É frequente ouvir-se falar de Olivença, enquanto território que nunca foi devolvido a Portugal, dizendo alguns historiadores que o nosso país nunca teve direito a recuperar Olivença porque nunca devolveu a Espanha algumas das zonas que lhe pertenciam na América do Sul. Questões à parte, a verdade é que, apesar de Olivença ser a mais falada, esta não é a única localidade espanhola na mesma situação.
Tratam-se de 3 localidades que pertenceram a Portugal durante vários séculos. Algumas delas foram perdidas para Espanha durante as guerras da Restauração da Independência, em 1640. Outras pequenas aldeias ou vilas estiveram sempre na “corda bamba”, ou seja, mudaram de soberania várias vezes, consoante guerras e tratados de paz com Espanha.
A influência portuguesa ainda se faz sentir nestes locais, embora tenham passado muitos séculos desde que foram integradas definitivamente em Espanha. Em várias destas localidades ainda existem monumentos construídos por Portugal, por exemplo. E em outros locais, o dialeto falado pelos habitantes é uma mistura de português e castelhano. Por isso mesmo, é importante preservar este legado cultural.
A questão de Olivença nunca será totalmente pacífica. Grande parte dos portugueses já não vê esta localidade como sua e, sejamos honestos, a grande maioria dos espanhóis nem sequer sabe deste problema de demarcação de fronteiras. E para sermos honestos: se é verdade que Espanha deveria devolver Olivença e nunca o fez, também é verdade que Portugal deveria ter devolvido alguns territórios na América do Sul aos espanhóis… e também nunca o fez.
Mas se tem curiosidade por saber um pouco mais sobre estas vilas e aldeias espanholas, fique a conhecer a sua história. Se puder, visite-as e comprove você mesmo os laços que ainda possuem com Portugal. Quanto a Olivença… será sempre nossa, pelo menos nos nossos corações.
1. Hermisende
Este município raiano na província de Zamora, na comunidade autónoma de Castela e Leão, tem área de 109,05km2, densidade populacional de 3,51 hab/km2 e população de 350 habitantes (em 2007), pertenceu a Portugal até 1640, tal como as aldeias vizinhas de San Ciprián e La Tejera. Até aí, chamava-se Ermesende.
Todas as influências históricas que se fizeram sentir na região levaram ao aparecimento de um dialeto com influências do galego e do português, sendo que toda a área constitui um complexo cruzamento de características Galaico-portuguesas e Leonesas.
2. São Felizes dos Galegos
Oficialmente chamada San Felices de los Gallegos, este município situa-se próximo da raia, na província de Salamanca, comunidade autónoma de Castela e Leão. Tem 81,43km2 de área, 553 habitantes (2007) e densidade populacional de 7,19hab/km2. A aldeia recebeu o seu nome por alegadamente ter sido repovoada por galegos, sendo que a inclusão da região no reino leonês se deu numa época tardia e apenas porque Ciudad Rodrigo foi elevada a sede de diocese homónima, em oposição à de Salamanca.
Foi território português desde 1297, ano em que se assinou o Tratado de Alcanizes, até 1327. O castelo foi inclusive mandado erguer por D. Dinis. O município reconhecerá mais tarde a suserania portuguesa por breves períodos, cerca de 1370 e 1476, embora se tenha integrado definitivamente em Castela em data incerta.
3. Salvaterra do Minho
Salvaterra de Miño é um município raiano da Galiza, na região de Pontevedra, com área de 62km2, população de 8761 habitantes e densidade populacional de 127,65 hab/km2. Tem um conjunto de fortificações, implantadas em local elevado, estando a região situada junto a um cruzamento de vias naturais, uma das quais sobre o rio, que no séc. XVII era uma ponte de barcas. Localizado a dois quilómetros do município português de Monção, está ligado a este por uma ponte sobre o rio Minho.
Esteve sob domínio português no contexto da Guerra da Restauração, até 1649. Já no reinado de D. João I, celebrou-se o 2º Tratado de Monção, em 1389, onde se celebravam tréguas por três anos com Castela e se restituíam várias terras conquistadas. Assim, Portugal devolveu Salvaterra de Miño e Tuy, e recebeu Mértola, Noudar, Olivença, Castelo Melhor, Castelo Mendo e Castelo Rodrigo.
Já marquei no mapa para visitar quando tiver oportunidade. Quanto a Olivença, não julgo que nos acordos do Congresso de Viena conste alguma contrapartida para a devolução de Olivença a Portugal.
Pelo menos no caso de Olivença, os tratados confirmam a soberania portuguesa, apenas ela não foi executada.