Portugal tem mantido uma já longa tradição de utilizar grandes veleiros como Navios Escola e como Navio de Treino de Mar, como forma de se complementar a formação teórica que é ministrada pela Escola Naval, promovendo assim o contacto com a vida no mar à sociedade civil.
Quase todos os portugueses ouviram já falar no Navio Escola Sagres, mas poucos conhecem a sua história, seja ela antiga ou atual.
Mas a verdade é que um tal navio, tão condecorado e reconhecido, tanto no nosso país como no estrangeiro, merece ter a sua história partilhada junto do grande público.
O Sagres III, como também é conhecido, foi construído na Alemanha, mais concretamente em Hamburgo, nos estaleiros da Blohm & Voss. Foi criado com o objetivo de desempenhar funções de navio escola da Marinha Alemã, e recebeu o nome de Albert Leo Schlageter.
Para além deste navio, outros navios da classe Gorch Fock eram usados para as mesmas funções: o primeiro (que deu o nome à classe), o segundo, cujo nome era Horst Wessel (e que atualmente se chama USCGC Eagle), e o quarto, Micea.
Houve ainda um quinto, o Herbert Norkus, mas foi destruído ainda antes de ser terminado. Assim, o atual Sagres III foi o terceiro navio da classe a ser construído.
Quando terminou a II Guerra Mundial, este navio foi capturado pelas forças dos Estados Unidos, juntamente com o Horst Wessel. Apesar de todos os esforços, nenhuma instituição dos Estados Unidos quis ficar com o Albert Leo Schlageter, pelo que, ao fim de três anos, este foi cedido ao Brasil, a um preço simbólico de 5.000$, como forma de fazer face aos danos causados por submarinos alemães nos navios deste país, durante a guerra. No Brasil, este navio foi utilizado como navio escola, tendo recebido o nome de Guanabara.
Em 1961, Portugal precisava de um novo navio escola, para substituir o Sagres II, que curiosamente, era também originalmente um navio alemão, com o nome de batismo Rickmer Rickmers.
Assim, o Guanabara foi adquirido ao Brasil por um preço de 150.000 dólares. Para o bom sucesso desta compra, muito se ficou a dever a ação empenhada do Dr. Pedro Teotónio Pereira, que na altura era Ministro da Presidência, e um grande amante da vela. O novo navio escola recebeu o nome dos seus antecessores, Sagres, e entrou ao serviço da Marinha Portuguesa a 8 de fevereiro de 1962.
Por vezes, o Sagres III é erradamente chamado de Sagres II, devido ao desconhecimento do público geral da existência de um primeiro navio com este nome. O primeiro Sagres era uma corveta de madeira, construída em Inglaterra no ano de 1858.
Estava fundeada no rio Douro e serviu como navio escola entre 1882 e 1898, altura em que o segundo Sagres iniciou as suas funções.
A principal função do Sagres III é representar a Marinha e o nosso país, fazendo para isso visitas frequentes a portos estrangeiros, como forma de instruir oficiais de armada e como forma de celebrar acontecimentos de grande envergadura.
Também é o apoio direto à ação diplomática dos órgãos de soberania de Portugal, em visitas oficiais de altas entidades do Estado, funcionando como uma espécie de embaixada itinerante.
Ao serviço da Marinha Portuguesa, o Sagres III já deu três voltas ao mundo. A primeira ocorreu em 1978/1979, e a segunda em 1983/1984. A última viagem à volta do mundo foi também a mais demorada. Foi realizada em 2010 e demorou 344 dias, durante os quais o Sagres passou em 31 portos e percorreu quase 73 mil quilómetros.
O porto mais visitado a norte do globo foi o de S. Petersburgo (na altura conhecida por Leninegrado), e a sul do globo, o porto de Ushuaia, na Argentina, foi o mais visitado. Fazendo as contas, no total a Sagres tem 6267 dias passados em missão, o que equivale a 17 anos consecutivos fora de Lisboa e a 580.540 milhas percorridas (o que resulta num impressionante valor de 26,6 voltas ao mundo!).
Como curiosidade, em janeiro de 2020, o navio partiu para uma nova viagem à volta do mundo, que teria uma duração de pouco mais de um ano, como forma de celebrar os 500 anos da circum-navegação de Fernão de Magalhães.
Estava previsto que passasse por 22 portos em 19 países diferentes e que seria a Casa de Portugal durante os Jogos Olímpicos de Tóquio. No entanto, a viagem teve de ser interrompida devido ao COVID-19, regressando o navio a Lisboa a 10 de maio de 2020.
O NRP Sagres é também o navio mais condecorado da Marinha Portuguesa, sendo mesmo o único a ostentar condecorações estrangeiras no respetivo estandarte nacional.
Em 2008, alcançou o Prémio Defesa Nacional e Ambiente, devido ao esforço na redução do impacto ambiental da operação do navio, o que também levou a que lhe tenha sido atribuída a Bandeira Azul e o Boston Teapot Trophy em 2009, e o Blue Flag Scheme da Sail Training International (STI), tornando-se no primeiro grande veleiro do mundo a ser distinguido por esta associação. Para além destas e de outras distinções, o navio é também membro honorário da Ordem Militar de Avis.
O Infante D. Henrique é a figura de proa do NRP Sagres. Foi o terceiro filho de D. João I e ficou para a história como o grande impulsionador dos descobrimentos portugueses. Participou ao lado do seu pai na conquista de Ceuta, em 1415, iniciando-se assim a expansão portuguesa em África. Durante o seu tempo de vida, o nosso país consolidou a sua opção atlântica, sendo por isso a figura ideal para o Sagres III e para o que este representa.
O brasão do NRP Sagres usa a Cruz de Cristo (que está também presente nas velas). Este era o símbolo da Ordem Militar de cristo, da qual o Infante D. Henrique fez parte e foi regente e governador em 1420, tornando possível o início da expansão e dos Descobrimentos Portugueses. Para além da Cruz de Cristo, o brasão da Sagres usa o ramo da carrasqueira (símbolo pessoal do infante D. Henrique), que exprime rusticidade, tenacidade e o desapego pelos bens materiais e honras fáceis.
O astrolábio, apesar de não ser usado no tempo do Infante D. Henrique, representa a ciência e a arte de navegar, que permitiu aos pilotos portugueses chegar a novos portos, continentes e ilhas. Por último, o fundo azul, onde se encontram inscritos a ouro os motivos anteriores, representa o oceano.
Assim, o Navio Escola Sagres continua ao serviço do nosso país, representando-nos enquanto nação e levando os nossos ideais e honras a todo o mundo.
para mim, o navio veleiro mais bonito do mundo é o CISNE BRANCO, da Marinha do Brasil
O CISNE BRANCO é um belo veleiro, não resta dúvida, mas por sua história e imponência o título de mais belo veleiro para o SAGRES III é mais que merecido.