a nossa presença em África tinha mais de 500 anos. E se é verdade que os portugueses a esse continente chegaram muito antes dos outros países, efetivando realmente 500 anos, a verdade é que a nossa presença por essas terras não era muito significativa.
Ao longo dos séculos, foram-se estabelecendo algumas populações portuguesas no continente, mas essas não eram muito significativas, e estavam mais reduzidas a feitorias costeiras. Foi só na primeira metade e nos meados do séc. XX que a presença de portugueses em África atingiu o seu auge.
8. Portugal foi o primeiro país a abolir a pena de morte
Este mito está bem enraizado no nosso coletivo, mas, embora tenhamos estado no pelotão da frente na abolição da pena de morte, houve países que a aboliram antes de nós. Assim, a Venezuela aboliu a pena de morte em 1863, a San Marino aboliu-a em 1865. Portugal apenas cruzou essa meta em 1867, embora pertença ao clube dos pioneiros.
Como atenuante, pode-se dizer que o nosso país foi o primeiro a inscrever essa proibição na sua Constituição. Apesar disso, recorde-se, no entanto, que um soldado português foi fuzilado em 1917, na frente de combate da Primeira Guerra Mundial.