A perseguição e extinção da Ordem do Templo, cujos membros são conhecidos por Templários, marcaram um período conturbado da história europeia. O processo, conduzido por Filipe, o Belo, rei de França, e apoiado pelo Papa Clemente V, resultou no desaparecimento da Ordem e na morte de vários dos seus membros, incluindo o Grão-Mestre Jacques de Molay, em 1314. Os motivos exatos que levaram a este desfecho ainda não são totalmente claros.
A ação contra os Templários teve início em 1308, com uma bula papal que esclarecia a posição da Santa Sé e recomendava a extinção da Ordem. Um ano depois, outra bula ordenava a prisão dos freires de Cristo.
Finalmente, em Março de 1312, foi decretada a anexação dos bens dos Templários e a sua entrega à Ordem do Hospital, ficando esta com as riquezas, terras e navios anteriormente pertencentes aos Templários.
Nem todos os membros da Ordem foram presos. A maioria das detenções ocorreram em território francês, permitindo que muitos cavaleiros escapassem noutros locais.
Alguns historiadores acreditam que se refugiaram na Escócia, Suíça, Portugal e possivelmente em regiões mais distantes. Sob novas identidades, espalharam-se por diferentes países, fugindo à perseguição de que eram alvo.
Um enigma permanece por resolver: o destino da esquadra naval templária. Na noite seguinte à prisão dos cavaleiros em França, toda a frota desapareceu sem deixar registo, nunca mais voltando a ser vista.
Curiosamente, neste mesmo período, D. Dinis nomeava o primeiro almirante português de que há memória, numa época em que Portugal não dispunha de uma armada organizada.
D. Dinis evitou entregar os cavaleiros e os seus bens e, em 1318, fundou a Ordem dos Cavaleiros de Cristo. Esta nova ordem recebeu o património dos Templários em Portugal. Adotando um símbolo inspirado na cruz orbicular templária, os Cavaleiros de Cristo acolheram muitos dos antigos membros da extinta ordem, agora protegidos pelo monarca.
Sobre este ponto, os historiadores não são unânimes. Uns defendem que os Cavaleiros de Cristo eram efetivamente antigos Templários com um novo nome, enquanto outros acreditam serem pessoas diferentes. É, no entanto, certo que herdaram propriedades, fortalezas e os votos de pobreza, castidade e obediência, embora neste caso a obediência fosse ao rei de Portugal.
Nos séculos seguintes, a estrutura da Ordem de Cristo alterou-se. Os seus membros deixaram de estar sujeitos a votos de pobreza e castidade. Desta forma, figuras como Pedro Álvares Cabral, Cristóvão Colombo e Vasco da Gama puderam integrar a Ordem, contribuindo para o desenvolvimento dos Descobrimentos.
Não é por acaso que os navios que chegaram ao Brasil ostentavam a Cruz da Ordem de Cristo nas velas, sinal da importância que a Ordem desempenhou neste período.
Com o saber acumulado pelos Templários, transmitido à Ordem de Cristo, Portugal beneficiou de valiosos conhecimentos de navegação e cartografia. Este legado ajudou a impulsionar a expansão marítima portuguesa, garantindo a soberania sobre novos territórios e uma parte significativa do valor das mercadorias aí obtidas.
A Ordem estabeleceu escolas náuticas, construiu estaleiros e navios, produziu mapas e aperfeiçoou técnicas de navegação, sempre com o intuito de explorar novas rotas e terras desconhecidas.
Entre 1200 e 1600, Portugal desenvolveu um plano de expansão marítima bem-sucedido. Descobriram-se novas ilhas, como a Madeira e os Açores, e ergueram-se postos avançados de comércio e de evangelização.
Sob a liderança de Grão-Mestres como o Infante D. Henrique, Portugal transformou-se num império global pioneiro, impulsionando a primeira etapa da globalização.
Ao longo do século XV, a Ordem de Cristo tutelou os processos de descoberta de novas rotas marítimas e territórios. Após a conquista de Ceuta em 1415, a expansão prolongou-se pela costa africana, culminando na chegada à Índia (1498) e na descoberta do Brasil (1500).
O Tratado de Tordesilhas, em 1494, dividiu os novos territórios entre Portugal e Espanha, formalizando a partilha do mundo recém-explorado.
A Ordem de Cristo manteve um objetivo central: a expansão do Cristianismo. Dedicou-se à construção de igrejas nos territórios descobertos, enviando missionários para evangelizar as populações locais.
Em 1514, foi instituída a Diocese do Funchal, a primeira diocese bem-sucedida fora do continente europeu, abrangendo todos os domínios ultramarinos, reforçando assim o papel da Ordem na internacionalização da fé e no fortalecimento do império português.