É conhecido como o Reino Maravilhoso de Miguel Torga e não deixa ninguém indiferente. Trás-os-Montes, para além de ser terra de boa gente, boa comida, montanhas imponentes e paisagens deslumbrantes, é também terra de vários dos monumentos mais antigos e importantes de Portugal. Ou não fosse esta uma região repleta de história.
Podem ser pontes milenares, castelos centenários ou palácios construídos no século passado… em Trás-os-Montes existe um variado conjunto de monumentos que merece a pena ser conhecido e visitado. Desde logo, saltam à vista os seus castelos, erigidos para proteger o território dos vizinhos espanhóis. Mas a grande estrela talvez seja a ponte romana de Trajano, em Chaves, que já conta com quase 2000 anos.
Os transmontanos têm um orgulho imenso na sua terra, cultura, história e património e, por isso, esforçam-se por preservar e divulgar os seus marcos históricos. Descubra alguns dos mais bonitos e importantes monumentos em Trás-os-Montes.
1. Ponte de Trajano (Chaves)
A antiga Ponte de Trajano, situada sobre o leito do rio Tâmega, e construída em sólido granito transmontano, ligava ambas as margens da importante Civitas romana Aquae Flaviae, que hoje corresponde à moderna cidade de Chaves. Esta ponte romana foi uma importante obra de engenharia do eixo viário que estabelecia a ligação entre Braga e Astorga, em Espanha.
O comprimento total do tabuleiro alcança os 140 metros sendo que os parapeitos em pedra que o resguardavam foram desmantelados e substituídos por ferro em 1880. No centro da ponte e de ambos os lados, erguem-se os marcos-coluna, que contêm importantes inscrições epigráficas comemorativas. Este par de marcos foi deslocado do seu lugar original, graças à construção de casas sobre a margem direita da ponte.
2. Castelo de Montalegre
Este castelo foi já construído tardiamente, no reinado de D. Afonso III, como forma de reorganização das fronteiras a este e oeste de Chaves. O objetivo era que a fronteira setentrional de Trás-os-Montes ficasse dotada de uma ordem territorial e jurídica efetiva, sob o poder do Rei.
O domínio régio não foi de longa duração, uma vez que, ainda antes do séc. XIII terminar, Pedro Anes recebeu de D. Dinis a Carta de Foral de Montalegre, para que se povoassem essas terras, já que, na altura, estas estavam desertas.
3. Castelo de Bragança
Uma fortificação primitiva no local poderá ter sido mandada construir por D. Afonso Henriques, pertencendo esta região ao seu cunhado, Fernão Mendes, a fortificação foi melhorada por D. Sancho I, que concedeu foral à povoação em 1187.
Com a crise de 1383-1385, aberta pela questão da sucessão de D. Fernando, o alcaide de Bragança oscilou entre o lado português e o castelhano, o que obrigou à intervenção de D. Nuno Álvares Pereira, o que o levou a ser reconhecido por D. João I. É ainda no reinado deste que as defesas do castelo são melhoradas e se constrói a imponente Torre de Menagem.
4. Palácio de Vidago (Chaves)
Foi projetado pelo Rei D. Carlos I, que desejava ali construir uma estância terapêutica de luxo que tivesse projeção Internacional. Já na altura, as águas de Vidago eram consideradas de interesse nacional, e por isso, o Vidago Palace Hotel foi inaugurado a 6 de outubro de 1910, um dia depois da instauração da Primeira República Portuguesa.
Em 1936, o hotel passa a dispor de um percurso de golfe de 9 buracos, desenhado pelo arquiteto Philip Mackenzie Ross. A combinação dos tratamentos termais e do campo de golfe de luxo acabou por colocar o Vidago Palace Hotel entre as estâncias europeias com maior prestígio no período da Segunda Guerra Mundial.
Esta fama intensifica-se nos anos 50 e 60, devido às famosas festas organizadas no hotel. O Vidago Palace acabou por encerrar em 2006 e reabrir em 2010, 100 anos após a sua inauguração. Após a mais recente abertura, este hotel histórico adquiriu um novo brilho e voltou a desempenhar um papel importante na hotelaria nacional, seguindo critérios de conforto e de luxo do século XXI.
5. Palácio de Mateus (Vila Real)
Este palácio, onde se produz o conhecido Mateus Rosé, é uma mansão barroca do século XVIII, sendo considerada uma das mansões mais elegantes da Europa. A sua construção atribuiu-se ao arquiteto italiano Nicolau Nasoni. Dentro do palácio pode-se visitar a tranquila biblioteca, que guarda livros editados no século XVI, a estância das Quatro Estações com mobiliário do século XVIII, diversos móveis de madeira, porcelanas chinesas e quadros que simbolizam as estações do ano.
Pode visitar também um pequeno museu, onde está exposta uma valiosa edição de “Os Lusíadas”, da qual só se realizaram 200 exemplares para serem oferecidos a distintas personalidades europeias da época. O palácio está rodeado por um jardim fantasista que conta com algumas formações e linha de sebes, estátuas e um harmonioso passeio de ciprestes.
6. Ponte da Misarela
Esta bonita ponte está situada sobre o rio Rabagão, em pleno Gerês, perto da Barragem da Venda Nova. Mais propriamente, está localizada no lugar da Misarela, freguesia de Ferrão, concelho de Montalegre, e na freguesia de Ruivães, concelho de Vieira do Minho, uma vez que o rio Rabagão serve de fronteira natural entre estes dois concelhos.
A estrutura data da época medieval, ou pelo menos tem tradição arquitetónica medieval, estando enquadrada de forma espetacular na paisagem de densa vegetação. A ponte está associada a uma lenda já famosa, onde o protagonista é o Diabo, e é por essa razão que muitas vezes é apelidada de Ponte do Diabo.
7. Castelo de Algoso
Se quer conhecer um dos mais especiais castelos de Trás-os-Montes, então o Castelo de Algoso é a escolha certa. Localiza-se no topo de um rochedo e quase se confunde com ele. Apesar de modesto e isolado, foi um dos mais importantes castelos do leste transmontano na defesa do Reino contra as tropas de Leão.
Terá sido construído no século XII e foi doado posteriormente à Ordem dos Hospitalários, que fizeram obras de remodelação. As vistas a partir do Castelo de Algoso são deslumbrantes e merecem, por si só, o passeio.
8. Ponte Medieval do Rio Sabor
Esta ponte, composta por cinco arcos largos (4 medianos e do meio bastante grande), é comumente referida como sendo romana. Mas este é um magnífico exemplar da arquitetura pontística, com os seus múltiplos arcos e perfil em cavalete, sendo uma construção de fábrica inequivocamente baixo-medieval. A ponte mostra-se estreita e dotada de guardas, sob a forma de muretes de topo abaulado. Em 1860, o rio destruiu uma parte dela, graças a uma cheia. As obras de renovação apenas se deram pelos anos de 1938.
Em 1987, ergueu-se, a escassas centenas de metros, uma nova ponte em betão armado e com tabuleiro reto, assente sobre múltiplos pilares, com cerca de 250 metros de comprimento e 40 de altura. Se quiser visitar a ponte medieval, também conhecida como Ponte de Izeda, basta ir à freguesia de Izeda, no concelho de Bragança, e fazer a viagem até Santulhão, já pertencente a Vimioso.
9. Castelo de Numão
É em Vila Nova de Foz Côa, na transição entre Trás-os-Montes e as Beiras (mas ainda na zona histórica transmontana) que se localiza a muito antiga povoação de Numão e o seu castelo. Existem evidências que atestam que a construção do castelo seja anterior à época da Reconquista e a localidade aparecem mencionada no ano 1059 como pertencente ao Mosteiro de Guimarães.
D. Sancho I deu-lhe uma nova vida na tentativa de defender a região raiana dos ataques espanhóis. Com a pacificação do território, a localidade e o seu castelo perderam a importância estratégica de outrora. No entanto, continuam a merecer a sua visita.
10. Santuário de Nossa Senhora dos Remédios (Lamego)
No topo do monte de Santo Estêvão, em Lamego, este Santuário é o local perfeito de onde observar o panorama da cidade à qual está unido pelo seu escadório. O atual Santuário apenas ficou pronto em 1905, mas já havia devoção popular no local, uma vez que aqui se ergueu uma capela a Santo Estêvão em 1361.
A fachada tem traços barrocos e rococó, e o templo em si foi integralmente construído em granito. O que se destaca, no entanto, é a monumental escadaria de acesso ao local, com 686 degraus, desenvolvidos em 9 lanços e ornamentados com capelas, obeliscos e fontes.
11. Domus Municipalis de Bragança
É junto ao Castelo de Bragança que ainda persiste o Domus Municipalis, um edifício de dois andares datado do século XV. Em baixo, ficava a cisterna de água, e em cima, a comunidade reunia-se para tomar decisões. Como Bragança ficava longe da capital real, quem tomava as decisões eram os “homens bons” do concelho, ou seja, aqueles que se considerava terem grande sabedoria.
Aqui se reuniam, tomando decisões que afetariam a população, que esperava os resultados impaciente. Dentro do edifício, existem dois jogos do galo gravados em pedra, com que o povo se entretia durante a espera.
12. Sé de Miranda do Douro
Mandada construir por D. João III, a obra implicou a destruição da antiga Igreja de Santa Maria, um templo gótico erigido no século XIV. Manteve o estatuto de sé episcopal até 1780, ano em que a diocese foi transferida para Bragança. Passou, por isso, a ser designado por Concatedral ou simplesmente por Igreja Matriz de Miranda do Douro. É ainda conhecida por albergar uma peculiar figura da religiosidade popular: o Menino Jesus da Cartolinha.