No alto da Serra de Monchique, entre a vegetação e o silêncio da montanha, ergue-se o que resta do Convento de Nossa Senhora do Desterro. Fundado no século XVII por um nobre português em cumprimento de uma promessa, este convento franciscano foi, em tempos, um local de contemplação e recolhimento.
Hoje, as suas ruínas contam uma história de esplendor, abandono e mistério, tornando-o num dos locais mais intrigantes do Algarve.
A história do convento começou em 1631, quando D. Pero da Silva, fidalgo português e futuro Vice-Rei da Índia, o mandou construir em agradecimento por um desejo cumprido.
Durante séculos, o convento foi um centro espiritual e cultural de grande importância para a região. Os monges franciscanos que ali viveram dedicavam-se à oração, à agricultura e à produção de mel e licores, aproveitando os recursos naturais da serra.
Uma das suas grandes atrações era uma magnólia centenária, cuja copa se erguia imponente no claustro do convento. Diz-se que esta árvore foi trazida da Índia por D. Pero da Silva, tornando-se um símbolo da ligação do convento ao mundo de além-mar. No entanto, com o passar dos anos e a falta de conservação, a árvore acabou por sucumbir, tal como o próprio edifício.
A extinção das ordens religiosas em 1834 ditou o início do declínio do Convento de Nossa Senhora do Desterro. Sem monges para cuidar dele, o edifício foi sendo saqueado e gradualmente abandonado. Os belos azulejos que adornavam as suas paredes foram retirados, as estruturas desmoronaram e a natureza começou a reclamar o espaço.
Apesar disso, o convento nunca esteve completamente desabitado. Durante anos, serviu de abrigo a pastores e a moradores temporários, mas hoje há apenas um habitante solitário que resiste entre as ruínas, protegendo o que resta do passado. Este último guardião do convento vive sem eletricidade nem água canalizada, rodeado por muros que desabam lentamente.
Embora se encontre em ruínas, o Convento de Nossa Senhora do Desterro continua a atrair visitantes curiosos e aventureiros que se dispõem a enfrentar o caminho íngreme que ali conduz. Não há sinalização oficial nem acesso facilitado, mas quem se aventura encontra um local envolto numa atmosfera mística, onde o tempo parece ter parado.
A partir do convento, a vista panorâmica sobre Monchique e as terras algarvias é deslumbrante. A sensação de isolamento e a proximidade com a natureza fazem deste um local ideal para quem procura um refúgio longe do turismo de massas algarvias.
O futuro do Convento de Nossa Senhora do Desterro permanece incerto. A sua classificação como património histórico poderá abrir portas à sua recuperação, mas, até ao momento, os esforços para a sua preservação têm sido escassos.
O edifício continua a degradar-se, vítima do tempo e da indiferença, mas a sua história resiste nas memórias de quem o visita e na paisagem que ainda o acolhe.
Num Algarve dominado pelo turismo de sol e praia, o convento representa um lado mais esquecido da região: o do seu património cultural e religioso que lentamente se vai perdendo.
Resta saber se haverá ainda esperança para este tesouro oculto da Serra de Monchique ou se, como tantos outros monumentos abandonados, acabará por desaparecer sem deixar rasto.
Para os que desejam conhecer um Algarve diferente, o Convento de Nossa Senhora do Desterro continua lá, à espera de quem o descubra. Talvez, entre as suas ruínas silenciosas, ainda se ouçam os ecos das preces dos monges que ali viveram há séculos.