Preservar os nossos monumentos é valorizar o que já fomos, é honrar a nossa história e os nossos antepassados, sem os quais não estaríamos aqui nem seríamos o que somos. Apesar dos trabalhos de restauração que têm sido levados a cabo nos últimos anos, por todo o país, existem ainda inúmeros monumentos em ruínas, a precisarem de recuperação urgente. Estes monumentos abandonados em Portugal exigem mais respeito e consideração.
Muitos deles são antigos edifícios pertencentes a ordens religiosas que caíram no esquecimentos quando estas foram extinguidas em 1834. Desde então, alguns destes mosteiros e conventos foram reconvertidos em museus ou hotéis de luxo mas, mesmo assim, ainda existem muitos por recuperar.
Um outro grupo de monumentos abandonados corresponde a palacetes e casas senhoriais que foram objeto de desleixou por parte das famílias a quem pertenciam. O fato de alguns pertencerem a privados não ajuda à sua recuperação. Deixamos-lhe aqui 12 desses monumentos abandonados em Portugal, muitos deles em ruínas.
1. Convento de Nossa Senhora do Desterro (Monchique)
Este convento, fundado em 1631 por Pero da Silva, que mais tarde foi vice-rei da Índia, está hoje em ruínas, embora conserve parte do seu encanto e beleza, estando rodeado de arvoredo e contando com uma vista incrível sobre Monchique. O espaço está ligado a várias lendas. Uma delas diz que, num dia de tempestade, dois navegantes em perigo terão feito a promessa de construírem uma igreja no primeiro lugar de terra portuguesa que avistassem do mar, casos e salvassem. Passado o perigo, cumpriram o prometido.
Outra lenda diz que o fundador do convento trouxe da Índia uma imagem de Nossa Senhora, em marfim, que, após a sua morte, os frades passaram a venerar como relíquia. Para salvar a imagem do vendaval de 1834, diz-se que um frade a escondeu debaixo do hábito e pediu a uma senhora que a recolhesse.
Lendas à parte, o convento foi entregue em 1632 à Ordem Terceira de S. Francisco, tendo sido bastante danificado no terramoto de 1755. Hoje, o espaço é propriedade da Câmara Municipal de Monchique, existindo o projeto da construção de uma unidade hoteleira no convento, mantendo a sua traça original.
2. Convento de Monfurado (Montemor-o-Novo)
Também conhecido como Convento dos Monges ou por Convento de Nossa Senhora do Castelo das Covas de Monfurado, está situado na Serra de Monfurado, em Montemor-o-Novo. O espaço foi fundado durante o século XVIII, por um grupo de eremitas que se abrigava em antigas minas romanas, que ainda hoje se encontram nas proximidades do local do atual convento.
Foi extinto em 1834, tal como os demais conventos masculinos, e passou para a mão de privados. Conserva ainda grande parte da estrutura original, sendo que as casas que o circundam terão sido habitadas até pelo menos os anos 80 do séc. XX.
3. Pavilhões do Parque D. Carlos I (Caldas da Rainha)
Foram projetados em finais do século XIX para serem o novo hospital D. Carlos I, por Rodrigo Berquó, que queria fazer das Caldas da Rainha uma estância termal europeia. No entanto, estes pavilhões não chegaram a servir essa função, tendo sido usados durante mais de 100 anos para albergar um quartel militar, uma esquadra de polícia e uma escola secundária.
Os pavilhões estão atualmente desabilitados e apresentam marcas da passagem do tempo. Apesar de tudo, este complexo é considerado um ex-libris da cidade, estando enquadrado pelo Hospital Termal, pelo lindíssimo parque D. Carlos I e pela Mata Rainha D. Leonor.
4. Quinta e Palacete da Ponte da Pedra (Leça do Balio)
Esta propriedade secular, localizada perto da antiga estrada romana que ligava o Porto a Braga, estende-se até à margem do rio Leça e é atravessada pela ponte medieval de fundação romana, conhecida como Ponte da Pedra. Presume-se que a propriedade de campo possa ser mais antiga, como outras da região, mas o palacete está datado do séc. XVIII e foi conhecido durante décadas como Palacete Oitocentista.
O local mereceu grande atenção no séc. XIX, tendo sido ampliado e funcionado como residencial, sendo o local predileto de Camilo Castelo Branco quando passava férias no Porto. Consta também que aqui se instalou o rei D. Miguel, durante a guerra que travou com o seu irmão D. Pedro IV. No início do século XX, a proprietária da quinta doou-a ao Estado Português, por não ter herdeiros, e o espaço serviu de albergue para pessoas idosas até ao 25 de abril de 1874, altura em que o palacete ficou disponível para acomodação e famílias retornadas das ex-colónias.
5. Quinta do Duque (Alpriate, Vila Franca de Xira)
Situada junto à localidade de Alpriate, a quinta vai buscar o nome aos Duques de Lafões, antigos proprietários do espaço. Este foi um dos primeiros edifícios em Portugal a ser construído com a traça do neoclassicismo. O conjunto inclui o solar residencial, instalações utilitárias e zonas de lazer, da qual se destaca o original jardim de buxo à francesa, hoje descaracterizado e abandonado.
6. Convento de Seiça (Figueira da Foz)
Este edifício, de fundação lendária, foi doado por D. Sancho I à Ordem de Cister, no séc. XII, sob o patrocínio do Mosteiro de Alcobaça e sob invocação de Santa Maria. Hoje, do local apenas resta uma imponente e impressionante ruína. Mas este complexo monástico, junto à ribeira de Seiça, foi de fundamental importância na reorganização territorial e social das povoações do estuário do Mondego.
Em 1834, as Ordens Religiosas foram extintas e os seus patrimónios apropriados pelo Estado. A igreja e a sacristia foram mais tarde entregues à Junta da Paróquia de Nossa Senhora do Ó do Paião, através de Carta de Lei de 22 de fevereiro de 1861, emitida por D. Pedro V.
A Junta da Paróquia acabou por vender o Mosteiro de Seiça a particulares em 1895, e este foi novamente vendido em 1911. O recheio do convento foi há muito reaproveitado por outras igrejas e capelas da zona. O espaço foi também reaproveitado mais tarde como unidade fabril do descasque de arroz, como testemunha a grande chaminé que ladeia o convento, e que hoje serve de local de poiso para as cegonhas.
7. Palacete Rosa Pena (Espinho)
Pelas suas dimensões e pelo seu volume, esta é uma obra de rara beleza, que se destaca no panorama arquitetónico de Espinho. Tem um alçado de dois andares sobre um piso térreo, ao qual o torreão do ângulo de acesso acrescenta mais um andar. O conjunto é percorrido em duas áreas por varandas salientes, mas cobertas. Pensa-se que o edifício foi mandado construir por emigrantes vindos do Brasil, mas o espaço está hoje em avançado estado de degradação.
8. Solar dos Malafaias (Santa Cruz da Trapa)
Este solar, de volume compacto e planta retangular, é apenas animado pelas molduras dos vãos que se abrem nas fachadas. É um exemplo muito claro da arquitetura civil no período barroco, que se pautou pela horizontalidade dos volumes e pelo ritmo dos vãos. Os seus proprietários deviam ser importantes, como atesta o brasão sobre a porta principal, tal como se observa em Santa Cruz da Trapa, onde a pedra de armas da família Malafaia coroa a entrada.
O interior do solar era estruturado em função da escadaria que ligava ao andar superior. Não se sabe ao certo por que razão foi o local abandonado, já no séc. XX, mas essa conjuntura acabou por levar à degradação do imóvel. As tentativas de reconstrução do mesmo, pelo arquiteto Sérgio Infante, anunciadas em 1996, não foram ainda concretizadas, pelo que não se sabe o que o futuro reserva a este espaço.
9. Palácio do Farrobo (Vila Franca de Xira)
Construído no século XVI, o espaço tem sido alvo de diversas obras de restauro e remodelação ao longo dos tempos, intervenções começadas na primeira metade do séc. XIX. A Quinta do Farrobo, originalmente Quinta de Santo António, pertenceu a Manuel da Silva Colaço, em meados do séc. XVII, Em 1760, Luís Garcia Bívar adquiriu a propriedade, tendo mais tarde a quinta passado para as mãos de Francisco Azevedo Coutinho.
Em 1779, o espaço passa para as mãos do Desembargador Luís Rebelo Quinteira, que comprou tudo por 24 contos. O local passaria por herança ao seu sobrinho, Joaquim Pedro Quintela, deito o 1º Barão de Quintela 4 anos depois. Hoje, o espaço está em ruínas.
10. Castelo da Dona Chica (Braga)
Este castelo foi mandado construir por Francisca Peixoto de Sousa, em 1915 (sendo da proprietária original que vem o nome). D. Francisca tinha nascido no Brasil, e por isso trouxe desse país várias árvores típicas que ainda hoje se podem observar na mata que envolve o castelo. Ao longo dos anos, o castelo foi mudando de mãos para mão, levando a que as obras de construção se fossem arrastando, tendo a propriedade ficado concluída apenas em 1991.
Mesmo antes da conclusão, o castelo era já Imóvel de Interesse Público, segundo despacho de 20 de fevereiro de 1985. Apesar disso, este encontra-se nos nossos dias ao abandono, devido a uma disputa judicial que envolve diversas entidades.
11. Palácio da Azambuja (Azambuja)
Também conhecido como Palácio das Obras Novas, ou Palácio da Rainha, está situado na foz da Vala da Azambuja, e foi mandado construir em finais do séc. XVIII pela Rainha D. Maria I. O edifício foi construído ao estilo neoclássico, e fazia as funções de estalagem e de controlo do tráfego de passageiros e mercadorias que circulavam pela Vala Real, entre Lisboa e Constância. O espaço está abandonado desde inícios do séc. XX.
12. Casa do Relógio (Porto)
Também conhecida por Casa Manuelina, este local nunca deixou de atrair a curiosidade e fascínio dos visitantes que passam pela zona da Foz, na Avenida Brasil. O projeto desta casa, única no Porto, desenvolveu-se em 1907, tendo a sua construção sido prolongada até 1910, segundo a vontade do capitão republicano Artur Jorge Guimarães e da sua esposa Beatriz.
O desenho do edifício atribuiu-se a José Teixeira Lopes, irmão do escultor António Teixeira Lopes (cuja casa projetou, sendo que hoje o espaço é a Casa-Museu Teixeira Lopes). Este arquiteto é igualmente responsável pelo projeto da sede do Banco de Portugal no Porto.
Na casa do Relógio, o revivalismo Manuelino está fundido na perfeição com uma bela moradia de quatro andares com torreão central, própria dos inícios do séc. XX. A sua riqueza escultórica, com arcos e colunas, janelas emolduradas e magníficos azulejos com motivos dos Descobrimentos traz grande graça e destaque ao conjunto. Nos pormenores decorativos, podemos apreciar cordames e cruzes da Ordem de Cristo, para além do relógio de sol que lhe deu o nome.
O solar dos Malafaias foi abandonado porque os poderes politicos de então resolveram abrir uma estrada ao lado. O titular resolveu contruir um outro solar que fica igualmente em Santa Cruz da Trapa.