Portugal é um país rico em história, como o comprovam os diversos castelos que podemos encontrar pelo nosso território a fora. Mas sabia que, a dada altura, estes castelos estiveram em risco de desaparecer, encontrando-se a maioria em ruínas ou totalmente destruídos?
Podemos ter a tendência de olhar para estas construções como sendo um retrato fiel do passado, mas a verdade é que muitos castelos foram alvo de intervenções durante o Estado Novo, perdendo muitas das suas caraterísticas originais.
Quem percorresse o nosso país antes da década de 40 do século XX, poucos castelos encontraria. Estas antigas fortalezas medievais nada mais eram que montes de pedra, e só a muito custo se poderia vislumbrar um pedaço de muralha ou uma torre arruinada.
E isto, apesar de nos parecer chocante aos nossos olhos, não era de todo estranho em tempos antigos, até porque os castelos não se degradaram de um dia para o outro.
Há até uma história curiosa, que nos mostra como estas construções eram tratadas antigametne. Em 1836. Numa reunião camarária, houve uma votação que se poderia ter revelado trágica para o monumental Castelo de Guimarães. Foi apenas por um voto que o monumento não foi demolido, com as pedras do castelo a servirem depois outros propósitos, como calcetar as ruas.
Vale a pena realçar que o confronto entre liberais e absolutistas ainda se encontrava bem presente na memória, e que o castelo de Guimarães serviu como prisão política miguelista, nessa altura. Apesar de a votação não ter tido o seguimento desejado por quem a apresentou, a Torre de S. Bento ainda seria demolida.
Durante o Estado Novo, fizeram-se inúmeras intervenções nos castelos e demais monumentos do país, com o objetivo de enaltecer o espírito nacionalista, algo comum nos regimes ditatoriais.
Neste contexto, a partir de 1937 realizaram-se obras de intervenção no castelo de Guimarães, que ganhou torres direitas e ameias certinhas. Mas este local não foi o único a sofrer uma remodelação profunda.
O castelo de S. Jorge, em Lisboa, hoje tão conhecido e visitado, quase não existia há pouco mais de meio século. As muralhas e torres que hoje vemos foram construídas a partir de 1938, a partir de uma recriação livre que não dava muito espaço a um rigor histórico.
Mas estas alterações não aconteceram só em castelos. Na Sé de Lisboa, por exemplo, também existem grandes diferenças. Embora se encontre no mesmo local original da sua fundação original, a construção já não é a mesma, tendo sido alterada ao longo do tempo segundo o estilo arquitetónico em vigor. A Sé ganhou as suas ameias nas torres durante o Estado Novo, fazendo assim conjunto com o castelo de S. Jorge.
E o que podemos aprender com isto? Que os monumentos que hoje vemos não são, de todo, iguais aos que outros viram durante a Idade Média. Afinal, estes edifícios não são uma construção sólida, que soube resistir incólume à passagem dos séculos, e sim um conjunto de diversas alterações que lhe alteraram as suas caraterísticas originais.
No entanto, é preciso entender que a renovação e reconstrução de monumentos é perfeitamente normal um pouco por todo o mundo. Afinal de contas, o interesse pela preservação destes monumentos é muito mais recente do que aquilo que possamos imaginar.
Até há bem pouco tempo, castelos, palácios, igrejas ou pontes não eram vistos das mesma forma que são hoje em dia. Eram construções como outras quaisquer, que sucumbiam à passagem do tempo. Só nas últimas décadas é que se passou a valorizar este tipo de património e a reconstruí-lo quando é necessário.
Assim, é graças a este esforço de preservação que se consegue manter viva uma grande parte da História de Portugal, mesmo que estes monumentos, onde se incluem os castelos portugueses, já pouco tenham a ver com aquilo que foram na Idade Média.