Se já foi à Serra da Estrela e subiu à Torre, certamente já viu uma imagem grandiosa, esculpida na pedra, do lado direito da estrada. A estátua impressiona, com a sua grandiosidade, e pela peculiaridade do local onde se encontra inserida. Se já alguma vez se perguntou qual é a origem deste magnífico santuário, deixamos-lhe aqui a história, embora não existam muitas informações disponíveis.
Antes de mais, convém esclarecer de quem é a imagem esculpida na rocha. Trata-se nada mais, nada menos que Nossa Senhora da Boa Estrela, santa protetora dos pastores. A estátua, situada no Covão do Boi, e esculpida em baixo-relevo foi inaugurada em 1946.
O autor da escultura foi o Padre António Duarte, que começou a reparar que havia imensas pessoas a deslocarem-se à Serra em passeio e a subirem ao ponto mais alto, a Torre. Daí, veio-lhe a ideia de que não havia melhor local para esculpir a Nossa Senhora da Boa Estrela, como forma de lhe fazer a devida homenagem num local que seria visto por muita gente todos os anos.
A Senhora da Boa Estrela tem a sua festa, que se realiza no segundo domingo de agosto, e que atrai sempre muitos visitantes. Os fiéis deslocam-se ao altar para ouvir a missa e para depositar as suas flores numa cruz em pedra, feita por um senhor de nome Manuel Figueiredo.
Mas a visita recomenda-se em qualquer altura do ano, já que não só poderá apreciar esta fantástica escultura, como também a vista única que tem a partir daquele altar. Trata-se de uma forma origina de conhecer a Serra da Estrela e que normalmente não faz parte dos roteiros ou dos guias turísticos.
E como é relevante para o enquadramento do porquê do culto a Nossa Senhora da Boa Estrela, deixamos-lhe aqui a lenda do Pastor da Serra da Estrela:
Era uma vez um pastor, que vivia com o seu rebanho numa alta serra no Centro de Portugal. A sua companhia era a natureza e os animais, e fazia da solidão a sua amiga, tal como todos os pastores. Já há muito que tinha trocado a aldeia pelos prados grandes e altos, onde sempre se tinha sentido melhor. Durante o dia, o pastor corria e brincava com os animais.
Quando se sentia cansado, sentava-se e observava a paisagem, num cenário que mudava a cada estação do ano. Já conhecia bem cada som e cada cheiro da serra que era sua.
À noite, com o rebanho recolhido, ainda lhe sobrava tempo de falar de tudo o que lhe apetecia com a sua maior amiga, uma grande estrela, que se erguia imponente e luminosa, bem acima do alto da serra, rodeada por milhares de outras mais pequenas.
Esta estrela era a sua grande confidente e ouvia tudo sem nunca se aborrecer. O pobre pastor procurava sempre aqueles momentos mágicos à noite, onde encontrava paz e entusiasmo para recomeçar um novo dia.
Ora, certa vez, chegou aos ouvidos do rei que nas suas terras havia um pastor que falava com as estrelas. Por curiosidade (ou quem sabe, inveja), mandou chamar o pastor à sua presença, propondo-lhe que trocasse a sua estrela por uma grande riqueza.
Mas o pastor disse que não trocaria a sua amiga por riqueza alguma deste mundo ou do outro, e que preferia ser pobre, mas continuar feliz. O rei ficou desapontado, mas acabou por compreender as suas razões, e mandou-o embora em paz.
Assim que o pastor chegou à sua cabana, no alto da serra, e mal anoiteceu, foi ter com a sua amiga estrela. Desta vez, no entanto, foi ela a confessar os seus receios.
Cantando uma doce melodia, a estrela disse que, por momentos, pensou que o pastor a tivesse trocado pelo dinheiro do poderoso rei. Mas o pastor sossegou-a e disse-lhe que a sua amizade era a mais preciosa das coisas.
Em alta e profética voz, deu o seu nome àquela que era também a sua serra: a Serra da Estrela. Ainda hoje se diz que, na serra, uma estrela diferente das outras brilha à procura do seu pastor.