No coração do Alentejo ergue-se um dos templos mais peculiares e intrigantes da região: a Capela do Calvário, também conhecida por Capela de Santa Maria Madalena ou Igreja das Pedras.
Mais do que um local de culto, esta capela tornou-se o símbolo maior de Ferreira do Alentejo, fascinando quem por ali passa com a sua aparência singular.
A característica que a torna verdadeiramente única é a cobertura exterior adornada com pedras de diferentes tamanhos. Estas saliências, dispersas pelas paredes brancas da capela, tornam-se mais densas à medida que se aproximam da cúpula e culminam no lanternim que coroa o edifício.
Mas qual será a razão por detrás deste pormenor arquitetónico tão invulgar?
A origem das pedras que adornam a Capela do Calvário está envolta em mistério e teorias populares. Uma das crenças mais difundidas sugere que representam o apedrejamento de Jesus no caminho para o Calvário, embora não existam registos bíblicos deste episódio.
Outra interpretação, igualmente popular, relaciona as pedras com Maria Madalena, evocando a sua salvação da sentença de apedrejamento por adultério.
Para além destas duas versões, existe ainda uma terceira hipótese levantada pelo historiador José Hermano Saraiva, que associou as pedras aos espinhos da coroa de Cristo. Destacou ainda um pormenor curioso: na parte inferior da capela, algumas pedras seguem um alinhamento que parece formar o número cinco, possivelmente em referência às cinco chagas de Jesus.
Por fim, há quem defenda que as pedras representam, na verdade, uma metáfora do Monte Calvário, onde Cristo foi crucificado. Nesta leitura, as pequenas pedras dispersas pelo exterior da capela seriam uma alusão às rochas da colina sagrada, enquanto a cruz de ferro que se ergue no topo do templo corresponderia ao local da crucificação.
Apesar do seu carácter singular, a Capela do Calvário não está sozinha nesta tradição arquitetónica. A poucos quilómetros, em Beringel, encontra-se a Capela do Calvário das Pedras Negras, que apresenta uma decoração exterior semelhante e é igualmente dedicada a Santa Maria Madalena.
O historiador de arte Túlio Espanca sugere que ambas as capelas poderão ter sido inspiradas numa ermida mais antiga, construída em Beja e demolida no início do século XX.
Independentemente da sua origem, a Capela do Calvário continua a despertar a curiosidade de visitantes e historiadores, mantendo viva a aura de mistério que a envolve.
Uma visita à Capela do Calvário é apenas o ponto de partida para explorar Ferreira do Alentejo e os seus arredores. O património da vila reserva outras surpresas, como a imponente Igreja da Senhora da Conceição e a Igreja Matriz, dois testemunhos da riqueza histórica da região. O Museu Municipal possibilita ainda um olhar aprofundado sobre a cultura e as tradições locais.
Para quem pretende mergulhar nas raízes agrícolas do Alentejo, o Lagar do Marmelo propõe visitas pedagógicas que mostram o processo de produção do azeite, enquanto a Herdade do Vale da Rosa revela os segredos das afamadas uvas sem grainha que fazem as delícias dos apreciadores.
Nenhuma visita ao Alentejo fica completa sem saborear a sua gastronomia. Ferreira do Alentejo é o local perfeito para provar os pratos típicos da região, com especial destaque para as iguarias de porco preto. A doçaria conventual também merece atenção, com o emblemático bolo Fidalgo a figurar entre as tentações que não devem ser ignoradas.
Para os adeptos da natureza, a Lagoa dos Patos, próxima da Albufeira da Ribeira de Odivelas, proporciona um cenário idílico para passeios tranquilos. Já a pequena povoação de Peroguarda, conhecida entre os locais como “a mais alentejana das aldeias”, encanta pela sua autenticidade e tradições bem preservadas.